N. é uma graphic novel produzida por Marc Guggenheim e Alex Maleev, baseada em um conto de Stephen King. Foi publicada no Brasil pela editora Darkside em 2018.

SOBRE O LIVRO

Um paciente, inicialmente identificado apenas como N. relata ao seu psicanalista – Dr. Bonsaint – a sua obsessão por um alinhamento rochoso em um determinado lugar, conhecido como Terras de Ackerman. Ali, ele conta haver sete pedras dispostas como colunas. Até aí tudo bem, se não fosse o fato de que, ao ser vista pela lente de uma câmera, era possível contar oito pedras. A olho nú, havia apenas sete. N. começa a ficar angustiado e inicia sua louca tentativa de desvendar o segredo daquele lugar, ficando cada vez mais paranoico.

“Eu vim aqui porque tudo parece ser coisa da minha cabeça. Mas talvez não. Não tem como dizer. É isso que digo quando falo que me perdi.”

O Dr. Bonsaint analisa o caso e faz algumas suposições para ajudar o seu paciente, que possui alto nível de T.O.C. Porém, quando N. se suicida, o Dr. conclui que a única forma de compreender o que de fato ocorreu é ir até as tais pedras e observar o local por conta própria. O que ele não sabia é que seria um caminho sem volta.

Após entrar em contato com o local, o Dr. começa a desenvolver um alto grau de obsessividade e compulsividade por números e padrões. Ele sente que há algo de maligno com as Terras de Ackerman e com as pedras, mas não sabe dizer o que é. Quanto mais sua angústia e falta de controle cresce, mais ele se aproxima de um terrível fim. E isso seria só o começo do que estava por vir.


MINHA OPINIÃO

Stephen King tem o dom – ou seria visão? – de explorar o terror e medo sob diferentes formas. No caso de N. ele opta nada mais doloroso e pesado que o transtorno obsessivo-compulsivo. Não que eu tenha T.O.C para compreender a fundo o problema, mas imagino o quão angustiante deve ser para uma pessoa nessa condição sofrer diariamente com a falta de controle sobre sua própria mente.

O paciente N. é um desses que sofre diariamente com o T.O.C. Ele busca auxilio do Dr. Bonsaint, que já algum tempo vem o ajudando. O paciente é muito consciente de seu problema, e reconhece também que há como tratar. Mas após ter contato com as Terras de Ackerman, ele acredita que sua vida foi condenada, que ele se perdeu para sempre e que não há mais chances de recuperação. Ao relatar para o Dr. sobre a sua compulsão pelas sete (ou oito) pedras, ele revela sentir ali uma força maior e muito obscura, e acredita que as pedras seriam uma forma de aprisionar esse poder maligno. Mas agora ele já não sabe mais se essa força está presa. Talvez ele tenha libertado ela? Talvez não haja nada além de sua louca imaginação? É uma situação muito perturbante.

O Dr. Bonsaint é representando como um homem maduro, atencioso e preocupado com seu paciente. Ele fica muito perturbado após os relatos de seu cliente, principalmente quando este se suicida. Ele se sente impotente por não ter conseguido ajudar seu paciente, e para compreender mais a fundo o problema, resolve recriar os passos de N. E assim, após cada nova experiência, ele relata em seu diário o que sente, como sente, o que acontece consigo e o que pode de fato ser aquele local.

“A caligrafia ‘queimar!’ é do Johnny. E, bom… eu não respeitei. Tal como Pandora , a curiosidade me venceu e eu abri. Preferia não ter aberto.”

A trama não é narrada pela mesma pessoa do começo ao fim. Vários personagens nos mostram sua compreensão sobre a angustiante história que envolve N. e as pedras. Mais que isso, com cada um também vemos como as terras exercem um poder e influência perigosa e inumana. As muitas facetas do horror são expostas nessa jornada de mistério e loucura. Uma jornada que para muitos pode não ter mais volta.

A graphic novel é baseada em um conto homônimo do autor, mas pela trama aqui em si já podemos notar o quão profunda e incômoda ela é. Temos várias camadas de desenvolvimento, um cuidado em explorar cada uma das personalidades e, através delas, nos fazer se apegar a eles, ou mesmo sentir desconforto com o que acontece a eles. Além disso, o background em volta das Terras de Ackerman também é devidamente explorando, não ficando solto a ideia de que “ah, deve ser um lugar amaldiçoado e pronto.”.

“Se vocês vissem o lugar, se tocassem nas pedras, se vissem o que eu vi, vocês entenderiam.”

O suspense se mantém do início ao fim e, quando tudo parece esclarecido, vemos que King vai além. Ao se aproximar do final das páginas, a trama está tão tensa que não queremos que o que nossa imaginação cria aconteça. Mas em se tratando de Stephen King, o pior sempre vem acontecer. Mesmo após finalizar a HQ, demora um tempo para o leitor se desapegar da trama sem ficar se questionando se aquilo para por ali ou se de certa forma continua a se expandir. Ou mesmo se realmente tudo aconteceu como relatado, ou se era amaldiçoado, etc.

Sobre a edição gráfica, só elogios. A dupla Guggenheim e Meleev adaparam de forma incrível a narrativa, transparecendo realidade nos personagens, ao mesmo tempo em que a ilustração também transmite estranheza e obscuridade. O traço é muito bonito, bem definido e a paleta de cores está muito de acordo com a intensidade do que é narrado.

N. é um dos excelentes casos em que King nos entrega uma história subversiva, angustiante e que te faz pensar depois de ler as últimas páginas. Muitas perguntas ficam para o próprio leitor responder, e esse detalhe é o que fez a minha leitura ser muito gratificante.

 

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N.

Autor: Stephen King, Mark Guggenheim & Alex Maleev

Tradutor: Érico Assis

Editora: Darkside

Ano de publicação: 2018

N. é uma história pesada. Logo no começo, o leitor sabe que o dr. Bonsaint, um psicanalista, se suicidou e que sua irmã tenta entender os motivos que o levaram a essa atitude extrema. Dedicada a explorar os medos, as inseguranças e as obsessões dos personagens, a história avança por meio de documentos e relatos de Bonsaint, bem como das sessões de análise com N., um homem que sofre de grave problema de toc (Transtorno Obsessivo-Compulsivo) e não consegue parar de procurar padrões em tudo que cruza o seu caminho. Aos poucos, os leitores vão se familiarizando com as origens do problema de Bonsaint e de N., conforme a obsessão do protagonista por uma formação de pedras no estilo de Stonehenge se aprofunda e o leva a um misterioso caminho sem volta. De forte e clara referência à atmosfera lovecraftiana, o conto é, segundo o próprio Stephen King, inspirado na novela O Grande Deus Pan, do escritor galês Arthur Machen (1863- 1947). Em uma espiral de ação psicológica que desafia a própria razão, o roteiro de Marc Guggenheim (que já escreveu X-Men, filmes, games e séries de tv) adapta a atmosfera sombria do conto de King, enquanto a arte de Alex Maleev (Demolidor e Mulher-Aranha) incorpora as misteriosas palavras do rei do terror.

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