Atenção!

Este é um livro que vai tratar sobre "revenge porn" ou vingança pornô em tradução livre. Portanto se você é sensível quanto ao assunto, fique por sua conta e risco seguir com a leitura da resenha e do livro.

Mil Palavras é uma obra da autora Jennifer Brown publicado em 2018 pela editora Gutenberg.

Sobre o Livro

Quando você está em um relacionamento com certeza você confia no seu amante. E por conta dessa confiança que nasce junto com o amor, na inocência de acreditar que tudo dura para sempre, você envia uma foto nua para ele. Seja para apimentar a relação ou para reacender uma chama já apagada. No caso de Ash, ela estava cansada de ser trocada pelos amigos do namorado toda vez. E resolveu então escutar os conselhos nada construtivos de suas amigas: “envia uma foto nua para ele, ele vai ficar maluco.”

E ele ficou mesmo maluco. Ashleigh passou a ser a primeira escolha, até não ser mais. Kaleb é dois anos mais velho que ela, e ao entrar na faculdade as coisas voltam a esfriar entre eles, e o pouco tempo que Ash tinha com o namorado, não tem mais. As brigas acontecem e com elas o término do namoro.

“Todo mundo se arrepende de alguma coisa”, Darrel murmurou depois que Kenzie saiu. “Não seria humano não se arrepender.”

página 26.

O que poderia ter sido um término tranquilo, acaba virando o pior pesadelo da vida de Ashleigh, quando aquela foto, tirada tão timidamente para o amor de sua vida começa a circular nas redes. Se já não bastasse toda a vergonha e a humilhação de uma garota virgem e tímida ter cometido um simples “erro”, Ash vai ter que conviver como sendo a culpada pelas fotos estarem circulando. Pois é, divulgar fotos pornográficas para menores de idade é crime.


Minha Opinião

Eis um livro que mexeu demais comigo. Jamais imaginei ver um revenge porn de uma forma em que a vítima fosse a culpada. É claro que Kaleb vai pagar por isso, e de uma forma mais grave já que ele já tinha 18 anos quando começou a confusão. Mas Ash acaba tendo que cumprir pena de 60 horas de infração ao menor. Além de ter que enfrentar toda a humilhação de centenas de mensagens que recebe por dia a chamando de puta, vaca, vadia, cadela… Ainda terá que realizar um trabalho de pesquisa criando diversos folhetos informativos de quanto é errado espalhar pornografia.

É um pouco bizarro pensar que a vítima pode ser a culpada pelo crime. Mas infelizmente as leis vivem em mudança, e já em alguns estados americanos enviar pornografia infantil (independente de que quem enviou foi a própria pessoa da imagem) é considerado crime, e adolescentes são sim condenados e obrigados a cumprir serviços comunitários, ou até mesmo, vão presos. E mesmo que eu nunca tenha ouvido falar sobre isso antes, e tenha ficado até mesmo chocada com este lado da história, por outro lado achei bem interessante.

Outra coisa bem comum que acontece à esses jovens vitimizados, é a humilhação, o bullying e o isolamento por perder todos os amigos. E com isso, muitos até mesmo cometem suicido. Isso porque depois que uma foto é enviada no mundo do ciberespaço, ela jamais será apagada. E ao ver o mundo contra você, as vezes, é difícil continuar. Contudo, fico aliviada por Jennifer Brown escolher não ir por este caminho sombrio. Muito pelo contrário, ela cria uma protagonista que apesar de tudo, é forte.

“Aguentei rever as reportagens sobre meu caso e encontrei histórias de outras garotas em situação parecida com a minha. Uma delas se matou por causa do bullying, que foi pesado demais. Engoli em seco enquanto lia aquela história, esperando e rezando para que aquilo não fizesse tão mal para mim. Esperando e rezando para que em um dia horrível eu também não tivesse vontade de acabar com tudo, porque alguém quis se vingar de mim por algo que eu nem tinha feito. Tudo porque algum namorado, irmão ou marido tinha me visto nua. Tudo porque as pessoas me chamavam de nomes que não me descreviam e me diziam coisas que nem eram verdade. Tudo porque as pessoas escreviam palavras de ódio contra mim nos sites, comentando sobre histórias parecidas.”

página 35.

