Melanie: A Última Esperança, ou She Who Brings Gifts, é um filme britânico, dirigido por Colm McCarthy, lançado em 2016 e disponível atualmente no catálogo da Netflix. O longa é baseado na distopia pós apocalíptica A Menina Que Tinha Dons, do autor M. R. Carey.
Começamos acompanhando Melanie (Sennia Nanua), uma garota que vive numa espécie de prisão. Todos os dias ela aguarda os guardas chegarem até sua cela, onde ela é amarrada a uma cadeira de rodas e levada até uma sala de aula, onde encontra outras crianças como ela.
De muitas maneiras, Melanie parece uma garota comum. Ela é esperta, bem educada, participativa nas aulas e cativou a afeição de sua professora, a Sra. Justineau (Gemma Arterton). É aí que nos questionamos, por que essas crianças estão sendo tratadas dessa forma tão desumana? A verdade é que elas não são crianças comuns. Durante uma aula, a Sra. Justineau toca na cabeça de Melanie e logo é repreendida pelo sargento Eddie Parks (Paddy Considine) que faz uma demonstração que surpreende a todos.
Melanie marca algo totalmente novo neste mundo: um zumbi com consciência. Nessa história, existem os zumbis, como estamos acostumados a ver em filmes: eles são seres infectados por um fungo, que compromete o cérebro e se espalha a partir da mordida de outro zumbi.
Além deles, existem crianças como Melanie (chamadas de abortados) que, por alguma razão, o fungo não é capaz de dominar o cérebro completamente, vivendo numa espécie de simbiose, permitindo ainda que o hospedeiro tenha pensamentos lógicos e se comunique com as pessoas. Na ausência de uma loção que os adultos usam para disfarçar o cheiro, essas crianças mostram sua verdadeira natureza e atacam.
Logo percebemos que eles estão num búnquer e que se trata de uma operação militar para estudar essas crianças. A pesquisa é conduzida pela Dra. Caroline Caldwell (Glenn Close), na esperança de que eles possam encontrar o antídoto para essa doença que parece estar assolando a espécie humana.
Melanie não sabe muito bem quem é e o que acontece ao seu redor, e após perceber que a Dr. Caldwell escolhia as crianças para serem levadas com base nas perguntas que fazia, ela escolhe ser a próxima para descobrir o que está por traz desse mistério todo. Ela então é conduzida para um laboratório e está prestes a ser dissecada pela Dr. Caldwell quando a instalação é invadida.
O pequeno grupo de sobreviventes é forçado a viajar para outra cidade-santuário na esperança de que ela ainda seja governada por pessoas que não se tornaram zumbis. Melanie vai com eles e se mostra bastante útil, já que seus companheiros zumbis não a incomodam. A Sra. Justineau insiste em tratá-la mais como uma protegida do que como uma predadora em potencial (seu negacionismo é extremamente incômodo por sinal). A Dra. Caldwell, a vê como um espécime útil de laboratório, enquanto os soldados a veem como uma inimiga poderosa e prestes a atacá-los.
Enquanto o aspecto assustador da maioria dos filmes de zumbis é a maneira como eles transformam seres humanos em um ser irracional, carnívoro e grotesco, “Melanie: A Última Esperança”, inverte essa fórmula ao transformar um zumbi na estrela do show e dar a ele o rosto inocente de uma criança.
Ainda assim, o filme recorre a alguns ingredientes clichês do gênero, incluindo cenas de sobreviventes passando na ponta dos pés pelos zumbis enquanto eles ficam parados em um estupor sem noção (e logicamente, alguém coloca tudo a perder). Há também aqueles momentos em que personagens secundários acabam sozinhos em lugares sombrios e onde, obviamente, serão surpreendidos e atacados.
A fragilidade da fronteira entre nós e eles é provavelmente o destaque desse filme. Quando a crise chega, enviando a equipe a uma jornada perigosa, o longa se transforma em um ambiente familiar. Cenas com Melanie saindo para comer carne e procurando uma solução para os outros se alternam com debates filosóficos.
O roteiro do filme se concentra cada vez mais na dinâmica interpessoal dentro do grupo enquanto eles fazem seu caminho. Cenas de Melanie em uma máscara estilo Hannibal Lecter, amarrada ao teto de um veículo militar, combinam horror e descontração. Em alguns momentos, encontros com outros de sua espécie lembram o tribalismo visceral de O Senhor das Moscas, mostrando como a consciência se desenvolve na ausência de adultos, sendo movida simplesmente por instinto.
A atuação de Sennia Nanua salta aos olhos: e seu retrato convincente de uma jovem inteligente, cativante e bem-humorada é a chave para a eficácia do filme. Um futuro brilhante claramente a aguarda, pois além de se garantir em meio a um elenco tão experiente, gera simpatia por parte dos expectadores, mesmo quando sua presença traz caos e confusão.
Um outro ponto forte do filme é a estética baseada no ambiente pós apocalíptico, com paisagens vazias e edifícios conhecidos tomadas pelo fungo causador da doença. Isso fica ainda mais evidente quando a equipe é forçada a sair da segurança do búnquer e se arriscar no mundo lá fora. Há um impacto emocional no horror e na ação de Melanie: A Última Esperança que ressoa, uma vez que os personagens e o cenário parecem reais para nós.
O final é bastante ousado, mas a meu ver deixou um pouco a desejar. Eu fiquei com a sensação de que não é nem o melhor nem o pior filme de ficção científica que eu já assisti, sendo bem aquele meio termo, mas que com certeza irá inspirar outros filmes do gênero.
Se você gosta de filmes com zumbis, ou ainda histórias que abordam temas filosóficos e sociais com aquela pitada de apocalipse, vale a pena conferir Melanie: a última esperança e tirar suas próprias conclusões.
Aproveite e leia também a resenha de A Menina Que Tinha Dons, livro que deu origem ao filme.
MELANIE: A ÚLTIMA ESPERANÇA
Diretor: Colm McCarthy
Elenco: Gemma Arterton, Glenn Close, Paddy Considine, Sennia Nanua e mais
Ano de lançamento: 2016
Em um futuro próximo, um estranho vírus transforma pessoas em insaciáveis zumbis. Cientistas encontram uma menina que pode salvar o futuro da humanidade.
