O Jogo do Anjo é o segundo volume do Cemitério dos Livros Esquecidos, do autor Carlos Ruiz Zafón. O livro é um relançamento da editora Suma em 2017.

Sobre o Livro

David Martín é um jovem e talentoso escritor que luta com sua mente e com o instinto de se auto sabotar. Quando começou escrevendo pequenas histórias para o jornal onde trabalhava, não imaginou que sua vida tomaria o rumo que tomou. Ele abriu mão de seu nome para escrever histórias que não tinham sua essência e viu tudo mudar quando, doente e desesperançoso do dia de amanhã, Andreas Corelli, um desconhecido editora, lhe faz uma oferta.

Ele quer que David escreva um livro sobre uma nova religião, construindo-a do zero, em busca da fórmula perfeita para doutrinar as pessoas. A um preço muito maior do que apenas o dinheiro que lhe é oferecido, essa situação, que deveria lhe dar esperança, lança é uma sombra ainda maior sobre sua vida.

“Há quem prefira acreditar que é o livro que escolhe a pessoa… o destino por assim dizer.”

Envolvo em um quebra-cabeça que cruzará os anos e o caminho de outros personagens do Cemitério dos Livros Esquecidos, Martín irá do céu ao inferno em sua própria mente para sobreviver primeiro a si e depois a todo o mistério que cerca o seu novo empregador.


Minha Opinião

Uma releitura de O Jogo do Ano era exatamente o que eu precisava para lembrar porque eu gosto tanto desses livros. Eu realmente absorvi tão mais agora do que quando a li pela primeira vez anos atrás. David Martín é um personagem tão intenso, apaixonado e perturbado que é impossível não se relacionar com ele de alguma forma, seja pela forma como ele encara a vida, pelo amor perdido, pela auto sabotagem ou pelos pensamentos que permeiam sua cabeça.

Me pareceu que quando fiz a primeira leitura eu não o tinha compreendido completamente e isso maculou um pouco a imagem que eu tinha desse segundo livro, completamente refeita agora. Como eu senti com esse protagonista. Como eu sofri com cada passo em falso e com cada virada que a sua vida dava sempre o colocando mais a e mais para baixo. E essa é uma das mágicas de Carlos Ruiz Zafón: ele nos tirou da história do primeiro livro, voltou vários anos e mesmo assim a escrita e a história é encantadora a ponto de me conectar com Martín quase da mesma forma como me conectei com Daniel.

“O primeiro passo para acreditar apaixonadamente em alguma coisa é o medo.”

Aqui, como a história acontece antes de A Sombra do Vento, vamos acompanhar o pai de Daniel crescendo, pois ele é apenas alguns anos mais velho que David, que se tornará seu amigo, e o comando da livraria Sempere está a cargo do avô do protagonista do primeiro livro. Personagem importantíssima aqui também é Isabella, a mãe de Daniel, a qual ele acorda sem lembrar o rosto no start de A Sombra do Vento. Há uma conexão intrínseca nas quatro obras dessa série e, mesmo que não pareça nesse livro, é muito importante que aqui criemos um laço com David, pois sua presença vai viver através de O Prisioneiro do Céu e O Labirinto dos Espíritos.

Zafón sempre tem uma proposta de fazer com que o leitor duvide da veracidade do que está lendo, caminhando em um limiar muito tênue entre o sobrenatural e a realidade. Em O Jogo do Anjo encontramos o livro mais intenso nesse sentido. Ao contrário das outras histórias onde tudo é explicado conforme alcançamos o final, aqui há uma necessidade constante da interpretação da situação para desvendar o que é real ou não. E isso é incrível, pois o leitor poderá compreender como funciona a mente do protagonista através da construção da trama e da incredulidade que pode surgir com ela conforme caminhamos pelas páginas.

