O Dueto Sombrio é a parte final da duologia que se iniciou em A Melodia Feroz, da autora V. E. Schwab. O lançamento é da editora Seguinte, em 2018.

*Essa resenha contém spoilers do livro anterior

Sobre o Livro

Kate partiu de Veracidade deixando tudo o que aconteceu pra trás. Agora, vivendo em Prosperidade, uma cidade que vista de fora, supostamente, não possui monstros, assumiu exatamente essa responsabilidade, já que essa situação não é bem real. Ao lado de um grupo de hackers, a garota sai em caçadas a fim de tentar erradicar esse mal.

Em Veracidade, August está lidando com seus demônios. Com a morte do irmão, que se provou um traidor, o jovem agora comanda um núcleo da FTF. Um de seus trabalhos é fazer a triagem de quem está atravessando do outro lado para o seu, punindo quem tem sua alma marcada pela criação de um monstro. Porém, isso pode estar cobrando um preço sobre o garoto.

“As pessoas eram confusas. Não podiam ser definidas pelo que tinham feito, mas pelo teriam feito, sob circunstâncias diferente, moldadas tanto por seus arrependimentos como por suas ações, as escolhas que defendiam e as que gostariam de poder fazer diferente. Mas não havia como, porque o tempo só seguia em frente, mas as pessoas podiam mudar. Para pior. E para melhor. Não era fácil. O mundo era complicado. A vida era dura. E, muitas vezes, viver era dolorido. Então faça a dor valer a pena.”

Enquanto isso, algo sombrio se ergue e confronta Kate. Parece haver um novo monstro em jogo, que não se encaixa em nenhuma das categorias anteriores e está se dirigindo a Veracidade, a cidade que além de ser dividida, também esconde outros terrores, como Sloan e Alice, ambos sedentos por pôr suas mãos em Kate.


Minha Opinião

A Melodia Feroz foi uma das minhas leituras favoritas de 2017 e, com toda a certeza, a melhor entre os livros da autora que eu já li e, portanto, haviam altas expectativas em cima desse segundo e livro final da história. Aliás, quero ressaltar o quanto a experiência de ler uma duologia é algo diferente, depois que você está tão acostumado a se confrontar com séries enormes dentro do gênero de fantasia. Ao mesmo tempo em que é super interessante histórias mais curtas e saber que o final não vai demorar tanto, é claro que há o aspecto onde as coisas acabam mais rápido e o sentimento se “vazio” que a trama deixa parece mais fugaz.

Ao ver nossos protagonistas se despedirem no primeiro livro, acho que ficou claro pra todos que algo que viríamos a esperar seria o momento onde, de alguma forma, eles voltariam a se encontrar. Aqui, quando somos apresentados à premissa, já logo se supõe que o elo de ligação será esse novo monstro que primeiro se confrontará com Kate. Por si só, esse evento já é algo interessante, pois sugere que o mundo dos monstros também pode ter alguma “evolução ou mutação”, já que estamos lidando com algo fora do padrão já estabelecido. Esse, porém, não é o plot mais importante, apesar de parecer.

Quem ganha maior atenção é a obsessão de Sloan, que agora comanda o lado que antes pertencia à família Harker, e Alice, a malchai que nasceu do ato de violência realizado por Kate no fim de Melodia Feroz. A união desses dois representa um perigo constante, porém previsível, já que sabemos exatamente o que eles querem.

“O luto tinha sua música própria – o som de tantos corações, tantas respirações, tantas pessoas unidas.”

August é, com toda a certeza, o personagem com mais complexidade nesse livro. Ele está lutando com um instinto que lhe atormenta, está no comando de uma unidade e no meio da ação, que era algo que ele desejava, mas é assombrado pelo irmão que fala com ele em sua cabeça. O Sunai, entretanto, vai aprender aqui algumas peculiaridades do seu poder e com isso tentar balancear melhor como ele enxerga a si e aqueles que julga.

