O Diário Secreto de Laura Palmer é da autora Jennifer Lynch, filha de David Lynch, criador da série Twin Peaks que fez enorme sucesso nos anos 90. O livro teve um relançamento em 2016 pela Globo Livros para comemorar os 25 anos da exibição do último episódio da série e o anúncio da produção de uma terceira temporada depois de todos esses anos. A primeira edição saiu no Brasil em 1991 pela mesma editora.

SOBRE O LIVRO

Esse livro é um compilado do diário da protagonista morta da série Twin Peaks. Laura Palmer escreveu dois diários: um real, que seria esse; e um falso, dentro do que a sociedade esperaria de uma menina popular e de boa família como ela supostamente fosse. Porém, esse segundo diário acaba sendo encontrado depois de um tempo pela investigação, e esclarece alguns pontos sobre a verdadeira vida da garota.

Laura Palmer, de 16 anos, foi encontrada morta na beira de um rio e seu assassinato gera uma investigação do FBI para descobrir quem a matou, porém o que a polícia a principio acha conhecer sobre a garota é somente um disfarce que ela usava. A verdadeira Laura Palmer só é revelada com as histórias confidenciadas ao seu diário.

“Acabei de ler o que escrevi ontem à noite  e de repente senti uma imensa vergonha de estar viva. A garota que ganhou esse diário em seu décimo segundo aniversário morreu já faz anos, e quem tomou seu lugar nada fez além de caçoar de seus sonhos.”

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Com a primeira entrada datada no seu aniversário de 12 anos, o diário começa a contar os relatos de uma menina comum, que vive em uma família bem estruturada e tem vários amigos. Mas logo após alguns meses, Laura começa a mostrar seu lado mais perturbado, revelando ter alguns problemas psicológicos ou até sofrer de esquizofrenia.

O modo de ver o mundo e o rompimento entre a infância e a adolescência acontece com seu primeiro período e o início da busca da garota por experimentar coisas e conhecer o seu corpo. Ela pensa muito sobre sexo e sobre como as coisas podem ser, e algumas entradas depois, descobrimos que ela começa a ir em busca dessas experiências, mesmo que isso não esteja de acordo com seu círculo social e precise ser feito em segredo.

O Diário Secreto de Laura Palmer é uma narrativa perturbadora de como a vida de uma menina, que se parece com todas nós no começo da adolescência, pode ser drasticamente mudada e corrompida pela ânsia da descoberta, vícios, sexo, drogas e temores psicológicos.

PRECISO VER A SÉRIE PRA LER O LIVRO?

Não, mas é bom saber o contexto da história pra não ir somente com o livro e o achar incompleto. Laura está morta, ela é tida como uma jovem exemplar até que seu diário secreto é encontrado e uma nova trama se forma. As entradas que ela adiciona ao caderno, e revela ao leitor, são histórias que por vezes tem meses de distância e que do nada param, dias antes de ela ser encontrada morta.

Para descobrir o que aconteceu com ela ou quem a assassinou é preciso ver a série ou ler alguns textos sobre, mas de forma alguma acho que isso me atrapalhou na leitura. Muito pelo contrário, quando terminei, estava tão desesperada para saber quem tinha matado a garota que fui procurar, e quando descobri a resposta que a série deu no meio de sua segunda temporada, vi que toda as minhas apostas tinham sido falhas.

Eu não vi a série, mas li vários reviews e informações sobre e estou realmente muito empolgada para essa nova temporada que está prometida. O que vai ser trabalhado nela ainda não se sabe, mas acredito que só deles reviverem essa história já será muito bacana, já que Twin Peaks marcou os anos 90 e influenciou muitos jovens.

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UM POUCO SOBRE TWIN PEAKS

Twin Peaks é uma série de televisão norte-americana criada por David Lynch e Mark Frost no ano de 1990. A série conta sobre a investigação do agente do FBI Dale Cooper do assassinato da popular e querida estudante de colegial Laura Palmer. O episódio piloto saiu pela ABC e acabou levando a outros sete episódios na primeira temporada. Depois, houve uma segunda temporada de 22 episódios, que foi ao ar até 10 de junho de 1991. O título da série provém de seu cenário principal, a cidade ficcional de Twin Peaks, em Washington. Porém, os roteiristas foram obrigados a revelar quem tinha assassinado Laura Palmer no meio da segunde temporada, acabando com o grande mistério da trama muito cedo e fazendo com que os últimos episódios não tivessem boa aceitação ou audiência, marcando assim o fim da série na segunda temporada.

