Belinda é um livro da autora Maria Edgeworth. Foi publicado no Brasil em 2017 pela editora Pedrazul.

Sobre o Livro

Era comum, séculos atrás, as mulheres serem tratadas como moeda de troca. No período da regência um sucesso familiar e a ascendência na sociedade poderiam ganhar força a partir de um casamento lucrativo; seja para os homens, que costumavam buscar mulheres submissas, virtuosas e com um dote generoso; ou para as mulheres, que almejavam um partido que dispusesse de títulos, influência na alta sociedade e a admiração de pessoas importantes no contexto da época.

Belinda foi escrito justamente nesse período, e mostra a trajetória de uma jovem que, a pedido da tia casamenteira, decide passar um tempo com uma mulher muito estimada e invejada de Londres: Lady Delacour. Uma dama bem aceita, que mantém uma postura que é aristocrática em tudo aquilo que a palavra significa: ela tem poder, dinheiro, influência; características que podem ser sinônimo de sucesso e felicidade. É pensando em tudo isso que Mrs. Stanhope sugere que Belinda aproveite a oportunidade de ampliar seu círculo de amizades, e transforme a proximidade de alguém tão benquista  quanto Delacour em um meio para, enfim, conseguir um bom partido.

“Nunca é tarde demais para as mulheres mudarem de ideia, de roupa, ou de amante.”

Acontece que as aparências enganam, e Belinda se vê envolvida em uma série de mistérios, intrigas e mentiras que distorcem a realidade e iludem quem não se permite um olhar mais observador. Em meio a uma corte frustrada, a possibilidade de se casar com a pessoa errada e pelos motivos mais inadequados, a jovem dama precisa encontrar maneiras de se manter sã, e fazer aquilo que lhe trará de fato felicidade… Mas uma felicidade verdadeira, e não aquela que a aristocracia finge sentir nos salões de baile e na agitada vida social londrina.


Minha opinião

Mrs. Stanhope é conhecida por casar muito bem todas as suas sobrinhas. Elas foram desposadas por cavalheiros que ofereceram segurança financeira, um título que lhes permitissem manter uma posição privilegiada na aristocracia e, em alguns casos, até um pouco de afeto. Por isso ela não mediu esforços para que esse tipo de sucesso matrimonial se repetisse também com Belinda, a última sobrinha solteira de Mrs. Stanhope. É com esse objetivo que ela envia a jovem, criada no interior e uma apreciadora da simplicidade, para passar um tempo com a família Delacour.

A princípio o comportamento da jovem é basicamente moldado pelas vontades da tia, o que a transforma em uma pessoa submissa e de temperamento mais condescendente; em contrapartida sua criação no interior lhe ensinou a agir de maneira mais simples, o oposto do padrão coquete da época. Entretanto, esse distanciamento da alta sociedade desperta na protagonista uma curiosidade acerca das pessoas, e de tudo o que acontece na agitada vida em Londres. É com esse sentimento que ela chega à propriedade dos Delacour, e é a partir deste momento que Belinda percebe que nem tudo é exatamente do jeito que aparenta, a começar pela dama que a acolhe.

“Se eu tivesse servido a mim mesma com metade do zelo que servi ao mundo, eu não estaria abandonada deste jeito, agora! Eu sacrifiquei reputação, felicidade, todas as coisas pelo amor ao divertimento. Todo o divertimento vai em breve chegar ao fim junto comigo.”

Lady Delacour se mostra um mistério que vai sendo desvendado aos poucos. A aparência jovial, o jeito simpático e encantador que desperta a atenção dos homens e a inveja das mulheres, é uma máscara que esconde um casamento infeliz, muito arrependimento e a necessidade de aproveitar a vida ao máximo; mesmo que isso signifique mentir e passar por cima de quem quer que seja. Belinda percebe tudo isso, e a trama vai girando em torno justamente dessa necessidade que a jovem tem de amadurecer, reconhecer a honestidade nas pessoas – ou a falta dela – e lutar pelo que deseja.

Esse desejo, no começo, é ser cortejada por Mr. Clarence Hervey, um dos muitos admiradores de Lady Delacour. Ele foi escolhido como ‘partido ideal’ para Belinda, mas essa situação vai tomando uma direção diferente conforme os dias passam. Se a principio Belinda desejava chamar sua atenção e despertar o interesse de que lhe fizesse a corte – no momento em que ele a julgava inadequada e insípida o suficiente para não merecer atenção de qualquer homem – depois o jogo inverte. Hervey percebe que a jovem é diferente das outras, passa a se sentir atraído por Belinda e pretende conhecê-la melhor, justamente enquanto ela o despreza e repensa a ideia de tê-lo como pretendente.

