Este clássico do autor português Saramago, tem edição pela Companhia das Letras em 2020.

Sobre o Livro

Em um dia qualquer, sob um trânsito rotineiro, um homem dirigindo um carro espera pelo sinal abrir. O que ele não contava era que após o semáfaro indicar a luz verde permitindo os carros passarem, o condutor simplesmente perdera a visão.

Vendo tudo em branco e sem saber o que fazer, aquele homem se tornou o primeiro contaminado de uma doença que passou a deixar as pessoas cegas. Pouco a pouco cada pessoa que entrava em contato com os recém cegos se tornava parte deles. E em um curto tempo a vida de muitas pessoas mudam drásticamente.

“O disco amarelo iluminou-se. Dois dos automóveis da frente aceleraram antes que o sinal vermelho aparecesse. Na passadeira de peões surgiu o desenho do homem verde. A gente que esperava começou a atravessar a rua pisando as faixas brancas pintadas na capa negra do asfalto, não há nada que menos se pareça com uma zebra, porém assim lhe chamam.”

É assim que Ensaio Sobre a Cegueira começa, levando diversas questões para debate: sobrevivência, humanidade e a divergência do mundo visível e o não visível. Até que ponto a essência humana se garante em um cenário de incertezas e de inseguranças? E até que ponto estamos dispostos a manter nossa humanidade enquanto tentamos sobreviver?

Minha Opinião

A narrativa de Saramago por mais que possa parecer maçante, cansativa e extremamente lenta devido aos longos parágrafos, para mim é uma forma única e formidável de narração, agregando um ritmo fluído e construtivo, sem aderir aos mínimos detalhes, focando na evolução da história e dos acontecimentos. Este livro não podia ficar de fora no quesito narrativa. Não há como não gostar das palavras que ele cuidadosamente escolher para construir seus romances.

“O sinal verde acendeu-se enfim, bruscamente os carros arrancaram, mas logo se notou que não tinham arrancados todos por igual. O primeiro da fila do meio está parado, deve haver ali um problema mecânico qualquer, o acelerador solto, a alavanca da caixa de velocidades que se encravou, ou uma avaria do sistema hidráulico.”

É por isso e por mais que em alguns momentos a história pode parecer parada, a narrativa em si sustenta uma obra como esta, que li com muito interesse principalmente por causa da sinopse. O autor traz aqueles elementos apocalípticos onde o ser humano transforma seu comportamento civilizado em bárbaro.

Para muitos que acompanham séries, filmes e até livros com esta temática, este livro não promete trazer elementos diferentes até por que na verdade por se tratar de um livro lançado originalmente em 1995, o que temos é uma das histórias percursoras sobre esta temática e ainda por cima dentro não só da literatura lusitana como a de toda a literatura da língua portuguesa. Este dado já diz por muito a importância dessa ficção.

“[…] O novo ajuntamento de peões que está a formar-se nos passeios vê o condutor do automóvel imobilizado a esbracejar por trás do pára-brisas, enquanto os carros atrás dele buzinam frenéticos.”

Outro elemento único de Saramago nesta história é em relação às personagens. Saramago não deu nome a elas. Cada personagem segue uma nomeação a partir do que ela fez e marcou na história ou é descrita através de substantivos como “A Mulher dos Óculos Escuros” ou o “Primeiro Cego”. É muito curioso quando acompanhamos uma história construída desta forma.

Apesar de tudo, senti que neste livro não há muitos elementos surpreendentes. Ao contrário, há cenas até pesadas de violência sexual com alguns detalhes que não deveriam valer páginas. De qualquer forma, a intenção era mostrar o lado obscuro da humanidade quando se submete em um cenário apocalíptico e aqui Saramago pôde mostrar muito bem.

ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA

Autor: José Saramago

Editora: Companhia das Letras

Ano de publicação: 2020

Uma terrível “”treva branca”” vai deixando cegos, um a um, os habitantes de uma cidade. Com essa fantasia aterradora, Saramago nos obriga fechar os olhos e ver. Recuperar a lucidez, resgatar o afeto: essas são as tarefas do escritor e de cada leitor, diante da pressão dos tempos e do que se perdeu. Um motorista parado no sinal se descobre subitamente cego. É o primeiro caso de uma “”treva branca”” que logo se espalha incontrolavelmente. Resguardados em quarentena, os cegos se perceberão reduzidos à essência humana, numa verdadeira viagem às trevas. O Ensaio sobre a cegueira é a fantasia de um autor que nos faz lembrar “”a responsabilidade de ter olhos quando os outros os perderam””. José Saramago nos dá, aqui, uma imagem aterradora e comovente de tempos sombrios, à beira de um novo milênio, impondo-se à companhia dos maiores visionários modernos, como Franz Kafka e Elias Canetti.Cada leitor viverá uma experiência imaginativa única. Num ponto onde se cruzam literatura e sabedoria, José Saramago nos obriga a parar, fechar os olhos e ver. Recuperar a lucidez, resgatar o afeto: essas são as tarefas do escritor e de cada leitor, diante da pressão dos tempos e do que se perdeu: “”uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos””.

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