A Zona Morta de Stephen King, originalmente intitulado “The Dead Zone” foi publicado pela primeira vez em 1979 sendo consagrado um romance de suspense sobrenatural, e ganhou uma adaptação cinematográfica trazida ao Brasil em 1983 com o nome de “Na hora da zona morta”. Em 2017 foi republicado pela editora Suma de letras.

SOBRE O LIVRO

John Smith é um pacato cidadão americano, ele trabalha como professor de ensino médio em uma pequena cidadezinha do Maine, chamada Cleave Mills. Fora um pequeno acidente enquanto patinava no gelo aos 6 anos, Johny nunca teve problemas maiores do que um galo na cabeça. Os pais dele também eram cidadãos comuns, sua mãe Vera Smith era uma fervorosa e até descontrolada religiosa que acreditava que Deus retornaria à Terra para buscar seus fiéis em discos voadores e outros delírios. O pai, era um homem gentil chamado Hebert Smith e trabalhava como marceneiro em pequenas construções.

Na véspera da noite de Halloween ele e sua namorada Sarah decidem passar a noite em um pequeno parque que se instalou na cidade para as comemorações. A roda da fortuna acaba atraindo a atenção de John, que decide fazer uma aposta, só por diversão. No entanto, quando ele começa a jogar não consegue parar. Levado por um “pressentimento” ele se sente incrivelmente capaz de derrotar a banca. Sarah, no entanto, sente um mal estar por ter comido algo estragado e pede que ele a leve para casa. Porém, algo acontece no seu trajeto pra casa e ele acaba sofrendo um acidente que o deixa com vários hematomas e um traumatismo craniano, o que o joga em um coma de quatro anos e meio.

“O homem que sente o vento da mudança deve construir não uma cerca, mas um moinho de vento.”

Quando finalmente acorda, sua volta à consciência é acompanhada de poderes sobrenaturais inexplicáveis. Para alguém que sempre se manteve discreto, o futuro reserva grandes revelações. Aparentemente, basta que ele toque em alguém para que o passado, o presente e o futuro se revele. É claro que muitas pessoas considerariam o novo dom como um presente, mas para John Smith não passa de uma maldição. No entanto, por mais que ele “se esconda” ou tente, não consegue se livrar das visões. E elas serão a principal causa de um grande acontecimento quando, ao apertar a mão de um político em início de carreira, ele prevê o que parece ser o fim dos tempos.


MINHA OPINIÃO

A Zona Morta é praticamente a parte literal do que diz ser. Em meio a tramas políticas e obsessões religiosas existe um lugar na mente de cada um dos personagens que parece se desprender dos acontecimentos reais e presentes para seus passados. Não só o protagonista, Jhonny, mas personagens importantes como seu antagonista Greg Sttilson parecem focar-se em memórias perdias e acontecimentos a longo esquecidos.

Trazendo pontos que a ciência não pode explicar, como a paranormalidade do protagonista, o autor cria um espectro sombrio em torno do enredo, não tão focado no sobrenatural, mas em aspectos que mexem com a mente humana simplesmente por existirem. É curioso imaginar qual seria a reação que teríamos se após quatro anos em um coma profundo acordássemos em um mundo diferente daquele deixado por nós e em meio a isso fôssemos assombrados por memórias que não nos pertencem. Afinal, existem segredos que anseiam por ver a luz do dia.


Um ponto interessante da narrativa é que o autor não se prende em somente contar a história do protagonista, mas desenrolada cada fio deixado solto pelo tempo, assim vamos nos encontrando em um tempo real junto a Johnny. É claro que o livro conversa com o leitor sobre aspectos que incomodam, como por exemplo o fanatismo religioso exposto de forma explícita pela mãe do protagonista. É curioso e ao mesmo tempo assustador descobrir que aspectos que nos mantêm vivos e fortes, como a fé, podem criar abismos entre a realidade, a lucidez e até mesmo entre nossas relações com pessoas próximas, podendo nos fazer perder absolutamente tudo. Outro ponto exposto é a participação da mídia em casos incomuns e como isso pode afetar a verdade por traz de fatos e influenciar pessoas a demonstrarem ódio, paixão, raiva e até mesmo esperança em algo ou alguém.

