As Garotas de Corona Del Mar é o primeiro romance de Rufi Thorpe. Sua publicação é de 2017 pela editora Novo Conceito.

Sobre o Livro

Mia e Lorrie Ann são amigas de infância, acostumadas a desbravar Corona Del Mar, compartilhar segredos e planos para o futuro. Enquanto Mia é irônica, impulsiva e com uma cota de mentiras que costuma aumentar a cada dia; sua amiga é o oposto disso tudo e sinônimo de garota exemplar, vinda de uma família perfeita.

“Assim, logo após o colegial, quando coisas terríveis começaram a acontecer com Lorrie Ann, ficamos todas chocadas. Era como uma reedição bizarra e pós-moderna de Jó.”

Após um acidente que muda completamente a vida de Lorrie Ann, a amizade entre as duas protagonistas começa a tomar um rumo inesperado. Entre tragédias, um espaço físico e emocional que cresce a cada dia, e a descoberta de que ser resiliente é muitas vezes mais fundamental do que continuar respirando, o livro conta a história de duas crianças que se transformam em mulheres muito diferentes de tudo aquilo que tinham imaginado – ou planejado.


Minha Opinião

Este livro engana pela sinopse e pela capa, toda doce e sutil. A gente imagina, ao começar a narrativa, que se trata de uma obra sobre a amizade entre duas garotas que vivem em uma cidadezinha pequena, com praias bonitas e vizinhos fofoqueiros, e onde as jovens costumam engravidar precocemente – ou fazem planos para fugir dali antes que isso aconteça.

A obra já começa pincelando a personalidade das duas garotas, dando ao leitor as primeiras peças que precisa para montar o quebra cabeças que é essa história. Neste ponto vemos que enquanto Lorrie Ann é uma incógnita que se revela aos poucos, Mia imediatamente deixa claro que é uma garota confusa; que ora parece fria e calculista, ora parece solitária e perdida. Essa confusão mantém uma relação simbiótica com a forma que a história é contada, de maneira não linear e alternando o estilo de narrativa – em primeira e terceira pessoa. Isso porque o único ponto de vista que temos aqui é o de Mia, que vem carregado de tudo aquilo que ela sente e fantasia. Talvez essas particularidades causem estranheza no começo, mas depois que a gente compreende um pouco sobre o que está acontecendo, a história flui. E a partir daí, incomoda de diversas maneiras.

“Até nos meus momentos mais autênticos eu tinha um sopro de artificialidade, um tremor que traía a força com que eu fingia ser eu mesma.”

Ao contar o que aconteceu na vida das duas, desde a infância vivida em Corona Del Mar até a vida adulta que se desenrolava em cenários como Istambul e Índia, a gente embarca numa constante de desgraças que causam dó e arrepios. A morte é um tema presente e se mostra de maneiras diversas. As personagens encaram mortes reais, que trazem dor e a necessidade de enfrentar a finitude quando alguém querido falece; mas enfrentam também mortes simbólicas, que se apresentam em forma de sonhos desfeitos e idealizações nunca concretizadas. É uma tortura sem fim, que em momento algum parece ficar mais fácil.

Toda essa agonia despertada pela leitura a princípio deixa a sensação de que o livro não tem propósito, a não ser explorar todas as possibilidades que o ser humano tem de atingir o fundo do poço. E aqui, todo o sucesso que Mia conquista – estudo, crescimento profissional, amor –  trava uma batalha direta com todas as desventuras que sua melhor amiga enfrenta – perdas, abusos, a dicotomia do tornar-se mãe. Mia deixa claro a todo instante que não é merecedora de nada de bom que acontece com ela, e isso é dito com tanta frequência que muitas vezes me peguei concordando com ela, julgando que de fato uma pessoa tão egoísta e invejosa não merece tantas bênçãos; principalmente porque uma menina gentil, que depois que se transforma em uma mãe amorosa e guerreira, não merece passar por tanto sofrimento.

“Não pense nisso, não fique lembrando, não se permita perceber como sua vida está horrivelmente fora de controle. Era melhor, em minha opinião, tentar não sentir nada.”

Aos poucos percebi que talvez a proposta do livro seja nos colocar na posição de sentir a intensidade de tudo o que é narrado, e mesmo assim compreender que não cabe a nós julgar levando em consideração apenas a nossa ideia particular do que é bom ou mau, permitido ou proibido; e por isso acredito que este não é um livro fácil de ler, de digerir; pelo contrário.

Com uma narrativa que disseca os sentimentos mais bonitos e horrorosos que podem fazer parte do ser humano, essa história não tem pretensão de ser suave nem bonita, e sim o oposto. Com altas doses de realidade, daquelas que a gente costuma encontrar no dia a dia de qualquer pessoa, Corona Del Mar fala sobre amizade, maturidade, maternidade e sobre a possibilidade de ser quem se é doa a quem doer. Talvez por isso este livro seja indicado para leitores que não temam ter seus sentimentos explorados e virados do avesso, ao mesmo tempo em que suas concepções sobre certo e errado são testadas e desafiadas.

AS GAROTAS DE CORONA DEL MAR

Autor: Rufi Thorpe

Editora: Novo Conceito

Ano de publicação: 2017

Amizade entre garotas pode ser intensa e, no caso de Mia e Lorrie Ann, não há dúvidas de que isso é verdade. À medida que crescem, a vida de Mia e Lorrie Ann é preenchida com praia, diversão e passeios ao shopping. Por outro lado, como toda amizade, há conflitos e dores.
Mia e Lorrie Ann convivem há muito tempo e possuem personalidades opostas. Mia é a bad girl, vivendo em uma família problemática. Lorrie Ann é linda e amável, quase angelical, e tem uma família que parece ter sido arrancada de um conto de fadas. Mas, quando uma tragédia acontece, a vida perfeita sai fora de controle.

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