Kate começa a narrativa parecendo mais madura, mas depois acaba por voltar a alguns comportamentos impulsivos que já havíamos presenciado. De todo acho que a personagem tem um caminho bem previsível aqui, mesmo que o seu desfecho seja um dos mais interessantes. Fiquei por muito tempo me perguntando porque a autora apresentou também os amigos dela de Prosperidade, se logo depois eles seriam completamente esquecidos dentro da trama. Aliás, várias coisas ficaram sem muita explicação aqui ou sem continuidade, e foi isso que fez com que minha experiência não fosse tão bacana assim.

Pra mim, pelo menos, me pareceu bem claro onde a trama precisava ir do ponto onde ela se inicia, para que alcançássemos um final. Porém, aguardei alguma mudança no caminho ou alguma surpresa para que o rumo da história mudasse ou tivéssemos algo grandioso no fim. Não veio e foi meio frustrante. Alguns personagens terminam exatamente como tinham começado, outros tem o mesmo desfecho do primeiro livro. Todo mundo faz exatamente o que é previsto e o mundo é completamente esquecido, assim como o tal monstro poderoso e diferentão.

Acho que, acima de August ser um personagem muito cativante e Kate ser interessante pela sua configuração, o que sempre chamou a minha atenção nesse livro foi a metáfora da violência criada pela autora para desenvolver o seu mundo fantástico. A cada ato, uma consequência monstruosa. Uma mancha a ser carregada pra sempre por quem fez e também pela sociedade. Vamos encontrar uma solução, um caminho, uma visão de futuro? Não. E vamos ter que lidar com isso, basicamente.

Eu, sinceramente, esperava um pouco mais. Me entristece quando eu vejo que um autor aparentemente esqueceu a maior motivação que tinha por trás de tudo. August nasceu dessa situação, Kate estava diretamente conectada a tudo isso e ambos queriam mudar o mundo em algum ponto e transformar para melhor, porém esse não chega a ser um ponto relevante a ser trabalhado aqui.

Acho que o problema principal da minha experiência foi esperar grandiosidade e aprofundamento, quando na verdade o foco da autora foi solucionar os plots que estavam sobrepostos sobre a trama. Portanto, a dica que eu dou é exatamente dar um low nas expectativas pra poder aproveitar melhor o livro. A quem interessar, no vídeo que está linkado no começo da resenha há uma parte com spoilers onde eu comento mais pontualmente as coisas que me incomodaram ou que achei que deveriam ter sido tratadas de outra forma.

Quanto a escrita, acho que esse foi o livro da autora que eu li com mais rapidez. A história é muito fluida e as páginas vão se devorando automaticamente, porque se cria a necessidade de saber onde tudo aquilo vai dar. Esse é um talento da autora e eu posso dizer que sempre é possível ficar instigado pela proposta que ela trás ou pela forma como escreve, mesmo que nem tudo esteja indo conforme o planejado.

De todo, fico sentida por não ter encontrado algo mais bem explorado, mas sou grata pela experiência com uma trama incrível, que pela sutileza da metáfora nos apresentou algo que conversa muito com a nossa sociedade e as situações de violência que cercam o contexto mundial, trazendo medo e apreensão por todo lado. A duologia Monstros da Violência pode ser uma fantasia com personagens jovens, mas é também um reflexo de como vivemos, com cada ato voltado ao mal gerando algo em consequência.

O DUETO SOMBRIO

Autor: V.E. Schwab

Editora: Seguinte

Ano de publicação: 2018

Kate Harker não tem medo do escuro. Ela é uma caçadora de monstros — e muito boa nisso. August Flynn é um monstro que tinha medo de nunca se tornar humano, mas agora sabe que não pode escapar do seu destino. Como um sunai, ele tem uma missão — e vai cumprir seu papel, não importam as consequências.
Quase seis meses depois de Kate e August se conhecerem, a guerra entre monstros e humanos continua — e os monstros estão ganhando. Em Veracidade, August transformou-se no líder que nunca quis ser; em Prosperidade, Kate se tornou uma assassina de monstros implacável. Quando uma nova criatura surge — uma que força suas vítimas a cometer atos violentos —, Kate precisa voltar para sua antiga casa, e lá encontra um cenário pior do que esperava. Agora, ela vai ter de encarar um monstro que acreditava estar morto, um garoto que costumava conhecer muito bem, e o demônio que vive dentro de si mesma.

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