Outra coisa bacana é que a história que a sinopse incita na verdade é uma segunda história. Antes disso vamos conhecer David, sua jornada e porque a vida dele está no ponto em que está. Ele vai crescer, amadurecer e de certa forma “prosperar” na primeira parte do livro, e há tanta tensão, mudanças e histórias acontecendo que é possível o leitor completamente esquecer que o que eles está lendo não chegou nem perto de tocar a sinopse e mesmo assim estar instigado. Não é um pré chato ou desnecessário. É uma história dentro da história. É quase como um presente para que possamos estar mais tempo ao lado desse personagem e compreender suas angústias.

“Resolvi que prefiro viver a vida a escrevê-la. Não me leve a mal.”

E, é claro que vamos ter um amor proibido, um livro misterioso, um escritor maldito e uma visita ao Cemitério dos Livros Esquecidos. Os elementos que interligam as histórias estão aqui, e assim como Julian Carax escreveu sua história ao lado da de Barcelona, David Martín fará o mesmo, mas de uma forma diferente.

Há algo que perturba ele, mas que mantém sua chama acesa. Ele é talentoso, mas isso não é suficiente para alavancar sua carreira. Ele será conhecido por um nome que não é seu, e viverá através de palavras que poucas pessoas sabem que vieram de Martín. É angustiante porque sabemos o quanto ele é uma boa pessoa e merecia algo melhor, mas a vida segue o perseguindo e o derrubando. Outra característica de Zafón: as histórias nunca tem um final feliz sem que antes muitas das pessoas envolvidas sejam quebradas e remontadas ao longo do caminho. E você sabe que quando se remonta algo quebrado, nunca fica como era antes. Sempre falta uma farpa ou uma peça importante.

Isabella é uma personagem muito importante e que aparece na segunda parte. Ela é a mãe de Daniel do primeiro livro, e aqui vai servir como uma “assistente” à David por falta de outro nome melhor. A jovem tem personalidade forte e achou que poderia se dar bem escrevendo, indo assim de encontro ao único outro escritor que mora nas redondezas. Porém, driblar as defesas de Martín não é tarefa fácil. Gostei muito de vê-la aqui em sua juventude e de identificar em sua personalidade de onde Daniel tirou sua ânsia por descoberta.

Apesar do livro parecer grande, não é uma história massante. Depois que você passa da metade é quase impossível largar o livro. Essa edição tem quase 100 páginas a mais que a anterior porque a diagramação foi refeita junto com as capas e o texto está mais espaçado, o que favorece uma maior fluidez.

Se você já leu A Sombra do Vento, é hora de prosseguir com essa história, porque há muito mais a ser revelado do que o primeiro ou o segundo mistério que conhecemos. Entretanto, caso você ainda não tenha começado a ler essa série, o que posso dizer é que vale cada página lida e cada personagem memorável que se vai conhecer. Essa é a minha série favorita da vida e eu vou passar por todos os anos que virão a indicá-la <3

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O JOGO DO ANJO

Autor: Carlos Ruiz Zafón

Editora: Suma

Ano de publicação: 2017

Barcelona, anos 1920. David Martín tem vinte e oito anos, uma casa em ruínas e um talento para a literatura que nunca o protegeu de desgraças ou lhe trouxe qualquer glória. Com uma doença terminal e vendo o amor da sua vida nos braços do melhor amigo, David passa os dias em sua mansão lúgubre, escrevendo séries policiais e vendendo barato o seu talento.
É quando surge Andreas Corelli, um misterioso editor estrangeiro com uma proposta irrecusável. Fama, dinheiro, saúde: tudo em troca de um único livro. Um livro que terá o poder de influenciar milhões de vidas. Um novo evangelho.
Mas, conforme a obra se desenvolve, David percebe que existe uma conexão sinistra entre o livro que está escrevendo e as sombras que envolvem sua casa dilapidada — e que seu editor também esconde alguns segredos perturbadores. Mais uma vez, Zafón nos leva por uma Barcelona sombria e gótica, em uma trama cheia de intrigas, romance e tragédia.

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