O livro constrói a narrativa ao redor dos conflitos que surgem a partir do momento que se é inserido em uma sociedade hipócrita, inescrupulosa e que se vale das aparências para manter um status mais elevado. A história  se desenvolve mostrando o quanto uma mulher precisa lutar – com seus limitados recursos – para não sucumbir aos desejos e artimanhas de pessoas mau caráter travestidas de amigas sinceras. É curioso acompanhar essa história, e é incrível perceber o quanto a autora deu voz à mulheres que eram suas contemporâneas, e a tantas outras que vieram depois.

“A leitura de romances, como ouso dizer que você aprendeu com sua governanta, como eu aprendi com a minha, e ela com a dela, eu suponho, é a coisa mais perigosa para jovens moças.”

De todo modo, não achei a leitura fácil. A linguagem rebuscada, fiel aos costumes da época e mantida pela tradutora, pode assustar quem não tem costume de encarar um clássico. Os capítulos longos, o excesso de detalhes e a narrativa extremamente loquaz pode se mostrar um desafio até mesmo para quem já está habituado ao gênero. De todo modo, a Pedrazul fez um trabalho exemplar no que diz respeito a diagramação; e as ilustrações inseridas no livro, sem dúvidas, promovem um momento de descanso e descontração ao leitor, que tem a oportunidade de linkar tudo aquilo imaginado durante a leitura àquilo que os desenhos mostram.

Mesmo com alguns poréns, eu gostei do livro. Aliás, eu gosto MUITO de romance de época. Principalmente as histórias clichês, a certeza de um final feliz, as narrativas envolventes  que utilizam de diversos truques para encantar e prender o leitor. Os romances de autoras contemporâneas, pelo menos em boa parte das publicações que vejo por aí, costumam usar uma linguagem mais acessível, que passa uma ideia de como as coisas eram ‘naquele tempo’, mas que mesmo assim conseguem se relacionar com o leitor de maneira mais simples, assertiva e por que não dizer, moderna. Há inclusive artifícios mais quentes que recheiam as páginas desse tipo de romance, e isso costuma me agradar. Mas é importante ressaltar que a história de Belinda vai no caminho inverso de tudo isso.

A obra de Maria Edgeworth retrata de maneira muito fidedigna a sociedade de séculos atrás. Belinda é uma história que encanta justamente por ter sido escrita por alguém que de fato viveu e sentiu as dores e amores de viver naquela época. A autora aqui falou com conhecimento de causa, e conforme a história vai se desenrolando a gente se vê refém de uma narrativa que causa surpresas – positivas e negativas – e nos permite fazer um paralelo entre o período regencial e os tempos modernos. Será que as coisas mudaram tanto assim? Não acredito que a autora tenha sido uma uma das percursoras deste gênero literário à toa, muito menos que tenha inspirado Jane Austen, que cita esta obra em seu livro A Abadia de Northanger, simplesmente porque escreveu mais um romance.

Não, a autora iniciou um movimento de valorização não só da mulher, mas de sua inteligência e capacidade de produção artística. Portanto, este é um livro super indicado para quem tem vontade de ler um clássico do gênero, para quem gostaria de saber com mais exatidão como as coisas aconteciam neste período e, claro, para quem busca uma história inspiradora e cheia de empoderamento, que de certa forma ainda retrata um pouco da realidade de muitas de nós.

BELINDA

Autor: Maria Edgeworth

Editora: Pedrazul

Ano de publicação: A2017

Mrs. Stanhope fez de tudo até conseguir que a dama mais elegante e influente de Londres, a notória Lady Delacour, convidasse sua última sobrinha solteira para passar uma temporada com ela. A esperança da tia era que Belinda conseguisse, como as suas demais primas, um marido bom e rico. Entretanto, Belinda foi jogada num tumulto social, e acabou se envolvendo nos conflitos familiares da aristocrática família Delacour. Enquanto a belíssima Lady Delacour tenta chamar a atenção de Mr. Clarence Hervey e outros cavalheiros para si com coquetismo, vivendo uma agitada vida social como se o mundo fosse acabar amanhã, ela enfurece Lorde Delacour, causando uma tragédia. Na verdade, a dama esconde um grande segredo que é descoberto por Belinda. Em meio à agitação da sociedade londrina, o coração da jovem Belinda é tocado por Mr. Hervey – mas ele está comprometido com outra moça. Resta a Belinda se casar com Mr. Vincent, o protegido da sóbria e racional família Percival.
“Belinda” é a história envolvente de uma mulher jovem e forte, que luta para manter sua integridade mesmo estando sob a tutela de um mau exemplo experiente na forma de uma dama admirada e elegante.

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