A Academia Brasileira de Artes define fotografia no cinema como o “elemento que diz respeito à captação das imagens do filme. Ou seja, tudo relacionado ao visual da obra: a iluminação, as cores, os enquadramentos e movimentos de câmera, a composição da cena, etc.”. Ás vezes, o trabalho da fotografia é ser sutil e apenas potencializar a história. Em outras obras, a fotografia é quase palpável.

É possível mudar o tom de uma história com o aspecto visual tanto quanto com as palavras que compõem o roteiro. Por isso, aqui vão 3 filmes para quem quer assistir algo de arregalar os olhos e realmente sentir o movimento da câmera te guiando pela trama.


Eu, Tonya (2017)

O longa de Craig Gillespie trouxe para as telas a vida da polêmica patinadora artística dos anos 1990 Tonya Harding. O roteiro de Steven Rogers abrange desde o momento em que Tonya começou a patinar, aos 3 anos, até o final dramático de sua carreira. O resultado é uma combinação dos altos e baixos de sua trajetória como patinadora, sua dificuldade em se conformar às expectativas do esporte e sua vida pessoal extremamente conturbada.

Entre as várias polêmicas reais abordadas pelo filme e a atuação brilhante de Margot Robbie (Tonya, indicada ao Oscar de Melhor Atriz pelo filme), Allison Janney (LaVona Golden, mãe de Tonya, vencedora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante) e Sebastian Stan (Jeff Gillooly), o que se tem é um filme vibrante, para o bem ou para o mal. Não dá para não se enfurecer com cada uma das personagens, e Tonya desperta um misto de emoções opostas constantemente: ela sofre muito, mas toma decisões complicadas; ela é vítima; ela é teimosa; ela é fora da realidade; ela é corajosa.

A indicação ao Oscar de Edição de Imagem é muito merecida, e a fotografia traz um elemento todo especial. O filme é bruto, com sequências de tirar o fôlego, mas também intimista. O enquadramento e todo o caminho visual sempre te leva de volta aos personagens, prendendo o espectador em seus dramas e emoções. Mas é inegável que o momento em que a fotografia mais brilha são as cenas de patinação; Nicolas Karakatsanis, diretor de cinematografia, realmente fez mágica ao trazer a magia do cinema e todo o seu potencial visual para dentro do ringue de patinação, um esporte já tão lindo e minucioso por si só. É realmente de tirar o fôlego.

Alerta de gatilho: violência doméstica.


Cidade de Deus (2002)

O clássico do cinema nacional, de direção de Kátia Lund e Fernando Meirelles, dispensa grandes apresentações. Na trama acompanhamos a vida na favela da Cidade de Deus, sua expansão e transformação naquilo que conhecemos hoje, em paralelo à vida de Buscapé, um menino que cresce com medo de ter um destino trágico em meio ao crime, e a de Dadinho/Zé Pequeno que mergulha de cabeça desde cedo na violência.

Sucesso de público e crítica, o longa arrebatou 4 indicações ao Oscar em 2003: Melhor Direção (Fernando Meirelles), Melhor Roteiro Adaptado (Bráulio Mantovani), Melhor Montagem (Daniel Rezende) e Melhor Fotografia (César Charlone). Com personagens que trazem à vida arquétipos sem perder o realismo e a complexidade, o filme atua como denúncia da realidade nas comunidades e da desigualdade social, expondo sem papas na língua os ciclos de violência sempre realimentados.

E se o Oscar indicou, quem sou eu para discutir? A fotografia aqui é brilhante, ousada, intencional. O jogo de luz e ângulos adiciona significado à violência em tela, traz vulnerabilidade quando precisa. É quase poético, e vale cada segundo.


The Batman (2022)

Puxando agora para um cinema mais “pipoca”, a estreia de Robert Pattinson como o morcego trouxe um sopro de vida para o personagem (e para a DC). Matt Reeves traz o Batman de volta para seu lado sombrio em um filme de herói que mais flerta com o policial e o suspense psicológico, em uma Gotham beirando o aterrorizante, dessa vez para encarar o clássico vilão Charada.

The Batman é tenso. São três horas de pura tensão, com atuações intensas e reviravoltas. Um vilão genial ao mesmo tempo em que anda no limiar da lucidez (mas que finalmente não é o Coringa) interage com um protagonista pouco equilibrado emocionalmente, construindo uma trama surpreendente com cenas de arregalar os olhos.

E esse é um dos perfeitos exemplos de fotografia que é impossível passar despercebida. O longa inteiro é escuro e cheio de ângulos, e a escuridão faz parte da história, dentro e fora dos personagens. A forma como cada cena se constrói é impactante, e o alternar entre proximidade da câmera e planos mais amplos ainda brinca com a contraluz de um jeito incrível.

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