O Feiticeiro de Terramar é da autora Ursula K. Le Guin e foi originalmente publicado no ano de 1968, sendo um clássico da fantasia. No Brasil ele sai pela editora Arqueiro em 2016.

Sobre o Livro

Gavião irá se tornar um nome poderoso entre os magos de Terramar. Mas esse não é o seu verdadeiro nome, assim como é preciso conhecer sua história para entender onde e como ele chegou a esse lugar de destaque. É por isso que com essa informação em mente voltamos no tempo para quando ele era apenas um jovem, após perder a mãe e morar sozinho com o pai, quando vê sua tia, uma suposta “curandeira”, pronunciar algo estranho para os animais, o que resultou em eles obedecerem-na.

Intrigado, ele repete a expressão no dia seguinte e vê o mesmo acontecer. A tia, vendo o que houve, percebe que o garoto possui o dom mágico e começa a ensinar a ele o pouco que sabe. Porém é quando seu povoado está sob ataque que ele demonstra seu verdadeiro potencial, ao controlar a névoa e enganar o inimigo. A história se espalha e logo um renomado mago aparece para renomeá-lo e treiná-lo.

“Nunca lhe ocorreu que o perigo ronda o poder como a sombra persegue a luz? A feitiçaria não é um jogo que jogamos por diversão ou para receber elogios. Pense nisso: toda palavra, todo o ato de nossa arte, é falada e é feita para o bem ou para o mal. Antes de você falar ou fazer tem que saber o preço a pagar.”

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Nesse universo as pessoas são renomeadas a uma certa idade e devem preservar o seu nome como um tesouro, pois ele possui poder. Ao ir com esse mago, o jovem encontra o desafio da paciência, pois tem o desejo de aprender tudo imediatamente enquanto seu mestre pede por cautela. Quando ele tenta realizar algo para o qual não está ainda preparado, causando consequências, o mago mestre lhe oferece a opção de ir para a escola de magia, onde receberia um aprendizado mais apropriado à sua curiosidade.

Porém, quanto mais aprende, mais sede de poder e arrogância o tomam e ele arranja um arqui inimigo nesse local. É numa das tentativas de se provar superior que ele acaba por ultrapassar seus limites de magia pela terceira vez e liberta uma sombra em Terramar. Esse ser sem nome toma por missão persegui-lo e derrotá-lo, e quando pôr seus pés para fora dessa ilha protegida, terá um grande desafio pela frente.


Minha Opinião

Acho que minha primeira reação foi de surpresa ao ver o quão antigo essa esse livro e, portanto, do quanto pode ter influenciado história que vieram depois e que eu já conheço. Isso logo se fez verdade quando notei as várias semelhanças com uma obra de fantasia que eu tenho em alta estima, que é O Nome do Vento, do Patrick Rothfuss. Dois dos maiores conceitos do livro são claramente inspirações saídas de O Feiticeiro de Terramar.

Entre as semelhanças, o que se destaca é o fato de já começarmos sabendo que o protagonista será um grande mago e voltarmos à sua infância para começar a acompanhar sua história e, o fato de precisarmos saber o “nome” das coisas para as controlar. Se eu tivesse lido esse livro antes de O Nome do Vento, provavelmente não teria amado tanto aquela obra em função das semelhanças e, se O Feiticeiro de Terramar fosse uma publicação posterior a de Rothfuss com toda a certeza eu estaria esbravejando sobre a cópia. Portanto, os sentimentos são conflitantes, e ainda estou tentando me decidir como verdadeiramente me sinto com relação a isso.

Tendo ressaltado esses pontos, digo que as semelhanças entre Le Guin e Rothfuss e suas respectivas histórias param por aqui. Enquanto o segundo trilha um caminho sinuoso e com prolixidade, Ursula vai direto ao ponto, com uma escrita rica mas sem enrolação. A autora não se preocupa em ser repetitiva ou a relatar detalhadamente a rotina do personagem. Ela compreende que o leitor tendo lido uma vez entende que aquilo se repete, bem como as passagens de tempo, que acontecem várias vezes ao longo do livro, mas são bem trabalhadas e não fazem com que nos sintamos perdidos na narrativa.

“Muitos magos com grande poder passaram a vida inteira para descobrir o único nome oculto ou perdido de uma única coisa. E as listas ainda não foram terminadas. Nem serão até o fim do mundo. Preste atenção e você verá por quê. No mundo sob o sol, e no outro mundo onde não há sol, há muita coisa que nada tem a ver com os homens ou com a língua dos homens, e há poderes além do nosso poder. Mas a magia, a verdadeira magia, foi elaborada somente por esses seres que falam a língua hárdica de Terramar ou a língua antiga a partir da qual esta nasceu.”

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Uma das coisas mais legais sobre esse mundo que é muito vasto é essa questão dos nomes. A nomenclatura real e orgânica de algo é essencial para se obter poder sobre a mesma, portanto, assim como é impossível conhecer o nome de todas as coisas, o nome das pessoas também é guardado a sete chaves. Por isso todo o ritual de renomear é tão importante e o nome de alguém somente é revelado aqueles em que se confia, sendo o restante do tempo chamado por um apelido.

Nosso protagonista é o Gavião, ou Ged – seu verdadeiro nome-, e desde o começo sabemos que o seu destino é realizar grandes feitos. Mas a que custo e como? Ele começa como um menino curioso e aos poucos vai se tornando negligente com o poder que vai adquirindo. Ele quer sempre provar-se melhor para os outros, sem se preocupar em aprender a controlar o seu poder ou a compreender o valor daquilo que tem em mãos. Por três vezes vemos ele levar sua magia ao extremo, o colocando entre a vida e a morte e ressaltando o fato de que esse magia não é algo a se brincar quando não se possui todo o conhecimento necessário.

