Até o Fim do Mundo é do autor Tommy Wallach e foi lançado no Brasil em 2016 pela Verus Editora.

Sobre o Livro

Peter é o garoto perfeito, estrela do time de basquete, namora a garota mais linda da escola e está confrontando um debate interno sobre a importância das escolhas que faz. Do lado aposto temos Andy, o garoto problema, que já deixou de se preocupar com o futuro a muito tempo. Ele perambula entre alguma confusão e a sala da conselheira juvenil da escola, sempre envolvido em algum problema.

Eliza está contando os dias para o ensino médio terminar e ela dar o fora de Seattle. Ela deseja urgentemente fugir da reputação que a persegue e do caos que sua vida está. Já Anita parece ter a vida perfeita, mas as aparências enganam. Antecipadamente aceita numa das melhores universidades, sua vida é toda regrada pelos pais e não há espaço para respirar.

“Seja lá o que for, não vale a pena.”

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Um asteroide se aproxima de Terra e com ele o medo do futuro que virá. Há uma chance enorme de colisão e uma perspectiva de apenas um terço da população sobreviver. Parece assustador, e é. A partir dessa informação, esses quatro adolescentes passam a olhar para suas vidas com outros olhos e conectam-se através desse inusitado acontecimento. Será esse o fim do mundo?


Minha Opinião

A premissa de Até o Fim do Mundo é extremamente instigante. Há algo vindo em nossa direção que é capaz de destruir grande parte do mundo como conhecemos. Isso mexe com a vida e a situação de qualquer pessoa. Gera caos e terror ao redor de todo o mundo. As pessoas entram em choque, o futuro entra em pauta.

Porém, esse não é um livro sobre o fim do mundo e sim sobre damas adolescentes. Quando a sinopse me foi apresentada e com ela a proposta de que o livro tinha sido um best seller internacional, imaginei que a trama seria profunda e analisaria o âmago de ser um adolescente a beira do precipício do mundo. Acabei me decepcionando amargamente com a leitura, e eis que tenho minha primeira leitura ruim de 2017.

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Para começo de conversa, todo personagem é estereotipado. O perfeito, a perfeita, o arruaceiro e a vadia. E não sou eu que estou chamando ela assim, é o tratamento que o próprio livro dá. O autor faz um esforço enorme para nos impor que Peter é a melhor pessoa do mundo. O príncipe encantado, o garoto certinho e perfeito que toda sogra gostaria de ter. É tão veemente a forma como quer que o leitor engula isso, que Wallach parece não perceber o quanto o quadro de boa pinta contradiz as atitudes do seu protagonista.

Enquanto isso, Eliza é a garota promíscua, aquela que pega todo mundo, sai com vários caras, transa sem apego, usa as roupas provocantes. É a vadia. Mas ela nem sempre foi assim. Quem fez isso acontecer na sua vida foi o príncipe encantado, que traiu a namorada (muito principesco) e depois deixou que ela denegrisse a imagem da garota até que ela abraçasse a situação ao ponto de realmente incorporar tudo o que diziam dela. Ela é uma vítima, mas ao mesmo tempo em que aceitou e abraçou, se tornou também responsável por seus atos. A justificativa acaba em uma certa linha. Mas, é claro, que mesmo com tudo que lhe aconteceu ela é ainda apaixonada pelo menino que lhe trouxe todo esse mal e não levantou nenhum dedo enquanto a namorada tripudiava em cima dela. Amor instantâneo, ao primeiro – e único – beijo.

Mas Tamirez, você está sendo muito parcial com relação ao romance, e o fim do mundo? Então, muito mal representado aqui. Em frente a uma notícia dessas, o caos estaria instaurado e, como estamos em Seattle, seria algo em larga escala. Porém, a forma como o autor focou a trama, faz ter o mesmo impacto como se estivéssemos vendo a história se passar em uma cidade minúscula do interior do Estados Unidos. Há uma escola em destaque, uma gangue apenas e tudo gira em torno de um grupo que faz e acontece. Tudo muito micro, dentro de uma proposta que deveria ser macro. Faltou expandir o olhar para mostrar realmente o caos. Parece uma revolta estudantil, muito mais do que o fim do mundo se aproximando.

“Cada filme seria assistido pela última vez, ou pela penúltima vez, ou pela antepenúltima. Cada beijo estava mais próximo de ser o último.”

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Mas vou voltar aos personagens com Andy e Anita. O primeiro é o típico garoto problema, mas estaria tudo bem se ele não fechasse um triangulo amoroso por ser apaixonado por Eliza. Sim! E, como é virgem, coloca como meta de vida perder a virgindade com ela. Já Anita é a CDF que vai querer curar o garoto problema e o que será que vocês acham que acontece? Não vou contar, mas tenho certeza que algo bem clichê passou pela sua cabeça.

