“O Desaparecido” é o novo livro do autor Dhor Mishani, publicado no Brasil em 2017 pela editora Companhia das Letras

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SOBRE O LIVRO

Seu nome era Chana Sharavi e ela estava ali para relatar o desaparecimento de seu filho adolescente Ofer Sharavi, que desapareceu em Holon, um pequeno subúrbio de Tel Aviv. A princípio o detetive Avraham Avraham pensou que seria mais um caso simples de um adolescente em fuga, ou outro caso que seria resolvido com cartazes de procura-se como costumava acontecer naquela região, e pede que ela volte para casa e aguarde a volta do filho. No entanto, no dia seguinte a mãe está de volta à delegacia, seu filho continuava desaparecido.

“A sua frente, sentada, uma mãe. Mais uma mãe.”

E assim começa mais um caso policial, com investigações, buscas pelo garoto e pela solução do mistério. Tudo seria “comum” caso não existissem algumas figuras interessantes envolvidas, como um vizinho da família, Zeev Avni, que por acaso também fora professor particular de Ofer e insistia que tinha revelações importantes a fazer sobre o garoto desaparecido.

Em poucos dias Avraham se vê envolvido em uma complexa investigação que o fará se questionar sobre suas próprias ideias não só em relação a este caso específico, mas também em todos de sua carreira como policial.


MINHA OPINIÃO

Inicialmente me vi interessada pela premissa do livro, afinal, quem não gosta de um bom suspense policial? Infelizmente, é uma premissa interessante que talvez não tenha sido bem desenvolvida. Acredito que existam alguns motivos para que o livro não tenha funcionado bem para mim. Apesar de o autor ser um especialista em literatura policial sua escrita é cansativa, arrastada.

Inicialmente é comum que a leitura tenha um ritmo mais devagar até que todos os personagens e aspectos da trama sejam apresentados ao leitor, mas ao longo dos capítulos fiquei com a impressão de que o autor não estava satisfeito com seus próprios personagens, vindo a cada momento trazer “conflitos” que possibilitassem uma nova apresentação, tentando fazer com que o leitor mudasse de ideia com relação a eles. Essa repetição e insistência em novos conflitos ao invés de trabalhar os já estabelecidos e principais dificulta a fluidez da escrita e o entendimento do leitor. Várias vezes foi preciso voltar parágrafos, fazendo com a leitura seguisse se arrastasse.

“Com certeza vocês estão se perguntando onde eu estou agora e de onde estou escrevendo – e só posso dizer que escrevo de um lugar distante, um lugar em que tudo é bom.
Já não seu filho, Ofer.”

Outro ponto em que fiquei um pouco desapontada foi com a economia de novidades com relação ao próprio caso de desaparecimento em si, já que na maior parte da trama o autor segue rondando em torno de outros temas. Um deles é a vida do vizinho e ex-professor particular de Ofer, Zeev Avni, que aparentemente seria uma peça importante para o desenrolar do caso. Um personagem confuso sobre suas próprias ideias e personalidade, um possível psicopata, alguém intrigante com quem poderíamos nos relacionar, se trabalhado de forma mas acertada.

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Nada do que você espera que aconteça realmente acontece, e não sob um bom aspecto, já que a essa altura tudo o que poderia ser interessante já foi descartado. Até mesmo a importância daqueles que são colocados em holofote em algum momento. De alguma forma, esses personagens contribuem a trama, mas desaponta o leitor a atenção dada a eles em determinado momento para um total descarte segundo após. Caso que acontece com um personagem em maior destaque e que parecia ter um papel muito importante.

Mesmo assim, segui até o final da leitura ansiosa para descobrir o que de fato tinha acontecido ao menino, e quando finalmente descobrimos, por mais que tenha sido diferente de tudo que tenhamos pensado, e podemos dizer: “bem, ok, foi um final ao menos bem amarrado”, o autor parece mais uma vez insatisfeito com a própria história, e tenta colocar na cabeça do leitor um: “e se não foi realmente dessa forma?”. E foi aí que percebi que se o próprio autor não me deu uma resposta, a leitura inteira eu me mantive atrás de algo que não iria receber.

Essa é a minha impressão geral sobre o livro, de forma que não funcionou pra mim. A trama se arrastou, a atenção foi voltada demais a pontos não importantes e o verdadeiro mistério se perdeu no meio da confusão. Mas, como bem sabemos, as vezes o olhar de um leitor é muito diferente do outro, possibilitando que outra pessoa possa ter uma experiência muito melhor do que eu tive. Então, caso você seja um fã de suspense e quiser dar uma chance, vá em frente.

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O DESAPARECIDO

Autor: Dhor Mishani

Editora: Companhia das Letras

Ano de publicação: 2017

Quando um adolescente desaparece num pacto subúrbio de Tel Aviv, o detetive Avraham Avraham pensa que tem uma tarefa simples pela frente, como costumam ser os inquéritos na região. Todavia, após uma conversa com o professor do garoto, Avraham se vê embrenhado numa complexa e perigosa investigação, que o fará questionar sua própria ideia de violência.

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