As Palavras Voam é uma antologia poética organizada por Bartolomeu Campos de Queirós com poemas de autoria de Cecília Meireles. O livro foi publicado em 2020 pela Global Editora.

Sobre o livro

O organizador escolheu poemas que foram publicados em várias obras de Cecília Meireles entre os quais Retrato Natural, Vaga Música, Dispersos, Ou Isto ou Aquilo etc. Outrossim, não foi definido um tema central que norteasse o livro e, isso me faz crer, que a ideia era entregar ao leitor um recorte da obra produzida por Cecília.

A poeta soube, como ninguém, que o homem é verbo  e sua vida é conjugável: é passado, é presente, é futuro. Por ser assim, sua escritura não tem idade. 

Trecho da apresentação de Bartolomeu (pág. 10).

A apresentação escrita por Bartolomeu deixa entrever a fascinação dele pelos poemas de Cecília. Não só os poemas, mas a vida de Cecília merecem destaque já que foi uma mulher que se sobressaiu em tudo o que fez devido a sua paixão e zelo.

Desta forma, Bartolomeu apresenta e compartilha cerca de 40 poemas de Cecília Meireles, com intuito de fascinar também a nós, leitores.

Minha opinião

Confesso que Cecília ainda não é a minha queridinha, mais por deficiência minha que dela. Acho que não tenho bagagem suficiente para compreendê-la por completo, mas tem um poema que me acompanha desde a adolescência chamado Lua Adversa, que a faz ter um cantinho cativo no meu coração. Claro que tem um ou outro poema dela que levo comigo, mas como não estão nessa edição não faz sentido comentar.

Durante a leitura senti que estava um pouco perdida. Acho que teria sido mais vantajoso ir direto na fonte que ler algo selecionado por outra pessoa, já que o organizador não se preocupou em dividir em temas e, por isso, os poemas ficaram dispostos de maneira muito aleatória. De qualquer forma, serviu ao seu propósito, ou seja, apresentar um pouco da poeta aos leitores.

LUA ADVERSA

Tenho fases, como a lua,
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua…
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.


Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.
E roda a melancolia
seu interminável fuso!


Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua…).
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua…
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu…


Vaga música (1942)

Os poemas selecionados para esta edição falam de amor, decepção, perda, inseguranças, a passagem do tempo entre outros. Todos eles recheados de simbolismo e musicalidade. Os poemas de Cecília possuem um ritmo que contagia quem lê.

Apesar de livro ter poucas páginas, o melhor é ler vagarosamente por causa da simbologia. Pode ter um ou outro poema mais complexo, mas isso não significa que a leitura será impossível de entender.

Conhecendo um pouco da história de Cecília fica mais fácil entender seus poemas. Cecília perdeu o pai antes de nascer e a mãe aos três anos de idade sendo criada pela avó e uma babá. Por ser descendente de Açores, era regada com lendas e histórias daquela região o que fomentou a sua imaginação.

Cecília teve muitas perdas na vida. Além dos pais em tão tenra idade, Cecília perdeu ainda o primeiro marido, que depois de longa depressão se suicidou deixando-lhe o encargo de cuidar das filhas sozinhas.

INIBIÇÃO

Vou cantar uma cantiga,
vou cantar – e me detenho:
porque sempre alguma coisa
minha voz está prendendo.


Pergunto à secreta Música
porque falha o meu desejo,
porque a voz é proibida
ao gosto de meu intento.


Pergunto à secreta Música
porque falha o meu desejo,
porque a voz é proibida
ao gosto de meu intento.


E em perguntar me resigno,
me submeto e me convenço.
Será tardia, a cantiga
Ou ainda não será tempo…

Infelizmente, pouco tempo depois, acaba por perder ainda a avó, ficando só. Devido as dificuldades financeiras, ela teve que se desdobrar para suprir as necessidades das crianças. Além de lecionar, inclusive em outros países, foi jornalista e tradutora.

As perdas sucessivas acabaram por influenciar a vida e a escrita da autora. Sendo perceptível em sua obra a urgência de viver e não ter o amanhã por garantido. Segue abaixo o vídeo do programa da Editora Fiocruz que aborda a vida e obra da autora além da declamação de alguns de seus poemas. Vale a pena assistir para entender melhor o seu legado.

AS PALAVRAS VOAM

Autor: Cecília Meireles

Editora: Global editora

Ano de publicação: 2020

Sinopse

Os poemas deste livro foram selecionados e organizados por Bartolomeu Campos de Queirós, escritor, que como Cecília Meireles, também conhecia o encantamento que as palavras produzem. No prefácio, o poeta comenta: Movida, assim, me parece, pelo afeto e respeito que promovem a dignidade do sujeito, ela não se esqueceu do tamanho do tempo. Cecília Meireles se expressou de maneira sofisticadamente simples. Daí sua poesia se tornar propícia a todos, inaugurando vários níveis de leitura, como convém à literatura. (…) soube como ninguém, que o homem é o verbo e sua vida conjugável: é passado, é presente, é futuro. Por ser assim, sua escritura não tem idade.

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