Arrogante no começo, sua postura vai mudando ao longo da história devido a tudo que lhe acontece. Ele não vai passar emocionalmente inabalável por tudo isso, algo dentro dele vai endurecendo e aos poucos é possível compreender todo o processo de amadurecimento pelo qual Ged passou, algo que vem a ser refletido em suas ações.

Temos vários outros personagens coadjuvantes, mas o Gavião tem o protagonismo absoluto durante o livro todo e, digo a vocês que é possível sentir todo o tipo de sentimento por ele. Às vezes não entendemos sua arrogância ou falta de bom senso e as vezes só gostaríamos que ele fosse mais corajoso ou visse o que se coloca a sua frente. São etapas, tanto para o protagonista agir, quanto para o leitor reagir.

“Para que uma palavra seja dita é necessário silêncio. Antes e depois.”

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Para os fãs de reviravoltas e muitas emoções esse não será um livro que provavelmente agradará. A história é certeira, mas sem grandes twists. Ursula encanta pela intensidade que escreve e pela grandiosidade do mundo que construiu, bem como a forma seca com que o protagonista se apresenta. É possível sentir uma certa distância entre nós e Ged. Não somos amigos, somos espectadores, não temos direito de palpitar.

Achei a capa da edição da Arqueiro muito bonita e ela reflete uma cena super importante da história. Nesse mundo, ao contrário do momento em que vivemos hoje onde dragões são criaturas adoradas, eles era criaturas as quais todos temiam, estando muito mais próximo da obra de Tolkien, por exemplo, onde os dragões também se apresentavam como vilões.

Mas algo que não posso deixar de reclamar é sobre o mapa. Essa é uma história em que navegamos por quase todos os lugares e vamos de um a outro na troca de capítulos, então é necessário estar atento e, a não ser que se “esgarce” o livro, vários locais ficam ocultos na dobra da página. Inclusive um dos mais importante, que é a ilha onde fica a escola de magia e de onde se parte para vários outros locais. Portanto, ganhou pontos com a capa e perdeu com o mapa, item super importante, principalmente em histórias onde a locomoção acontece de forma constante e as características dos povos muda dependendo da região.

“Na época, 1967, todos os magos eram mais ou menos como Merlin e Gandalf. Homens idosos, com chapéus pontudos e barbas brancas. Mas eu devia escrever um livro para adolescentes. Ora, Merlin e Gandalf devem ter sido jovens um dia certo? E quando eles eram tolos e imaturos, como aprenderam a ser magos?”

No final do livro há um posfácio da autora e essa parte me chamou a atenção. Esse livro é de 1968, uma época onde nem a fantasia ainda tinha grande destaque a não ser por alguma obras maiores, como Senhor dos Anéis e a própria história de Merlin, e fiquei imaginando como seria para uma mulher se inserir nesse universo.  Eu por exemplo não fazia ideia que esse livro configurava como um clássico da fantasia, porque nunca tinha ouvido falar dele dessa forma ou sabia de sua idade. E, observem que sou uma fã do gênero. Portanto, acredito que acima de qualquer coisa esse é um aspecto que precisa ser levado em consideração. Querendo ou não, Ursula ajudou a moldar a geração de grandes escritores de fantasia que temos hoje, ao lado de outros grandes nomes.

À autora foi solicitado uma história que falasse sobre os jovens e com os jovens. Ursula uniu a inconsequência a um grande legado e presenteou o mundo com O Feiticeiro de Terramar. Ainda que me mantenha em dúvida sobre meus sentimentos, de uma coisa sei: Ged ainda não tem meu coração. Enquanto o Kvothe do Rothfuss é um personagem que eu adoro, o nosso Gavião se mostrou muito inconsequente nesse primeiro livro para merecer o mesmo mérito. Porém, em questão de mundo, a amplitude do que a autora criou é inegável e eu adorei tanto esse universo quanto a história em si.

Se você é fã de fantasia, fica aqui a dica de mais um livro super bacana. Esse é o primeiro livro de uma quadrilogia (que também possui mais 2 livros extras) e acredito que no ano que vem já teremos uma continuação para que não demore muito para voltarmos a visitar Terramar. E, acho que de forma natural, se você leu e gostou de O Nome do Vento, precisa conhecer essa obra!

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O FEITICEIRO DE TERRMAMAR

Autor: Ursula Le Guin

Editora: Arqueiro

Ano de publicação: 2016

Há quem diga que o feiticeiro mais poderoso de todos os tempos é um homem chamado Gavião. Este livro narra as aventuras de Ged, o menino que um dia se tornará essa lenda. Ainda pequeno, o pastor órfão de mãe descobriu seus poderes e foi para uma escola de magos. Porém, deslumbrado com tudo o que a magia podia lhe proporcionar, Ged foi logo dominado pelo orgulho e a impaciência e, sem querer, libertou um grande mal, um monstro assustador que o levou a uma cruzada mortal pelos mares solitários. Publicado originalmente em 1968, O feiticeiro de Terramar se tornou um clássico da literatura de fantasia. Ged é um predecessor em magia e rebeldia de Harry Potter. E Ursula K. Le Guin é uma referência para escritores do gênero como Patrick Rothfuss, Joe Abercrombie e Neil Gaiman.

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