Hyde foi escrito por Daniel Levine no ano de 2014 e lançado no Brasil pela Editora Record em 2016. O livro traz uma nova história dentro do universo criado pelo autor escocês Robert Louis Stevenson, que publicou O Médico e o Monstro originalmente em 1886, uma obra com elementos de terror e ficção científica.

SOBRE O LIVRO:

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A premissa do livro é trazer a tona uma das maiores duplas, o renomado Dr. Henry Jekyll e seu monstro interior Mr. Hyde. Diferentemente da versão original de O médico e o monstro escrito por Robert Louis Stevenson, a história dessa vez é narrada e vista pelo outro lado da alma de nosso querido doutor. Enquanto Henry está adormecido nas profundezas de seu próprio monstro, Mr. Hyde nos leva a conhecer a sua visão sobre si, sobre Jekyll e sobre todos aqueles em quem acreditávamos por julgá-lo um monstro cruel.

“A ‘morte’ de Jekyll, ou o seu mais profundo silêncio são realmente as chaves da liberdade de Hyde?”

Adormecido e aprisionado no corpo do médico durante 36 anos, Hyde é capaz de ouvir os pensamentos, vivenciar e sentir as mesmas emoções de seu “criador” e se sente parte responsável em discernir o que é bom e o que é mal, o quanto sua vida depende da de Jekyll (e vice e versa) e o quanto ele pode ser o verdadeiro herói de toda a vida confusa de seu fiel e louco criador.

Narrando com ênfase não só a vida dos personagens principais, a história nos leva a conhecer melhor personagens já consagrados como Utterson, a pequena protegida de Mr. Hyde na sombria Londres, a velha “bruxa” misteriosa e o fiel mordomo do Dr. Jekyll, Poole. Eles são descritos e observados de forma a tornar todo o misterioso convívio de dois seres em um só corpo e em duas vidas tão diferentes algo imprevisível nas profundezas da mente de nossos anfitriões.

MINHA OPINIÃO:

Sendo uma fã de mistérios e narrativas que envolvem mais do que um ser humano comu,m mas também todo o mistério que ele traz consigo fiquei encantada pela narrativa durante os primeiros momentos.

Conhecer a perspectiva de um personagem consagrado por ser um vilão frio e calculista de uma forma tão diferente é sem dúvida algo irresistível. A narrativa do autor é descritiva e nos leva a entrar não só no cotidiano confuso de nossos dois protagonistas, mas também em seus lares, mentes e corações.

“Com a vida de Jekyll por um fio Hyde se vê cada vez mais longe de seu eu exterior e cada vez mais próximo de se tornar de fato seu próprio ‘Eu Comandante’.”

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Apesar de ser uma leitura não tão fluida e ter tido alguns problemas quanto a temporalidade da narrativa, acredito que o intuito do autor tenha sido alcançado levando o leitor a conviver com uma realidade antes não experimentada, e a qual não poderia ser menos ou mais explicita. Tendo realizado a leitura original após a leitura da segunda história pude ter uma visão melhor dos fatos que antes me surpreenderam ou confundiram em alguns momentos da narrativa, o que acredito, apesar das “dificuldades” ter sido tão inovador quanto a visão do autor. Mas acho que se você tiver lido O Médico e o Monstro antes também vai desfrutar de uma ótima experiência ao voltar ao universo originalmente criado por Stevenson.

A edição e a divisão dos capítulos cria uma atmosfera misteriosa e ao mesmo tempo que parece ser descontínua, consegue interligar as visões não só dos protagonistas mas de todos os demais personagens às situações relatadas de forma coerente e completa.

Acredito que todo o cuidado do autor em manter o clima sombrio da narrativa original, mesmo que de uma perspectiva diferente, da ao leitor confiança para embarcar na leitura sem medo de se decepcionar ou de questionar em como os vínculos já criados com o enredo original seriam construídos, comparados ou até substituídos.

Guiados por Levine somos conquistados por nosso novo herói no coração da sombria Londres e aos poucos chegamos realmente a nos perguntar o quanto Jekyll era culpado pela própria vida e o quanto Hyde era inocente sobre a própria crueldade. Hyde, portanto, é uma visão nova sobre um clássico que vem intrigando gerações e dá um nova visão para a história, mudando a perspectiva de quem conta a história, nos possibilitando um novo olhar.

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Henry Jekyll está morto. Balbucio estas palavras e então me mantenho alerta, como se deixasse cair uma pedra em um poço e aguardasse o baque e o respingo de água… Contudo, dentro de minha cabeça resta o silêncio. Ao meu redor, um coro de sons de comemoração preenche o vazio: o estalido do carvão no fogão, o ranger do gabinete de madeira, como o de uma nau antiga, e, para além das janelas, um ruído baixo e agudo, que lembra filhotes de passarinho.

Sento-me na cadeira de Jekyll, ao lado destas três janelas de caixilhos incrustados, com seu sobretudo embolado jogado em seus ombros como um casaco de viagem. Fim da minha jornada. A transformação nunca foi tão suave. Nenhuma náusea nem tontura, nenhuma dor. Só uma dissolução sutil: Jekyll se evaporando no ar, como partículas atômicas, e me deixando sozinho no corpo. Desta vez, para sempre.

 

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