Girl from Nowhere | Crítica - Resenhando Sonhos

Girl from Nowhere, ou Garota de Fora na tradução brasileira, é uma série tailandesa lançada em 2018 e distribuída mundo afora pela Netflix. A série funciona através de contos independentes em cada episódio, com diretores e elenco únicos, com exceção da protagonista, Nanno, interpretada pela atriz Chicha Amatayakul (Kitty).

Nanno é como a personificação do karma: um ser que habita as escolas tailandesas como uma aluna qualquer, mas cuja mera presença atrai o caos, provocando seus colegas até serem forçados a sofrer as consequências de suas ações.

Escolas são locais que despertam boas e más lembranças na maioria de nós. A adolescência por si só é uma fase de muitas emoções, acertos e erros… Todos fizemos algo ruim na época da escola, nossa sorte foi não ter Nanno na turma.

Girl from Nowhere poderia facilmente passar despercebido no catálogo da Netflix como mais um suspense estrangeiro comum que tem como “monstro” uma garota colegial. O grande diferencial da série, no entanto, é apresentar uma personagem como o estereótipo da jovem assustadora – com direito até a uma risada sádica característica – então deixa-la apontar ao espectador o verdadeiro vilão. Afinal, muitas vezes as situações pelas quais passamos na escola são muito mais terríveis do que fantasmas, e nos assombram por muito mais tempo.

Mesmo se passando em um país distante, fiquei surpresa ao perceber que algumas experiências mostradas pela série não são tão diferentes de casos sobre os quais ouvimos falar, ou até que vivemos, no ocidente: professores e instituições que abusam de seu poder, trotes mortais, bullying, rivalidade, entre muitas outras críticas pertinentes.

A série se inspira também em casos reais que aconteceram na Tailândia, tão absurdos que se encaixam perfeitamente na atmosfera tensa do drama.

Dentro desde cenário caótico, surge Nanno, uma força na forma de estudante que se torna o gatilho de todas as coisas terríveis que acontecem ao redor.

Como único ponto em comum entre os episódios, o carisma da protagonista é essencial e sua existência em si é um mistério divertido de desvendar: é uma estudante normal? Uma espécie de demônio? É “do Bem” ou “do Mal”? Há momentos em que a personagem incita medo, quando acompanhamos de perto o sofrimento de pessoas que cometeram erros e foram pegas em seu karma. Em outros, conseguimos identificar um vilão em comum e torcemos por sua vitória como se de alguma forma pudesse impactar nosso mundo real. A série consegue jogar o espectador de um lado para o outro, o forçando a criar empatia por pessoas horríveis e refletir se seu sofrimento realmente é a consequência ideal.

Com um episódio completamente diferente do outro é claro que há favoritos, mas, também por esse motivo, os pontos abaixo da expectativa não impactam o desempenho geral da série, a mantendo digna de maratonar sem perder o ânimo.

A fórmula de “conflito-punição” não se torna cansativa justamente pela da proposta de trazer diferentes profissionais para a produção de cada episódio. Cada história é contada de uma forma única. “Parede enfeitiçada” (episódio 6 e 7, temporada 1) usa da fantasia como arma para a punição de Nanno, em “Ranking das 10 mais” (episódio 11, temporada 1) temos grande influência da tecnologia, e “Liberação” (episódio 6, temporada 2) é majoritariamente em preto e branco para mostrar de forma artística a rigidez do sistema educacional.

Girl from Nowhere é uma série de suspense única, que agrada os fãs de histórias bizarras e tensas sem deixar de lado as críticas sociais a que se propõe.