O Rei Corvo é o quarto e último livro da Saga dos Corvos da autora Maggie Stiefvater. A publicação no Brasil é de 2016 pela Verus Editora.

*Esta resenha contém spoiler dos livros anteriores

Sobre o Livro

Maura foi resgatada da caverna, porém algo muito perigoso acordou e com ele ficaram personagens inusitadas. Esse ser está aos poucos interferindo no poder das Linhas Ley e em Cabeswater. Artemus, o pai de Blue, também apareceu. E quais serão os mistérios que esse personagem que jamais esperávamos ver tem a revelar?

Gansey segue em sua busca por Glendower, e parece estar mais perto que nunca de encontrá-lo. Mas será que conseguirá o seu pedido quando isso acontecer? Enquanto isso Blue guarda dois grandes segredos, o da morte de Gansey e o de seu envolvimento com ele. Será que haverá uma forma de salvá-lo e mantê-lo por perto sem magoar os outros garotos destruindo a relação que eles possuem?

“Ele era um rei. Havia chegado o ano em que ele morreria.”

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Enquanto a pilha de perguntas só aumenta, esses jovens caminham em direção ao seu destino. Ronan sonhando com coisas inimagináveis, Adam lutando contra seus próprios pesadelos e sua conexão com Cabeswater, E Noah cada vez mais próximo de se desvanecer para sempre.

Nessa trama cheia de magia, novos personagens serão convidados a entrar, e alguns dos velhos a sair. A Rua Fox, 300 nunca esteve tão quieta e atordoada ao mesmo tempo. Não há onde se esconder. Está na hora de enfrentar o desfecho dessa história.


Minha Opinião

É hora de dizer adeus. Dizer adeus a Gansey, Blue, Adam, Ronan, Noah, as médiuns da Rua Fox 300, a todos os seres sonhados, ao Sr. Cinzento, a Cabeswater. Mas, mais do que qualquer coisa, é hora de dar adeus a Glendower.

Se despedir de uma série que eu amo tanto não foi algo fácil. A ansiedade por esse livro e o medo dele eram coisas que andavam juntas. Vi tantas pessoas lidando com a decepção que a história trouxe que antes mesmo de tê-lo em mãos já havia feito minha paz que essa trama não teria todas as respostas que precisava. Mas, longe de ter me decepcionado, como achei que iria, o que mais me deixou triste foi chegar ao final e não encontrar o glorioso desfecho que eu estava esperando.

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A trama que Maggie criou não tem nada de comum. Aliás, é uma das histórias mais únicas da fantasia contemporânea. Apesar de usar elementos conhecidos, como as Linhas Ley, que são aplicados em tantas outras histórias, a autora conseguiu distanciar sua narrativa, criando algo extraordinário. E, ao pensar sobre toda a história e o que ela precisava ainda oferecer, me dei por conta que não teria todas as respostas nem que a autora quisesse dar. Não havia espaço pra isso em apenas um livro.

Dentre as coisas que não gostei, quero pontuar o destaque dado aos comerciantes do elementos criados pelo Greywaren e o espaço que isso toma da história. Bem como as cenas das duas personagens que acompanham o demônio. Queria tanto mais dos outros, que não vi muito sentindo e perdemos o tempo precioso com essas personagens. Além disso, o final pra mim ficou faltando algo. Desde o começo sabemos o que o fim pode ser: a morte de Gansey. É um caminho que não queremos pensar muito, e ao mesmo tempo buscamos soluções para contornar isso. Mas o que realmente é melhor para a história?

O que aconteceu me deixou frustrada, pois pareceu simples demais frente a tudo o que a Saga dos Corvos representa, principalmente o último capítulo, completamente desnecessário. Porém, como falei no começo, o livro não foi uma decepção e há muita coisa legal aqui também para contornar todos os problemas presentes.

“O olhar de Ronan Lynch era a cobra na calçada onde você queria caminhar. Era o fósforo deixado sobre o seu travesseiro. Era premir os lábios e sentir o próprio sangue.”

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Acho que uma das coisas mais legais que vi acontecer aqui teve a ver com a abertura de Ronan. Ele finalmente nos mostra muito mais de si e do que mantém preso em sua cabeça e seu coração. Um personagem que é um bad boy, que amamos e odiamos, que é descuidado, que não mede as consequências e que ao mesmo tempo sente tanto. Ama muito sua família e teme por ela. Ama seus irmãos e os odeia. Ama Gansey, ama Blue, ama Noah e ama Adam. Aliás, uma das cenas mais lindas de toda a Saga vem desses dois. Figuras opostas, controversas.

