Depois de Auschwitz é um livro de memórias escrito por Eva Schloss e publicado no Brasil pela Editora Universo dos Livros em 2020. 

Sobre o Livro

Livro memorial que apresenta o relato de Eva Schloss, Depois de Auschwitz apresenta a vida de Eva e sua família antes, durante e depois da Segunda Guerra Mundial. Família judia, os pais de Eva, bem como seu irmão e ela própria, foram perseguidos durante o holocausto e depois separados quando uma grupo de denúncia os delatou para a polícia de Hitler. Mandados para Auschwitz, a família relata os horrores do campo de extermínio e acompanhamos pelas memórias de Eva o que ela e a mãe enfrentaram enquanto estiveram juntas executando os trabalhos forçados e expostas a condições humanas miseráveis. 

Desde que essas leis foram estabelecidas, os judeus foram proibidos de fazer tal juramento e foram automaticamente banidos de todas as funções governamentais e de todas as profissões oficiais. Professores judeus não poderiam mais trabalhar nas escolas e médicos judeus foram proibidos de cuidar de pacientes que não fossem judeus.

Após a guerra e a libertação, Eva e a mãe descobrem que o pai e o irmão morreram e precisam juntas reaprender a viver em meio aos traumas do acontecido. Os relatos acompanham Eva até a idade adulta, mostrando também o envolvimento da mãe de Eva com o pai de Anne Frank, Otto Frank. As memórias reforçam a importância de manter viva a história daqueles que foram vítimas do nazismo para que as gerações futuras não esqueçam o horror que aconteceu no passado. 


Minha Opinião

É praticamente impossível dar notas ou comentários avaliativos sobre livros que são memoriais. O relato de Eva Schloss não cabe em estrelas por partir de uma memória histórica necessária de ser conhecida por todos aqueles que sabem ou que precisam ser lembrados dos horrores da Segunda Guerra Mundial. Se for para traçar comentários em termos estruturais, esse é um relato extremamente dinâmico: Eva confessa no começo do livro que aquelas memórias ficaram escondidas em sua mente por muitos anos devido ao trauma e só surgiram como uma necessidade de serem verbalizadas quando Eva já era muito mais velha. É nesse tom aberto e dinâmico que ela convida o leitor a acompanhar seu passado ao seu lado: os relatos são extremamente pesados, mas a escolha de escrita de Eva os torna o mais didático possível para que o leitor seja rapidamente inserido no fluxo de seus pensamentos. 

A escolha de Eva em narrar o que aconteceu antes da ascensão do nazismo e os momentos de fuga da família até o momento da denúncia que os levou para o campo de extermínio levantou uma série de reflexões que eu nunca havia parado racionalmente para pensar: a exposição a perigos como assédio e abuso de poder mesmo quando a família de Eva conseguia ficar escondida na casa de alguém foi um dos choques do livro. Sem direitos políticos e à mercê da boa vontade das famílias que os acolhiam, os pais de Eva enfrentaram cobranças abusivas por dinheiro e todos passaram por situações de maus tratos.

Eva, ainda muito criança, foi vítima de abuso sexual e sua família foi obrigada a se calar quando a proprietária disse que não expulsaria o abusador apenas porque eles estavam pedindo. Esse é um dos momentos mais pesados do livro e pela primeira vez me vez pensar na quantidade de violências e na desmoralização que as pessoas perseguidas pela Alemanha Nazista passavam mesmo quando estavam sendo ajudadas. 

A nossa porta foi puxada com um movimento pesado e, enquanto ficávamos na escuridão, ouvi a trava se fechar. Com um estremecer extenso e lento, a locomotiva começou a se movimentar, e a sensação era a de que tínhamos dado início a uma viagem para o inferno.

Após a introdução desse momento pré captura, o momento em que de fato vemos a família ser denunciada e pega a força é uma das partes mais angustiantes. A crueldade do processo, o quão desumano era o tratamento dado aos perseguidos capturados e as pequenas violências que juntas denunciam uma situação de crueldade ainda maior são momentos do relato que precisam ser lidos com calma. Pela proximidade que Eva estabelece com o leitor, é impossível não se emocionar. 

Outra percepção nova foi introduzida ao final do relato: o pós-guerra e a dor silenciosa e traumática que Eva e sua mãe carregaram consigo por toda a vida. Acho que por a mídia concentrar os estudos e matérias no “durante” da guerra, nunca pensei no depois e o relato de Eva sobre a dor do luto, a confusão de não saber mais qual seu lugar no mundo, a memória do que havia acontecido e a dificuldade de entender o que fazer dali em diante quando não há mais sentido para nada, são pontos que me encheram de reflexões novas sobre o que acontece após de uma situação tão absurda. 

O relato de Eva, apesar de tudo, termina em um chamado esperançoso e confia na memória das futuras gerações o dever de não repetir os mesmos erros do passado. A menção ao trabalho de Otto Frank com o diário da filha, Anne, é também um ponto interessante e mostra os bastidores do esforço familiar de lembrar Anne Frank por meio dos projetos que o diário desenvolvia. A importância da mensagem final é clara: é preciso lembrar sempre daquilo que tirou tantos inocentes de suas vidas, pois só assim os honramos e só assim aprendemos a não permitir que nenhum caminho para tal evento se desenvolva novamente. 

Depois de Auschwitz é uma leitura daquelas que é até rápida de fazer, mas que exige muito estômago e um exercício constante de memória para que nada seja apresentado em vão. É uma leitura necessária a todos que defendem a história e que sabem honrar a memória daquilo que passou e descartar aquilo que jamais deve se repetir outra vez. 

DEPOIS DE AUSCHWITZ

Autor: Eva Schloss

Tradução: Amanda Moura

Editora: Universo dos Livros

Ano de publicação: 2018

Em seu aniversário de quinze anos, Eva é enviada para Auschwitz. Sua sobrevivência depende da sorte, da sua própria determinação e do amor de sua mãe, Fritzi. Quando Auschwitz é extinto, mãe e filha iniciam a longa jornada de volta para casa. Elas procuram desesperadamente pelo pai e pelo irmão de Eva, de quem haviam se separado. A notícia veio alguns meses depois: tragicamente, os dois foram mortos. Este é um depoimento honesto e doloroso de uma pessoa que sobreviveu ao Holocausto. As lembranças e descrições de Eva são sensíveis e vívidas, e seu relato traz o horror para tão perto quanto poderia estar. Mas também traz a luta de Eva para viver carregando o peso de seu terrível passado, ao mesmo tempo em que inspira e motiva pessoas com sua mensagem de perseverança e de respeito ao próximo – e ainda dá continuidade ao trabalho de seu padrasto Otto, pai de Anne Frank, garantindo que o legado de Anne nunca seja esquecido.

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