Fábulas Cruéis é um livro com fábulas reunidas pelo escritor Luiz Vadico e foi lançado pela editora Empíreo em 2016.

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Sobre o livro

O livro é formado por 30 fábulas que focam principalmente nos animais, usando de situações corriqueiras deles para ensinar algo sobre a nossa própria realidade. Ele possui 187 páginas e cada fábula é muito curta, algumas de apenas uma página. Dentre elas, estão fábulas como “O coro dos passarinhos”, focando principalmente na união dessas aves e em como é dividido o sistema deles, fazendo assim uma alusão aos nossos políticos e em como é dividido o nosso próprio sistema. Cada texto vai ter uma moral no final.

Outra fábula que pode ser considerada bem contemporânea e que trata de um assunto polêmico é “Uma família para Sara e Sônia”, duas águias fêmeas que querem ter um filho e constituir uma família e não bem vistas pelas outras aves e para isso precisam lidar com todo o julgamento e a incompreensão de quem está de fora. Elas inclusive tentam pegar ovos de outras aves, o que é uma referência direta a adoção, mas isso é retratada como algo difícil assim como na vida real.

“- Sara, para! Você me desespera assim! Para de construir esse ninho!

– Não é apenas um ninho – respondeu, séria -, é o nosso lar.

– Que lar?! Não teremos filhotes! Não seremos uma família.

– Eu e você somos uma família! – respondeu convicta.”

Poucas fábulas trazem a figura do ser humano diretamente, seja como um homem em “Os homens que falavam estrela”, que vive em um planeta onde as palavras foram esquecidas com o tempo e a única que permaneceu para ser referência sobre tudo foi a palavra “estrela”. Conforme a narrativa dessa fábula avança, observamos a divisão de um povo através de outras palavras e a guerra que pode gerar disso tudo. Seja por uma simples participação no “A lebre, a tartaruga e o monge zen-budista”, que apesar de parecer tão insignificante para alguns, a aparição da figura do homem como monge é de grande importância, mesmo não sendo o protagonista dessa fábula.

Nas poucas histórias que não contam com animais ou até plantas, encontramos humanos sempre em condições especiais, nunca no nosso mundo real, mas em mundos diferentes, reinos com princesas ou até um lugar onde é possível falar com os animais. Tudo é bem fantasioso e os animais falam e possuem um senso de julgamento muito apurado e procuram aprender com as adversidades encontradas no seu caminho. Cada fábula conta com uma moral no final e cabe ao leitor tirar as suas próprias conclusões acerca de cada assunto que é tratado.


Minha opinião

Infelizmente não consegui dar uma nota maior para esse livro. Quando comecei a ler, pensei que seria um livro realmente sobre fábulas cruéis e, a promessa de ser assustador, deixou a desejar desde a primeira história. Achei, inclusive, que é um livro bem infantil a julgar pela sua escrita. A maioria das fábulas é bem sem graça e não notei muito desenvolvimento do que estava sendo escrito. Um detalhe que observei é que a maioria dos animais possui nome e tem uma parte de sua vida narrada, o que creio ter sido usado para fazer uma aproximação com o leitor e dar mais veracidade ao que estava sendo passado.

Em contra partida, o trabalho feito nessa edição está impecável. O livro é em capa dura e suas laterais são em preto, o que dá um visual sombrio para o volume, mas não condiz com o seu conteúdo. A capa é linda, e possui lobos e borboletas que estão presentes em determinadas histórias, fazendo assim uma referência ao que encontraremos durante a leitura. Ao final de algumas fábulas temos desenhos, alguns que remetem ao que já foi tratado até então e outros que não encontrei muito significado. É um trabalho muito lindo e adulto, mas que foi feito para um livro que, na minha humilde opinião, seria para crianças. Dei três estrelas mais pelo trabalho gráfico do que pelo conteúdo literário em si.

“Existem casas vazias, não importa quão belas sejam por fora, e em suas portas é inútil bater. E não importa o quão bom você seja, perseverante, trabalhador, fiel e leal.”

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O texto que eu mais gostei foi o “A casa vazia” que conta a história de uma princesa, um dos poucos textos que usa o ser humano diretamente na história, que vai em busca do seu grande amor e faz tudo para encontrá-lo e agradá-lo. Inclusive, levar anos da sua vida, juventude e sanidade a esperar sua volta em uma casa vazia. Notei uma crítica as pessoas que são consideradas “vazias” e o velho ditado de não fazer muito por quem não faz nada pela gente. Observamos o declínio de uma jovem juntamente com as suas esperanças.

Seguindo esse mesmo tema de usar o homem como modelo direto, também acho interessante ressaltar o texto “A esperança”, a história de um doente em estado terminal que é induzido ao padre a mentir sobre algo para os que estão presentes. Dessa forma, ele tenta reafirmar a esperança dos que estão a sua volta em um assunto tão importante e misteriosos quanto a morte. E observamos o dilema que esse doente passa nos seus últimos momentos de vida, entre mentir fazendo o que é ordenado pelo padre ou falar a verdade e, provavelmente, acabar com a esperança de quem ele ama.

“- Ninguém precisa de Deus, meu filho, só de esperança. O resto é excesso de informação.”

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Creio que podemos concluir que o título que ficou tão deslocado com o conteúdo do livro, pode ser empregado na hora de fazermos a transição do que está sendo lido para o nosso cotidiano. O próprio leitor faz essas referências e usa o que está sendo passado para fazer a análise com a realidade atual. Essa analogia feita entre os animais e as situações enfrentadas pelo homem moderno é o que faz o título ter sentido, mas esse sentido só vem depois que você termina o livro. Em um primeiro momento, não é fácil fazer essa ligação. Esse é um livro feito para se pensar e extrair um significado maior do que está escondido nesses textos.

Ao final de cada uma das fábulas ficamos tentando encontrar a ligação com situações que já passamos ou que já ouvimos falar, buscamos uma moral. Notei grandes referências a elementos da natureza, animais e seres que habitam o nosso imaginário, tentando fazer uma conexão com a nossa própria vida. Confesso que o livro não me prendeu, mas acabei lendo ele bem rapidamente por ser um livro curto e possuir as suas fábulas de no máximo três ou quatro páginas. Particularmente, não gostei do livro, mas acredito que ele poderia agradar crianças que estão começando a entender como funcionam as nuances da humanidade.

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FÁBULAS CRUÉIS

Autor: Luiz Vadico

Editora: Empíreo

Ano de publicação: 2016

Luiz Vadico traz de volta as fábulas – composição literária que tornou famosos grandes escritores como Jean De La Fontaine -, dando um toque sinistro e cruel a elas. Cada uma das 30 histórias revelam uma moral de uma forma sombria e, por vezes, assustadora.

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