Adam mantém suas características, mas está um pouco mais solto. Ele é, sem dúvidas, o personagem mais estereotipado entre os garotos. O menino pobre que vive entre os ricos e quer provar o seu valor. Porém, em algum momento no terceiro livro isso ficou pra trás, e a frente só as sombras dessa época e o peso de Cabeswater. Ao fim de tudo, foi ótimo ver Adam crescer e se encontrar.

Noah está indo embora. Tudo o que acontece o enfraquece e sua missão está chegando ao fim. É difícil se despedir de um personagem que é ao mesmo tempo querido e creepy. Já Blue, que teve protagonismo no terceiro livro, aqui está um pouco apagada, mais indo com a maré do que tomando a frente. Porém, em algum ponto da história, quando seu pai é trazido em foco, descobrimos que sua ligação com tudo o que aconteceu pode ir um pouco além de um golpe de sorte. Existe conexão, propósito.

E como as mulheres desse livro são legais. Blue é apenas uma delas. Cada uma do seu jeito, cada uma com sua faceta. Loucas, céticas, estranhas, extremamente bem construídas. Genuínas em sua natureza. Todas as presenças da Rua Fox 300 ganham nossa atenção e admiração ao longo da história.

Já Gansey tem mais “tempo em cena” e há um conflito persistente em sua mente. Mesmo que ele não saiba realmente, sabe que seu tempo está acabando. É hora de dar um fim a tudo. É hora de encontrar Glendower. Porém, tudo é tão difícil. As pessoas ao seu redor estão sofrendo, sua família deseja atenção, e sua mente é uma confusão. Ele não sabe como fazer as coisas acontecerem. Até que descobre.

“A questão era que todos estavam próximos demais da situação. Eles haviam estado próximos demais da situação durante meses. Estavam tão próximos que era difícil dizer se eles eram ou não a situação em si.”

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Essa é uma série fora da casa que exige do leitor uma mente aberta e imaginativa. Parte disso justifica não termos respostas para tudo. Fica aberto para que coisas sejam discutidas e teorias formadas. Houve uma certa frustração com isso? Sim. Mas não termino essa história decepcionada. Termino com um sentimento de perda gigantesco, por ter de dar adeus a personagens tão queridos, a uma narrativa cativante e a uma história sensacional.

A história não é realismo mágico, mas em vários aspectos se apropria de características do estilo para confundir o leitor. Trazer com naturalidade algo mágico e não necessitar dar explicações. O ir e vir desses elementos suscita as perguntas e isso é normal, porém também merece ser compreendido. E, tendo dito tudo isso, a impressão que fica é que se esse não fosse o último livro, seria um ótimo quarto. Mas ao fim, a falta de algo também pesou.

Maggie sabe muito bem como envolver o leitor, sabe conduzir a história soltando bombas em lugares inesperados, posicionando seus plot twists em momentos que você já deu tudo por encerrado. Depois que você entra pra dentro do primeiro livro e se familiariza com a história, há uma sede por descoberta, uma ânsia por conhecer mais. Esse foi meu primeiro e único contato com ela, e sei que ela nem sempre é assim, mas aqui, certamente o tom foi acertado.

A Saga dos Corvos é uma das minhas séries de fantasia contemporânea favoritas. Independente de tudo o que esse último livro pode ter deixado em aberto ou a desejar, isso não mudou. Os personagens me cativaram de uma forma como poucos jovens ficcionais conseguem, há uma conexão entre o leitor e eles. São reais, palpáveis. Cabeswater é mágico, um lugar que todos gostaríamos de conhecer, e essa, por mais dura jornada que tenha sido, certamente despertou o instinto de aventura e de descoberta. Maggie Stiefvater ganhou meu coração com essa história e a ela eu agradeço.

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O REI CORVO

Autor: Maggie Stiefvater

Editora: Verus

Ano de publicação: 2016

Nada que está vivo é seguro. Nada que está morto é confiável. Há anos Gansey iniciou uma jornada para encontrar um rei perdido. Um a um, ele atraiu seus amigos para essa missão: Ronan, que rouba coisas de sonhos; Adam, cuja vida já não é sua; Noah, cuja vida não é mais vida; e Blue, que ama Gansey… e tem certeza de que está destinada a matá-lo. O fim já começou. Sonhos e pesadelos estão convergindo. Amor e perda são coisas inseparáveis. E a busca pelo rei se recusa a ser fixada em um caminho. A busca pelo rei adormecido vai chegar ao fim em Henrietta — mas não sem perdas, desejos, revelações e uma verdade brutal.

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