A Tenda Vermelha é da autora americana Anita Diamant e foi publicado originalmente em 1997, ganhando novas edições até a atual, publicada em 2018 pela Verus Editora.

SOBRE O LIVRO

Dinah, a única filha entre outros doze filhos homens de Jacó, não tem qualquer voz própria na Bíblia. Praticamente o único momento em que ela aparece é em função de uma vingança sangrenta contra uma suposta ofensa à sua honra. Anita Diamant, no entanto, não ficou satisfeita com essa versão dos eventos e resolveu dar a Dinah a chance de contar a sua própria história.

“Não é culpa sua. Nem minha. Os elos da corrente que ligam mãe e filha forma rompidos e a palavra passou à guarda dos homens, que não tinham meios de saber.”

Desse modo, acompanhamos a história da mãe e tias de Dinah, pois como única filha mulher é ela a responsável por aprender sobre as mulheres que vieram antes dela, preservar e repassar suas história, até a vida da própria personagem, tanto antes quanto depois do episódio bíblico que tanto a marcou.


MINHA OPINIÃO

O poder feminista de tomar uma narrativa tradicional, como a Bíblia, e dar voz a uma personagem feminina que nunca teve a chance de falar por si mesma, já é, em si, impressionante. Além disso, a própria forma como Diamant decide narrar essa história, sem medo de narrar cenas eróticas e de violência de modo bastante explícito, é de uma coragem extrema. Não é a toa que este livro recebeu tantas traduções e edições ao longo dos últimos 21 anos.

É um livro, por conta disso, desconcertante, tanto pela forma como questiona a veracidade e confiabilidade do relato bíblico como pelo modo como expõe rituais e costumes que causariam horror à nossa cultura. Desde penetração com ídolos para banhá-los com o sangue sagrado da primeira menstruação ao fato de que Jacó se casou com quatro irmãs e todos os seus filhos eram ao mesmo tempo seus filhos e sobrinhos, há uma série de hábitos apresentados com muita naturalidade e que podem se tornar incômodos para  quem não conhece muito sobre os costumes desse período histórico.

Porém não é só na ousadia e nas polêmicas levantadas que a autora busca ganhar seu leitor. Pois ao nos dar a oportunidade de observar a história de Dinah por completo, desde da sua mãe e tias até a sua própria complicada trajetória, nos vemos diante de uma narrativa em que a evolução da personagem ganha protagonismo. Dinah passa por muita dor e reviravoltas em sua vida e sua própria sobrevivência diante de tudo que acontece é prova de sua força, de sua perseverança e do quanto ela cresce enquanto personagem a cada nova encruzilhada que se apresenta a ela.

“Acho que nem o mais esperto dos homens percebe o quanto sabemos e o que fazemos entre nós”.

O livro foi adaptado para um formato de minissérie (dividida em dois capítulos de aproximadamente 1h30 cada) para o canal americano Lifetime e disponível atualmente no Netflix. A minissérie é interessante e vale a pena conferir, mas apenas se você assisti-la como uma obra original, pois, no que tange ao aspecto da adaptação, não sobrou muita coisa da obra original de Diamant. E, na minha opinião, embora valha a pena assisti-la, ela é fraca comparada ao filme, especialmente quando faz escolhas que buscam claramente diminuir o impacto e tornar os acontecimentos da obra original mais palatáveis para seu público.

“O Egito apreciava o lótus porque sua flor nunca morre. Também é assim com as pessoas que são amadas. Basta algo insignificante como um som, um nome – duas sílabas, uma alta, outra suave – para trazer de volta os incontáveis sorrisos e lágrimas, suspiros e sonhos de uma vida humana.”

O livro, ao contrário, não faz concessões desse tipo em momento algum. É uma história forte, complexa, poderosa e que traz em si uma mensagem de poder feminino e de sororidade muito marcante. Com capítulos por vezes um pouco longos, o ritmo da narrativa às vezes sofre um pouco, mas essa edição, em geral, favorece bastante a leitura, com uma capa instigante e uma diagramação confortável para a leitura. Recomendo especialmente para quem se interessa por recontos, romances históricos e, especialmente, por uma literatura que valoriza a força feminina.

A TENDA VERMELHA

Autor: Anita Diamant

Editora: Verus Editora

Ano de publicação: 2018

Uma história extraordinária sobre a condição ancestral da mulher. Um livro emocionante que traz poderosas lições de amor, perdão e sororidade. O livro que deu origem à série da Netflix Seu nome é Dinah. Na Bíblia, sua vida é mencionada em um breve episódio no livro do Gênesis, nos capítulos sobre seu pai, Jacó. Narrado na voz de Dinah, este romance revela as tradições e as turbulências de ser mulher na antiguidade. A tenda vermelha era o lugar em que as mulheres se reuniam durante seus ciclos de nascimento e menstruação ou quando estavam doentes. Imaginando as conversas e os mistérios mantidos dentro dessa tenda exclusivamente feminina, Anita Diamant nos oferece um olhar privilegiado sobre a vida diária das quatro esposas de Jacó, mães de seus doze filhos homens, e sobre o convívio com sua única filha, Dinah. Com o resgate desse olhar feminino, conhecemos as fascinantes mulheres que sangraram, trocaram palavras, experiências e rituais na tenda vermelha. Em uma voz íntima e poética, Dinah sussurra histórias sobre suas quatro “mães”, Raquel, Lia, Zilpah e Bilah, que a inspiraram com seus traços femininos únicos. Conforme histórias permeadas de sensualidade, intuição e fortes emoções vão sendo narradas, descortina-se um mundo de caravanas, escravos, artesãos, príncipes, milagres e segredos femininos, até o momento em que Dinah mergulha em sua própria saga de paixão, traições e sofrimento

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