Primeiros Contos de Truman Capote foi lançado em 2016 pela editora José Olympio, e traz, como o próprio nome explicita, os primeiros contos do renomado autor Truman Capote, encontrados em 2013 na Biblioteca Pública de Nova York.

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Minha Opinião

Eu, particularmente, sou um grande fã de contos, ao ponto que alguns de meus autores favoritos, como os argentinos Jorge Luis Borges e Adolfo Bioy Casares. O conto permite e propicia ao autor uma capacidade incrível de encapsular em um curto intervalo toda uma fascinante passagem da vida deste ou daquele personagem, com todas as nuances e intervalos que podem e precisam ser contados. Contos costumam ser enxutos, curtos e com a exata e necessária carga para atiçar a curiosidade do leitor pelas demais obras do escritor.

Mais que isso, o conto permite ao autor uma oportunidade de diversificar sua gama narrativa, ao demonstrar variedade de tons, nuances e estilos – que um romance raramente propicia. Como algumas das antologias de Edgar Allan Poe que trazem contos de suspense, mistério, horror e até de certa gama dramática e poética (como o brilhante ‘O Corvo’). Ou contos com uma única temática como Noturnos de Kazuo Ishiguro.

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Enquanto leitor, não é possível falar de contos sem destacar suas vantagens estilísticas, uma vez que são histórias curtas o suficiente para numa viagem de ônibus ou um intervalo de almoço, além da opção de simplesmente pular uma história que não prende a atenção, sem perder conteúdo do livro (e/ou o fio da meada da história maior).

Truman Capote, que talvez seja mais conhecido pela obra Bonequinha de Luxo (que tem uma bela adaptação com Audrey Hepburn) ou o romance jornalístico À sangue frio, ou talvez pelo filme biótico estrelado por Philip Seymour Hoffman em Capote de 2005 – que conta a história por trás da produção de À sangue frio. Ainda que bastante conceituado, premiado e famoso (o autor dá nome a um conceituado prêmio de crítica literária), os primeiros contos coletados nessa obra dificilmente justificam isso.

Perdão pelo tom altamente crítico, mas ainda que fluídos e bem escritos eles não carregam exatamente uma qualidade ou estilo únicos. Alguns episódios são meras crônicas tão mundanas e cotidianas que é difícil se envolver com a história e seus personagens como o exemplo de  Hilda (que sabe-se lá porque foi dividida em seis partes contínuas) que conta a história de uma garota chamada à sala do diretor.

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Histórias como A Senhorita Belle Rankin, Lucy, Isto é para Jamie ou A Loja do Moinho são bastante inócuas. Já conto Despedida que traz a história de dois mendigos perambulando pelos EUA dos anos 20 com o dilema da perda de dez dólares (considerando inflação e outros fatores, é verdade que esse dinheiro seria o equivalente a uns duzentos dólares hoje), e, ainda que a história tente inserir um senso emotivo comum, tentando expor as mazelas desta gente invisível aos olhos da sociedade como problemas iguais aos de todos os outros (que querem ver suas famílias, ter boas refeições e encontrar a felicidade), também parece bastante comum comparando com obras semelhantes de outros autores.

Pegue um Charles Bukowski que com conhecimento de causa retrataria a vida de mendigo com realismo e naturalidade (o que inclui profanidades, diálogos mais naturais e anedotas mais contundentes), ou um John Steinbeck que faria uma bela alegoria sobre a condição humana, quiçá traçando os paralelos e dicotomias destes humildes e miseráveis com o dos grandes capitalistas (atraindo assim sua atenção).

Nem tudo está perdido, porém. Algumas das histórias, como Se eu te esquecer trazem uma perspectiva interessante sobre os clichês de histórias de amor enquanto A Mariposa no Fogo e Terror no Pântano mostram um pouco do crime em comunidades rurais e afastadas.  Estas são as melhores histórias do livro, ainda que as demais não demonstrem o verdadeiro potencial do autor, como pudemos ver em suas obras mais conhecidas.

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Reunião de contos inéditos, descobertos em 2013, na Biblioteca Pública de Nova York. Textos curtos e fortes, que já demonstram o talento para narrar histórias e a capacidade de empatia do autor, que se tornaria um dos mais importantes escritores do século XX com os emblemáticos Bonequinha de luxo e A sangue frio. Se os contos encontrados neste livro pudessem ser lidos como cinema, nos remeteriam aos filmes de Lucrecia Martel: as cenas são cotidianas e quase banais, mas ao entrar nas histórias, a sensação é de uma constante tensão. A atenção ao detalhe pareceria sem importância se não fosse um dos motores para sentirmos uma catástrofe iminente, que pode ser desencadeada a qualquer momento ou até não acontecer. De todo modo, ficamos muito próximos dos personagens e nos identificamos com eles, como se o autor tocasse na vida sem tentar explicá-la.

 

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