Isso porque a autora comenta que sua ideia não é afundar ainda mais um jovem “problemático” mas sim ajudar, dar apoio e mostrar que ele não está sozinho. Infelizmente, isto é uma coisa comum de acontecer, mas saber que você pode enfrentar isto, mesmo que com o único apoio de quem já passou por coisa parecida, é o que a autora quer mostrar.

Já li histórias com o mesmo tema em que a protagonista teve ajuda dos amigos para sair dessa, eles estiveram ao lado dela. Mas em Mil Palavras, as amigas de Ash simplesmente têm medo de lidar com o assunto e acabam se afastando. É doloroso saber que você não pode contar com as pessoas que sempre antes estiveram ao seu lado, mas com todo o serviço que Ash vai precisar fazer para reparar seu erro, ela vai encontrando forças em si mesma, além de que vai contar com uma amizade nova, de extrema importância para mostrar a ela que seu problema talvez não seja o pior do mundo.

Quando questionada de porque Kaleb enviou a foto de Ashleigh para as pessoas, a resposta da autora é: vingança pura e simples. Ela relata, e eu acredito em sua crença, que é muito fácil agirmos na hora da raiva sem pensar nas consequências a longo prazo. Muitas vezes as ações que tomamos tem um rumo no agora, mas lá pra frente isso pode se tornar fora do controle. Kaleb queria que Ash pagasse pelo que ela havia feito, mas não se incomodou em pensar que sua atitude causaria tantos danos para sua antiga amada, e também para ele.

Senti falta do ponto de vista do Kaleb. A história não gira muito em torno dele e do que aconteceu com ele, apenas sabemos que ele vai pagar pelo crime. E gostaria de saber como ele se sentia em relação a tudo. Porque até mesmo quando ele e Ash se distanciam o tempo inteiro, ele vive jurando amor à ela. E as cenas dos dois juntos são sempre muito fofas. Então queria entender da onde veio essa raiva toda por algo que nem foi Ash quem cometeu. E também em como ele se sentia em relação ao que será obrigado a pagar, já que é perceptível o arrependimento dele. Mas isso fica meio que por nossa conta imaginar toda a situação dele, e não me senti bem com isso.

“E aí?”, chamei logo depois que passaram. Elas se viraram. Fizeram cara de zombaria, revirando os olhos como se doesse olhar para mim.

“Podem me chamar d que quiserem. Nada disso vai me chatear mais. Mas, se me chamar de puta faz vocês se sentirem melhor, então deviam dar atenção a isso, porque vocês têm algum problema.”

página 184.

Contudo, volto a repetir que o fato de Ashleigh ter que pagar “pelo crime” que cometeu foi o grande diferencial deste livro. Acho que ela foi uma protagonista muito destemida. Mesmo passando por tudo o que passou, perder os amigos e ver a fama de boa filha, com notas perfeitas se desfazer, ela foi incrível. Não foi fácil, mas ela sobreviveu e isso me deixa feliz. Saber que ela não se tornou mais uma vítima do suicídio é o suficiente. Por tanto, se você tem interesse no tema revenge porn e gostaria de ver ele sob um novo angulo, indico muito Mil Palavras.

MIL PALAVRAS

Autor: Jennifer Brownr

Tradução: Cristina Santana

Editora: Gutenberg

Ano de publicação: 2018

O namorado de Ashleigh, Kaleb, está prestes a partir para a faculdade e a jovem está preocupada que ele se esqueça dela. Então, em uma famosa festa de final do verão, as amigas de Ashleigh sugerem que ela mande uma foto nua para ele. Antes que possa mudar de ideia, Ashleigh vai para o banheiro, tira uma foto de corpo inteiro em frente ao espelho, e aperta a tecla “enviar”.
Mas o término do relacionamento do casal é ruim e, para se vingar, Kaleb encaminha a foto para sua equipe de beisebol. Em pouco tempo, a foto viraliza, atraindo a atenção do conselho da escola, da polícia e da mídia local. A pena ordenada a Ashleigh pelo tribunal é prestar serviço comunitário, e é onde ela conhece Mack, um jovem que oferece uma nova chance de amizade, e é o único que recebeu a foto e não olhou.
A aclamada autora Jennifer Brown traz aos leitores um romance emocionante sobre honestidade, traição e redenção, amizade e atração, e integridade, mostrando que uma imagem pode valer mil palavras… mas nem sempre conta a história inteira.

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