Civilizações – A Fonte: Dois Mundos, uma jornada é um livro de ficção científica escrito por Wallace Horta e publicado em 2017 pela Novo Século sob o selo Talentos da Literatura Brasileira.

SOBRE O LIVRO

Susan estava à horas de ir para um dos maiores feitos de sua vida: sua primeira missão espacial. À bordo da nave Hermes, ela se juntaria a Michael, Haruto e Anna em direção à Estação Espacial Internacional. Porém, poucos minutos antes, a missão foi cancelada devido a uma descoberta inédita na história da humanidade: um objeto estranho com velocidade anormal tinha se aproximado da Terra, entrado em órbita e se ocultado atrás da Lua. Desde então, nada mais se sabia sobre o objeto.

“Acredito que uma civilização com tecnologia avançada o suficiente para chegar até o nosso planeta também seria capaz de evitar que nossos equipamentos detectassem a sua espaçonave – argumentou Haruto. – Por que eles não fizeram isso?”

Diante do ocorrido, a Hermes foi designada para ir de encontro ao objeto e descobrir a sua origem e confirmar se era de fato uma nave alienígena, e se fosse, se era hostil ou não. Susan ficou apreensiva, e nos poucos minutos antes de iniciar essa nova missão, ela e sua equipe debateram sobre a possibilidade de ser um sinal de Deus, ou mesmo, de ser apenas uma das provas de que não estamos sozinhos.

Ao chegarem perto do estranho objeto, uma luz estranha emanou dele e inundou a nave Hermes, e sem saber o que estava acontecendo, Susan se vê arrastada para um outro mundo, para outra sociedade, e começa a presenciar diferentes acontecimentos, desde guerras, extinções e até mesmo explorações científicas nunca imaginadas. Susan fica atordoada, mas uma voz em sua cabeça a tranquiliza, dizendo que ao fim do processo, toda a verdade lhe seria revelada.


MINHA OPINIÃO

Histórias onde uma nave alienígena se aproxima da Terra e faz contato, ou mesmo trazem alertas à humanidade não são nenhuma novidade. Há várias delas no cinema (como O dia em que a Terra parou) e na literatura (Encontro com Rama, por exemplo). Entretanto, o autor deste livro trilhou um caminho diferente: quais as dificuldade que uma raça alienígena enfrentaria até nos encontrar? De fato, não me recordo de nenhum outro filme ou livro que tenha trabalhado por essa perspectiva. Assim, fiquei curioso para ler e ver no que ia dar.

Comecei a leitura empolgado, mas logo de início já vi que não ia manter a alegria por tanto tempo. Logo já surgiram pontos que foram me incomodando e que cresciam cada vez mais enquanto eu adentrava à história. Perguntas simples, mas que a falta de respostas prejudicaram em muito a expectativa com o livro. Admito que a narrativa apresenta uma certa lógica cronológica e factual, mas ao terminar o livro, não consegui encontrar o propósito de tudo o que li.

“Certamente que a existência da própria existência e, portanto, de tudo o que se possa ou não compreender ou imaginar, em qualquer nível de abstração ou percepção no qual se queira especular, é a mais fundamental de todas as questões.”

A trama especula as dificuldades que uma raça alienígena encontraria pelo espaço antes de, finalmente, fazer contato com outra forma de vida. Esse aspecto achei interessante, porque de certa forma há uma inversão de papeis. Nós seres humanos ansiamos por descobrir outra raça alienígena, e atualmente, cientistas já falam em missões espaciais tripuladas à Marte, à Europa e quem sabe, no futuro, para outros locais distantes do universo. Porém, mesmo com toda a nossa tecnologia, as dificuldades que encontramos são inúmeras. Os humanos não foram criados para ficarem isolados, e quando isso acontece, coisas estranhas ocorrem também.

Não é a toa que a NASA recentemente isolou uma equipe de astronautas em um vulcão extinto para observar, ao longo de um ano, como eles se comportariam. Se no experimento a equipe não fosse capaz de manter a integridade emocional ou psicológica decorrida do isolamento, imagina o problemão que seria enviar uma equipe em uma longa viagem até Marte? Ou para mais longe? Seria desastroso. Logo, a ideia do autor de imaginar esses – e outros – problemas, mas contá-los da perspectiva de outra espécie inteligente é sim muito interessante e abre possibilidade para inúmeros pensamentos.

“Um grande gênio do passado disse que “uma vez que se tenha experimentado voar, você andará pela terra com os olhos presos ao céu, pois, uma vez lá você esteve, para lá você ansiará por voltar.”

