Atenção!

Esse filme pode causar desconforto pois contém cenas de violência.

Temos visto nas telas de cinema e nos serviços de streaming uma crescente onda de histórias protagonizadas por mulheres que desafiam o padrão, o machismo e o patriarcado enraizados em nossas vidas em comunidade hoje. Ironicamente, mesmo que essas personagens venham ganhando cada vez mais espaço, acabam ainda sendo submetidas a se encaixarem em um padrão de masculinização, hipersexualidade, centralizando tudo em sua índole pura, grandes e definidos bíceps ou apresentando um decote que combine com sua metralhadora ou sua pose de luta.

A prova desse padrão gerado é que quando houve o boom, Mulher-Maravilha se destacou no mercado cultural e financeiro, as heroínas que estavam em alta e suas criadoras tiveram que vir a público defender a necessidade de se ter representações que fujam dessa padronização, exemplo disso foi a diretora Patty Jenkins (diretora) defendendo Sarah Connor (Capitã Marvel) por acreditar ser um exemplo melhor de heroína e não só um ícone de beleza.

E é ai que surge então nesse ano a nova aposta do universo DC: Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa, que vem na ideia de enfatizar a “mulher forte” muito bem construída e contextualizada e simplesmente jogar essa ideia pelos ares. O filme que é produzido e estrelado por Margot Robbie (Arlequina) apresenta novamente a versão fetichista e fofa apresentada em Esquadrão Suicida (2016), sem negar sua origem complicada. Sim, nossa querida Harley Quinn estava vivendo em um relacionamento abusivo e infelizmente ela gostava da proteção e poder que vinham acompanhados dele, mas finalmente, caiu em si e pra ele não volta nunca mais.

Paul Dini e Bruce Timm, os criadores da vilã/anti-heroína, buscaram ver na criação dela não uma Arlequina que é maltratada enquanto jura lealdade e amor eterno ao seu agressor, mas o que finalmente conseguiu ser retratado agora em Aves de Rapina. A história chega em um ponto que: Ou Arlequina se emancipa ou vai encontrar a morte. O que acontece é que na adaptação cinematografia da HQ, é um bom meio para se ver isso, mas não é a solução completa. Mas o incrível trabalho da roteirista Christina Hodson nos faz ver que o filme foi feito de mulheres para mulheres, que tem grande capacidade de, ao apresentar cada personagem, gerar empatia no seu público.

Personagens essas que formam nossas queridinhas são: Caçadora (Mary Elizabeth Winstead) que possui habilidades incríveis de assassina, mas zero manejo de uma boa interação social, Renee Montoya (Rosie Perez) que é o clichê policial heroico em sua constante luta pela verdade e justiça, e por fim, a já conheçida pelo ArrowVerse (Universo de Arrow) Canário Negro (Jurnee Smollett-Bell) que prefere se calar do que se utilizar do poder da sua voz. O carisma das atrizes faz de suas imperfeições algo que se torna aceitável ao público. Mas não para por aí, pois pra fechar o filme ainda apresenta Cassandra Cain (Ella Jay Basco), que é meio utilizada para movimentar o filme, junta a figura fofa de adolescente da atriz com a mente perversa que ela possui. É ela que nos entrega o plot que liga todas e faz a história acontecer.

Assuntos pesados – incluindo abuso e sadismo – se manifestam na história como um guia por todo o enredo e que se forma como base da narrativa de nossa querida vilã e a maneira de como ela se comunica com o público. A violência é apresentada por meio de muitas cores, efeitos e uma boa escolha de faixas musicais. A comparação com Deadpool é quase que inevitável para o espectador, mas em meio a essas comparações, Aves de Rapina mostra seu valor e sua singularidade. Isso é mérito de K.K. Barrett (designer de produção indicado ao Oscar por Her), Erin Benach (figurinista de Drive e Demônio de Neon) e Matthew Libatique (diretor de fotografia indicado ao Oscar por Nasce Uma Estrela e Cisne Negro), que equilibram luxo e decadência para captar uma Gotham que vai contra o padrão já apresentado nas suas adaptações.

Aves de Rapina possui cenas que se utilizam da feminilidade como força, que se usam do feminino como fonte da própria brutalidade das personagens. O corpo, o cabelo, as vestimentas, todas elas não são só adereços que acrescentam aos figurinos das meninas guerreiras, são armas poderosíssimas usadas por elas para acabar com os capangas e machuca-los ainda mais.

A diretora Cathy Yan mostrou que a quebra de padrões não deve ser um limitador para as história protagonizadas por mulheres, mas uma nova fase do empoderamento feminino. As habilidades modestas de suas protagonistas e os problemas comuns dão ao filme um propósito realista, e até mesmo a relação entre Arlequina, sua lanchonete favorita e seu “pão com ovo” tem valores grandiosos pra história. 

Máscara Negra (Ewan McGegor), é o vilão da trama, e até mesmo ele assume sua caricatura dentro desse atmosfera “fantabulosa” do filme. Vindo de uma família rica, ele é a síntese do homem em sua grande busca de poder que somente se submete a outro homem com mais poder que ele e não abaixa cabeça pra mais ninguém (será?). E temos também Victor Zsasz (Chris Messina), amante e lacaio do vilão.

Por mais defeitos na construção da história, no enredo um pouco simplório e uma história acelerada demais, derrotar os vilões e salvar o dia não é somente mais uma etapa para Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa, mas é levar as pessoas a acompanhar a jornada pela auto realização e auto descobrimento das suas personagens.

O filme abusa dos seus contrastes sendo bruto/delicado, adorável/violento, estranho/convencional, heroico e assim entrega para o público a ideia que boas histórias vão além de força e independem do gênero, não é o “padrão” que determina aqui, mas sim se conhecer, ter coragem e aceitar a si mesmo.

Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa é um filme único e muito bem construído para enfatizar que agora é dela que temos que ter medo, pois ela sabe quem é e o que pode fazer . Vale muito a pena assistir.

AVES DE RAPINA: ARLEQUINA E SUA EMANCIPAÇÃO FANTABULOSA

Diretor: Cathy Yan

Elenco: Margot Robbie, Jurnee Smollett-Bell, Mary Elizabeth Winstead, Rosie Perez, Ella Jay Basco, Ewan McGegor, Chris Messina e mais

Ano de lançamento: 2020

Sinopse

Em Aves de Rapina – Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa, Arlequina, Canário Negro, Caçadora, Cassandra Cain e a policial Renée Montoya formam um grupo inusitado de heroínas. Quando um perigoso criminoso começa a causar destruição em Gotham, as cinco mulheres precisam se unir para defender a cidade

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