Indicado ao Oscar 2017 na categoria de melhor figurino, “Aliados” é uma trama trágica que segue um casal de espiões durante a Segunda Guerra Mundial. 

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“Aliados” é um filme trágico – no bom e no mau sentido. Trágico no bom sentido porque seus desfechos trazem os tons típicos da tragédia teatral: um sacríficio, a única saída inevitável e necessária como resolução dramatúrgica para o xeque-mate que se montou – o amor como solução final. Lindo, não? Mas então temos também a parte trágica no mau sentido, porque o filme resolve jogar todo o seu potencial dramático no lixo por pura vontade de permanecer no limbo do comum, isto é, flutuar nos âmbitos do didatismo precipitado dos produtores de cinema de massas que subestimarm o espectador – querem desenhar pra gente, explicar demais, forçar a barra do melodrama porque aparentemente somos tão insensíveis que só somos capazes de nos emocionar quando a trilha sonora emotiva toca. Nessa dicotomia entre uma espécie de tragédia shakesperiana e a tragédia real de um filme com potencial desperdiçado é que residem as principais características de “Aliados”.

Protagonizado pelos excelentes Brad Pitt (eu realmente preciso apresentar?) e Marion Cotillard (“Peixe grande”, “La vie en rose”, “Meia-noite em Paris”) em atuações seguras, o casal de espiões é a âncora que move a projeção. A trama ocorre durante os anos 40, na Segunda Guerra Mundial, e segue Max Vatan (Brad Pitt), enviado ao Marrocos para uma missão espiã, devendo completá-la com a companhia da (aparente) Marianne Beausejour (Marion Cotillard), na qual os dois devem fingir ser esposo e esposa afim de assassinarem um diplomata nazista. Os dois então apaixonam-se, casam-se, tem uma filha, e o plot point trágico acontece: aparentemente, Marianne não é a real Marianne; ela é, na verdade, uma espiã nazista. O personagem de Brad Pitt, então, é ordenado a matá-la, caso confirmada a suspeita, ou será ele mesmo executado por alta traição.

Dirigido pelo ganhador do Oscar Robert Zemeckis (“De volta para o Futuro”, “Forrest Gump”), percebemos na obra relances de uma direção habilidosa andando lado a lado com a postura de um filme-padrão-hollywoodiano: segue uma receita pré-definida e os mesmos truques melodramáticos comuns de uma peça em que foram investidos cerca de $80 milhões de dólares e é melhor que este troço lucre. Os produtores acham mais seguro usar trilhas melodramáticas e artifícios de roteiro pra garantir que entendamos o amor envolvido na história. Esse didatismo ridículo simplesmente não faz sentido e é o que decai a qualidade dessa obra-mercadoria. O resultado poderia ter sido um desastre se alguém competente como Robert Zemeckis não fosse o diretor.

Mantendo a lógica de um hollywood-standart, a direção de fotografia em parceria com a de arte mantém o uso do digital em que exaspera-se a correção de cores, criando-se um mundo sem textura, liso, flat, o que talvez se justifica pelo uso do CGI em muitos trechos. Em tal tipo de fotografia, as cores no mundo do filme soam pra mim como o tomate vermelhíssimo de casca perfeita que encontramos no supermercado – é bonito, mas é um embuste.

Em termos do uso de cores, há preferência por paletas limitadas, ao variar-se os ambientes, no Marrocos, por exemplo, usa-se muito de tons de amarelo/laranja, em Londres, predominam cores mais escuras em um ambiente neonoir. O uso marcante de cor, contudo, vai pro vermelho, usado em uma dicotomia paixão/perigo, sempre presente no batom/esmalte/guarda-roupa de Marion, mas também cor do símbolo nazista, o que já nos dá uma dica da personalidade da personagem desde o princípio do filme através das rimas visuais propostas, tal como o uso de espelhos, o que busca dar a entender seu caráter de duplicidade.

O uso da trilha denota o maior clichê que um hollywood-standard pode nos dar: é melodramática e forçada. Apesar de funcionar em alguns momentos de tensão, a trilha parece constantemente tentar forças sentimentos românticos. Contudo, como o filme se passa nos anos 40, há também o uso de jazz nas cenas de festas, etc, contribuindo para a ambientação histórica clichê. A indicação ao Oscar na categoria de figurino confirma a tendência da academia em indicar os guarda-roupas dos filmes de época, o que não deixa de ser justo.

Ainda não me contentei com a tragédia de ver um filme com potencial desperdiçado por culpa de truísmos. Podendo ter se redimido de suas escolhas óbvias e pouco criativas ao longo da projeção, “Aliados” é um filme que apesar dos relances de qualidade e potencial, perde-se na pretensão de ser obra-mercadoria consumível pelo maior público possível, o que sacrifica seus prós e exaspera seus contras.

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ALIADOS

Diretor: Robert Zemeckis

Elenco: Brad Pitt, Marion Cotillard, Jared Harris e mais

Ano de lançamento: 2017

Em uma missão para eliminar um embaixador nazista em Casablanca, no Marrocos, os espiões Max Vatan (Brad Pitt) e Marianne Beausejour (Marion Cotillard) se apaixonam perdidamente e decidem se casar. Os problemas começam anos depois, com suspeitas sobre uma conexão entre Marianne e os alemães. Intrigado, Max decide investigar o passado da companheira e os dias de felicidade do casal vão por água abaixo.

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