A crítica à política também é algo presente em toda a narrativa. A figura de Greg Sttilson, um político “novato” que joga cachorros-quentes para seus fiéis seguidores e parece acreditar que ser o “bobo da corte” é a maneira mais adequada de criar vínculos com eles. Implícito aí – mas não tanto assim –  existe o fato de que muitos políticos usam de mentiras e artimanhas que enchem os olhos da nação para chegarem aonde querem, e Greg faz isso com maestria ao consertar parquímetros, criar a política de “você decide o que vale a pena”, enquanto manipulada cada uma das pessoas para alcançar seu objetivo final.

John nunca antes se incomodara tanto com questões que não interferissem – ao menos, não diretamente – em sua vida. Ele apenas se comportava como um pacato professor de ensino médio, de um pequeno subúrbio, um cidadão comum que nunca havia tido grandes experiências ou participado de acontecimentos extraordinários, preferindo manter uma vida discreta longe de muitas atenções. Mas ao despertar com o novo dom, tudo parece fazer parte, em algum aspecto, de quem ele é ou deve ser…

Grande parte das questões internas que ele passa a desenvolver tem relação não só com seu novo “poder” mas com o fato de que ele não suportaria a ideia de se tornar um covarde e não interferir em certos acontecimentos, e, desta forma ele toma como uma “missão” fazer o que for possível para deixar de ser só mais um cidadão comum e apático enquanto o mundo parece estar prestes a entrar em colapso. É claro que inicialmente a ideia de interferir diretamente na vida de outras pessoas o assusta e ele tende a negar o que lhe aconteceu, afinal, existem segredos que estão lá para jamais serem descobertos. Mas, até que ponto vale a pena se esconder?

“Todos nós fazemos o que podemos, e isso tem de ser bom o bastante… e se não é bom o bastante, temos de continuar fazendo. Nada jamais é perdido… Não há nada que não possa ser encontrado. “

Quando cheguei ao final, fiquei na expectativa que o tópico fosse melhor explorado, talvez não tão diretamente, mas o que teria acontecido se tudo fosse diferente de como foi, já que o enredo sempre nos mostra diferentes possibilidades, senti falta delas em relação a este aspecto. Mas é claro que isso não foi um grande problema, já que na minha opinião, King continua sendo o mestre dos finais, senão surpreendentes, no mínimo, chocantes.

O livro é também uma ótima pedida para aqueles que se sentem atraídos pelas obras do autor mas não querem se deparar com monstros, como em IT, e nem aspectos sombrios e obsessivos, como os de seus psicopatas. A Zona Morta é uma obra extensa, porém onde tudo se encaixa de maneira uniforme apesar de a história não ser linear. Entre o ir e vir dos anos o autor faz a transição de uma forma suave que não cria no leitor a sensação de estar perdido no tempo.

E é  claro que como já de costume, assim que viramos a última página já estamos com saudades.

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A ZONA MORTA

Autor: Stephen King

Editora: Suma de letras

Ano de publicação: 2017

Após passar cinco anos em coma profundo, Johnny Smith, um simples professor, acorda de seu estado inconsciente não reconhecendo certos objetos. Segundo os médicos, Johnny está com uma área de seu cérebro danificada, a qual eles chamam de Zona Morta. Entretanto, este será o menor dos problemas na vida de Johnny daqui para frente.
Ele agora é capaz de, com um simples aperto de mão, saber fatos do passado das pessoas e prever seu futuro. Para aqueles que estão a sua volta, esta é uma dádiva. Para Johnny, não passa de uma maldição. Com isso, o professor torna-se popular, atraindo um número crescente de pessoas em busca de previsões.
Mas, ao apertar a mão de Greg Stillson, um inescrupuloso político norte-americano, Johnny será atormentado por uma visão apocalíptica. Ele será, então, obrigado a tomar uma decisão que pode mudar não só a sua, como a história de todo o mundo.

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