MINHA OPINIÃO

Esse é um livro perturbador em vários aspectos e vou tentar passar pra vocês todas as minhas sensações na hora da leitura. Primeiro foi interessante e infantil ver Laura ganhando seu diário e começando a compartilhar seus pensamentos. Depois, vimos ela ter seu primeiro período menstrual e as dúvidas sobre o que aquilo representava pra ela enquanto menina. Logo após, as curiosidades sobre o corpo e sexualidade, coisas que ela desconhecia ou não pensava sobre.

Até aqui eu estava me identificando bastante com a personagem e pensando que aquilo é provavelmente o que todas nós, jovens adolescentes passamos: um período de dúvidas que se empilham em nossa mente. Mas ai algo em Laura mudou, foi quase como se um gatilho tivesse sido ativado. De uma entrada para outra ela muda completamente e descobrimos que ela é atormentada por algo muito maior do que a menina da primeira confidência revelou.

“Às vezes, quando estou sonhando, sinto-me presa em uma armadilha e com muito medo. Mas agora quando olho para o que acabei de escrever, já não sinto tanto medo. Talvez eu escreva todos os meus sonhos de agora em diante para não ter mais medo deles.”

A princípio pensei que o abuso era real e que aquele que a visitava a noite era alguém de verdade, que se aproveitava da ingenuidade da criança para se mascarar como sonho. Porém, ele toma espaço no diário e Laura escreve como se fosse ele, mostrando um viés de caos psicológico que não tinha se apresentado antes. Bob a atormenta e faz coisas com ela, coisas essas que ela parte em busca de conhecer na vida real e verdadeiramente vivenciar.

A partir daí a vida dela entra num rumo completamente diferente. Ela se afasta da melhor amiga e começa a ter experiências com drogas, sexo, orgias, abuso e até prostituição. A Laura Palmer que começa o diário desapareceu e o que temos agora é somente a confusão que essa garota se transformou.

“Esses dias tenho pensando na Morte como uma companheira que desejo encontrar.”

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Algo que me chamou muito a atenção é que por ela ser criada em uma cidade pequena e dentro de uma família convencional, por vários momentos vemos ela se auto analisando e vendo o quão ruim está sua vida. Ela se sente suja, má. Ela não quer ser uma “menina má”, voltando quase a ter comportamentos infantis quando entra nesse mérito. Parece que Laura tem várias personalidades e ela não tem mais controle sobre qual delas está em comando.

A partir de um certo momento vemos que não há mais volta, ela se perdeu. E nos últimos relatos, poucas semanas e dias antes de sua morte, ela está desesperada. Alguém violou seu diário, páginas foram arrancadas, sentenças ficam sem ser terminadas. Mas será que foi alguém estranho ou foi a própria Laura que agora não se lembra mais do que fez pois não estava em controle? E então, um dia, ela faz sua última confissão e é encontrada morta. Não sabemos o que aconteceu com ela ou quem a matou, e se não tivéssemos o conhecimento da série, nem saberíamos que ela tinha morrido. O fim é abrupto e inesperado, bem como a vida de quem escreveu aquele diário.

“Não há cocaína. Ela desapareceu. Odeio o modo como me sinto… como se estivesse num vácuo, meu corpo tem sido violado, meus pensamento, meus sonhos, a imagem que tenho de minha mãe e de meu pai são agora de figuras terríveis e deprimentes, as quais não consigo deixar de ver… Ah, se ela soubesse das coisas que têm acontecido.”

A leitura foi um mar de sentimentos, da identificação ao espanto. Eu iniciei essa leitura sem muitas expectativas, apenas acreditando que iria gostar porque sempre me dou bem com tramas que trazem diários ou cartas, mas não imaginei que iria ficar tão abalada com a leitura. As páginas voaram e como são separadas pelos dias que ela escreve, flui super bem por serem capítulos curtos e com bom espaçamento entre eles.

Um curiosidade interessante é que ele se tornou leitura de várias escolas americanas, apesar de ser bastante pesado, pra exemplificar essas questões de adolescência para os jovens, o que fez muitos acreditarem que Laura Palmer fosse uma jovem real. Mas não, ela é uma personagem ficcional e teve o diário escrito e publicado depois do sucesso da série como um complemento para os fãs ou para os curiosos, que assim como eu, encaram a história sem ter assistido nenhum episódio.

Não sei o que esperar da terceira temporada ou de como ela se vinculará com a história principal, mas com toda certeza vou conferir quando estrear pra descobrir mais sobre Laura Palmer e o que realmente aconteceu com ela.

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Lançado originalmente pela Globo Livros em 1991, O diário secreto de Laura Palmer ultrapassou as telas e se tornou um ícone entre os adolescentes dos anos 1990, ainda sendo objeto de culto entre os jovens deste início de milênio. Até hoje, poucos autores tiveram a ousadia de Jennifer Lynch, que sem dogmatismos e meias-verdades fala sobre adolescência, sexo, drogas e morte.

 

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