Até o fim do livro eu fui com fé de que alguma grande lição ou reviravolta me esperava que faria toda essa pilha de coisas previsíveis e insensatas fazerem sentido. Porém, isso não aconteceu. A filosofia do autor em pensar sobre o fim do mundo envolve a sexualização e objetivação das mulheres, o falso puritanismo, a exaltação do opressor e o perdão sobre todas as besteiras já feitas.

Eu não gosto muito de ficar hiper problematizando os livros, seus relacionamentos e seus personagens quando eles não são o foco. Porém aqui é impossível evitar. Temos um livro escrito por um homem, com a visão machista do mundo. Se amada, a menina perdoa tudo. E o garoto, mesmo com todas as falhas, mancadas, e comportamentos ‘escrotos’, ainda é perfeito. Porque ele é homem, apenas. Sem pedir perdão nem nada. E sim, eu sei que muita gente não vai ver problema algum no livro, porque várias pessoas ainda não ligam pra isso. Mas eu vi e me incomodou enormemente ver tudo isso tratado com naturalidade, com louvor.

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Sobre as problematizações dos personagens, tudo se perde entre os conflitos falhos. Peter quer ser o caridoso, mas tem atitudes babacas. Eliza ama o pai que está doente e prestes a morrer, mas num momento da trama simplesmente esquece que o pai existe porque ganhou atenção do garoto que ama. Anita é uma sombra de todos. Nem quando ela tem foco é fácil crer nela, mesmo sendo a melhor personagem. E Andy é um personagem abobalhado de dar pena. Seu grande objetivo pre apocalipse é transar e só.

O que me deixa enervada é que a premissa do fim do mundo é tão pouco explorada num aspecto de influência, que poderia ser qualquer outra coisa que não isso. Um levante estudantil, uma mudança de governo. O fim é aberto e não sabemos exatamente o que aconteceu, mas quando cheguei aqui já não importava realmente o que viria a acontecer, eu já estava tão irritada com o desperdício da trama, a chuva de clichês e a quantidade de absurdos que eu simplesmente fiquei feliz de a história ter acabado de forma menos rotulada. Fica para o leitor pensar um pouco mais e achar um propósito.

A capa do livro é muito bonita e eu fiquei bem triste de não encontrar uma boa história aqui. Tendo você lido minha resenha até aqui e ainda assim querendo ir em frente, acredito que seja possível por tudo isso pra trás e simplesmente aproveitar uma história rasa sobre comportamento humano e de como podemos ser idiotas e auto apreciativos quando algo extremo está prestes a acontecer.

O livro também pode gerar uma série de outras reflexões, mas minha frustração foi tão grande que resolvi não ficar tentando buscar justificativas ou motivos para enaltecer algo que me deixou irritada do inicio ao fim. Se o propósito fosse causar isso, a nota do livro seria diferente, mas como Tommy Wallach realmente quer me vender essa história como algo profundo e correto, eu apenas lamento o desperdício de uma boa trama em um desenvolvimento tão ruim.

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ATÉ O FIM DO MUNDO

Autor: Tommy Wallach

Editora: Verus

Ano de publicação: 2016

Antes do asteroide, eles eram definidos por rótulos: o atleta, a excluída, o vagabundo, a perfeitinha. Mas então tudo mudou. Agora eles têm dois meses para encontrar um significado. Dois meses para realmente viver.
Dizem que o colégio é a melhor época da vida. Peter, a estrela do time de basquete, está preocupado que essa afirmação possa ser verdadeira. Enquanto isso, Eliza não vê a hora de escapar de Seattle, e da reputação que a persegue; e a perfeita — ao menos no papel — Anita se pergunta se a admissão em uma das melhores universidades do país vale realmente o preço de abandonar seus sonhos. Andy, por sua vez, não entende todo o rebuliço em relação à faculdade e carreira — o futuro pode esperar.
Será? Porque parece que o futuro está prestes a se chocar com a Terra, vindo do espaço, com o potencial de acabar com a vida no planeta. Enquanto esses quatro estudantes do último ano aguardam — assim como o restante do mundo — para saber quais serão os estragos do asteroide, devem abandonar todos os pensamentos sobre o futuro e decidir como passar o que resta do presente.
Neste livro esperto e envolvente, quatro adolescentes arriscam seus sonhos, seu coração e sua humanidade para ir em busca daquilo que realmente vale a pena.

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