No decorrer da narrativa, somos expostos à críticas sociais, como por exemplo, o papel da religião em uma sociedade e o perigo que a fé cega pode trazer às pessoas que veem a ciência como um “anticristo” ou como um “demônio” a ser exorcizado. Há também críticas ao avanço desenfreado no desenvolvimento de armas químicas e biológicas, bem como o risco que teríamos se, por ventura, uma inteligência artificial evoluísse ao ponto de subjugar todas as formas de vida orgânica. Nesse sentido, me vi voltando aos livros mais clássicos de sci-fi, onde as críticas sociais, políticas e tecnológica são mais explícitas do que em muitos livros atuais. É interessante notar esse aspecto pois, verdade seja dita, quando o sci-fi surgiu, a ideia de apontar os problemas da sociedade real eram bem mais evidentes. Compare, por exemplo, livros como Guerra dos Mundos (H.G. Wells), Duna (Frank Herbert) ou Admirável Mundo Novo (Aldous Huxley) com alguns livros atuais. Garanto que, na maioria dos casos, as críticas sociais serão muito mais notadas nesses “vovôs” citados.

Contudo, isso não foi suficiente para salvar a composição da obra, que deixa a desejar em vários aspectos extremamente importantes. A começar pelos personagens. Logo de início, ficamos sabendo que são tripulantes da nave Hermes Haruto, Anna, Michael e Susan, a protagonista. Entretanto, nenhum deles é devidamente bem apresentado ou explorado. Qual o passado de Susan, como Haruto se juntou à equipe, o que pensa Anna sobre o Universo, porque Michael é o “galã” da missão. Todos esses pontos que ajudariam a dar uma identidade à eles e gerar empatia, não existem no livro. Assim, qualquer um poderia ser o protagonista, e tanto faz se um deles morressem. Eu como leitor não me importei com nenhum, não criei vínculo, não me vi conectado.

Outra coisa que me incomodou muito é que até a página 130, mais ou menos, a protagonista não é protagonista de nada. Ela vive vários eventos estranhos da outra civilização, mas ela pergunta nada, não questiona o que está vendo, não pára para pensar qual o motivo de ela ter sido escolhida para ver tais acontecimentos. Simplesmente a personagem principal só observa, reclusa em sua própria cabeça, de onde nem mesmo eu como leitor tive acesso aos pensamentos, pois a narrativa não nos apresenta esse recurso. Além disso, fiquei tentando entender  qual era a dor que a personagem tinha, e que – segundo a sinopse – pudesse ser curada com a descoberta de uma raça alienígena. Essa pergunta ficou me martelando até perto das partes finais do livro, quando então encontrei a resposta, e, para meu espanto, notei que a sinopse é composta por pedaços pegos aleatórios  de todo o livro, um mosaico de parágrafos que, até criam sentido, mas totalmente desconexo com o que o livro apresenta em um contexto macro.

“Não somos deuses nem seres superiores, mas seus iguais no universo, com a única diferença de sermos mais antigos e, por tanto, termos acumulado mais experiências e avanços em mais estágios do desenvolvimento tecnológico.”

Não sou nenhum expert em construção de narrativas, mas acredito que faltou uma boa revisão no que foi escrito, pois falta verossimilhança, ou seja, da forma como o contato (e os eventos posteriores) foi narrado, duvido que aconteceria tão rápido – e fácil – na vida real. Claro, entendo que é uma narrativa ficcional e etc, mas isso não significa que precisa ser tudo fantasioso. Por exemplo, no livro A Sombra do Paraíso, temos um começo bem parecido com o de Civilizações, mas lá, o contato com o objeto, o mistério acerca dele é muito mais explorado do que aqui. E aquela descrição se aproxima mais da realidade, pois afinal, nenhum astronauta de verdade iria de encontro à uma nave alienígena que nunca viu na vida e agisse como quem vê um amigo e diz “hey, quanto tempo?”.

É uma pena dizer mas, infelizmente foi uma das leituras mais decepcionantes do ano. As constantes idas e vindas da personagem em visões que ela não questionava, analogias que o autor introduz na trama de forma desnecessária, ou explicações extensas sobre coisas super fáceis de entender, além de outros pontos menos importantes, fizeram com que a leitura do livro se arrastasse muito e fosse entediante. Pelo menos no sentido de críticas, elas se mostraram bem oportunas e condizentes com a proposta do livro. Afinal, nossa sociedade precisa resolver muitos problemas antes de estar devidamente pronta para fazer contato com outra, não é?

CIVILIZAÇÕES: A FONTE

Autor: Wallace Horta

Editora: Novo Século (Talentos da Literatura Brasileira)

Ano de publicação: 2017

Susan ansiava há séculos pela descoberta de outra civilização, esperançosa de que isso pudesse amenizar a profunda dor que a dominava. Ou, pelo menos, essa foi a visão que ela teve antes de despertar para o dia da sua primeira missão como astronauta.
Logo mais, Susan, Michael, Haruto e Anna vão ao encontro de um surpreendente objeto extraterrestre que se aproximou da Terra e se ocultou atrás da Lua. Ao fazerem contato, um fenômeno faz Susan vivenciar uma série de acontecimentos determinantes de outro planeta, atravessando, na companhia de Michael, de uma época a outra.
Muitos séculos depois, Susan não se sente mais como uma estrangeira entre o povo daquele planeta. Em companhia de Electrons e à bordo da Estrela Eclipsada, ela atravessa os gigantescos Dobradores do Continuum, fato que pode ajudar a definir o destino da galáxia.

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