“Não li, não, eu vi o filme”. Está aí uma frase que deixa qualquer leitor já um pouco nervoso. Afinal, a vontade é sempre dizer que “no livro é diferente”, “o livro é mais completo”. Mas todos temos que admitir que, sim, às vezes o filme é melhor.

É importante lembrar que uma adaptação tem que ser boa por si só: capturar a essência do conteúdo que tem como base é importante, mas, na minha opinião, saber trabalhar uma história em outro formato vai muito além de apenas retratar cenas que já haviam sido escritas. Por isso, hoje trouxe 3 adaptações, que, para mim, funcionaram até melhor do que os materiais que as originaram.


TRILOGIA PARA TODOS OS GAROTOS QUE JÁ AMEI (2018-2021)

A Netflix já teve sua cota de “bolas fora” quando se trata de adaptações, eu sei. Mas Para todos os garotos (2018, Susan Johnson) que eu já amei se tornou um filme conforto imediato para mim logo na primeira vez que assisti. Inclusive, apesar de amar a série de livros de Jenny Han quando adolescente, com o passar do tempo reconheci vários problemas na sua estruturação, que eu realmente acho que os filmes resolvem.

Nessas histórias acompanhamos Lara Jean, uma garota muito romântica e superligada à família, mas que tem o sério problema de ter um crush no (agora ex) namorado da irmã mais velha, Josh. Sua tática para se livrar de uma paixonite sempre foi a mesma: escrever uma carta para o menino da vez confessando todos os seus sentimentos e escondê-la no fundo do armário. Tudo vai bem até que essas cartas de repente encontram seus destinatários, inclusive Josh, e Lara Jean se vê metida em um relacionamento falso com o esportista popular da escola Peter Kavisnky (que também recebeu uma carta).

Eu sou a primeira a dizer que o roteiro é muito pouco fiel à trama dos livros. Mas, como eu disse acima, acho que às vezes esse pode não ser um ponto tão essencial. Porque a história de Lara Jean brilha no formato clássico de comédia romântica adolescente, em longas que exploram o tom nostálgico de obras como 10 coisas que eu odeio em você (1999) e Diário da Princesa (2001). Não só eu acredito que as mudanças estruturais na histórias foram bastante benéficas, como vários aspectos que no livro eram pano de fundo foram melhor desenvolvidos, como a relação de Lara Jean com as irmãs e seus amigos (esses últimos mal existentes na trilogia original). E lógico que o crédito de grande parte disso vai para as escolhas de elenco, todas perfeitas, mas com destaque para Lana Condor, impecável como nossa protagonista doce e atrapalhada, e o eterno boy Netflix Noah Centineo, entregando tudo como Peter.

DUNA (2021)

Depois da adaptação dos anos 80, eu entendo que esse seja um tópico sensível para fãs da saga. Tendo em mente que eu não sou nem um pouco o público alvo do livro Duna (1965, Frank Herbert), entretanto, e que tive bastante dificuldade em sequer terminar a leitura, talvez não seja uma surpresa dizer que a adaptação de 2021 com direção de Denis Villeneuve me manteve muito mais interessada e entretida.

Aqui vemos essencialmente o nascimento de uma lenda. Paul Atreides é filho de um nobre designado, por maquinações políticas, a governar Duna, um planeta em que àgua é um item quase inexistente. Entre os desafios naturais e sociais do novo planeta e conspirações políticas de todas as ordens, Paul e sua mãe, Jessica, se vêem intrinsicamente ligados a mitos e profecias que mudarão a vida de todos.

Com um elenco de peso (Timothée Chalamet, Rebecca Ferguson, Oscar Isaac, Zendaya e muitos outros) que entrega uma performance acima da média, Duna se propõem nesse primeiro filme a adaptar a metade inicial do livro. Isso para mim já é um ponto positivo, pois foi minha parte favorita da narrativa, mais focada nas intrigas e menos no aspecto religioso de Paul. Com um material tão denso por base, era inevitável que uma adaptação deixasse os pormenores de lado, mas o longa faz um bom trabalho de transmitir a complexidade do universo criado sem ser confuso com um excesso de nomes. Os efeitos visuais ficaram realmente incríveis, tornando a experiência muito imersiva, e, por último, o filme faz um trabalho melhor em nos aproximar de Paul e construir suas relações com outros personagens, algo que senti muito distante e robótico no texto original.

ADORÁVEIS MULHERES (2019)

Sou suspeita para falar porque esse é meu filme favorito da vida, mas eu não esperava isso tendo lido o clássico de Louisa May Alcott (1868). Eu tinha algumas questões com o andamento, ritmo, e, sinceramente, com a mensagem às vezes um pouco religiosa demais, e apesar de achar fofa não tinha um apego especial pela história das irmãs March. Mas tudo isso mudou com o longa de Greta Gerwig.

Adoráveis Mulheres (ou Mulherzinhas) acompanha as quatro irmãs March, meninas que se tornam mulheres na frente do leitor no pós-Guerra da Secessão, nos EUA. E nada de excepcional acontece; é sobre as relações entre as quatro, entre elas e a mãe, entre elas e o vizinho rico, Laurie, entre elas e o mundo, cheio de expectativas para jovens moças.

Mais uma vez preciso ressaltar que a entrega do elenco já dá uma vantagem enorme para essa história tão simples em sua essência. Saoirse Ronan (Jo), Florence Pugh (Amy), Emma Watson (Meg) e Eliza Scanlen (Beth) são um espetáculo constante, sozinhas ou juntas, e os nomes de apoio brilham na medida certa. Mas acima de tudo, eu acho essa a adptação perfeita por capturar o tom familiar aconchegante do conteúdo original, incluir na narrativa, na medida do possível, um discurso feminista mais moderno, e potencializar a trama. Ao balancear as duas metades do livro com duas linhas narrativas alternantes, roteiro e direção trazem o melhor de Adoráveis Mulheres: o alegre e o triste, aquilo que aquece o coração e aquilo que o parte.

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