Livro consagrado do português Saramago, temos uma edição atual pela Companhia das Letras em 2020.

Sobre o Livro

Após a virada do ano, ninguém mais morreu. Em um país fictício, Saramago narra as principais consequências em uma sociedade onde está determinada a ser imortalizada. São abordadas questões desde Igreja, Estado e sentimentos humanos após a descoberta da vida eterna.

Tudo começa com ninguém morrendo. A dúvida que fica é: por que isso está acontecendo? Será que a morte resolveu descansar de seu trabalho?

“No dia seguinte ninguém morreu. O facto por absolutamente contrário às normas da vida, causou nos espíritos uma perturbação enorme, efeito em todos os aspectos justificado, basta que nos lembremos de que não havia notícia nos quarenta volumes da história universal, nem ao menos um caso para amostra, de ter alguma vez ocorrido fenómeno semelhante, passar-se um dia completo, com todas as suas pródigas vinte e quatro horas, contadas entre diurnas e nocturnas, matutinas e vespertinas, sem que tivesse sucedido um falecimento por doença, uma queda mortal, um suicídio levado a bom fim, nada de nada, pela palavra nada.”

Trazendo sua narrativa única e reflexiva, Saramago traça as principais mudanças na sociedade. O que acontece com aqueles que possuem doenças terminais? E os que cometem suicídio? E aqueles que sofrem acidentes mortais? Para tudo há uma resposta, mas o certo é que ninguém morreu tendo uma vida eterna.

Minha Opinião

Sendo uma de suas principais obras, não pude deixar de iniciar esta leitura, podendo conhecer um autor tão bem visto na literatura portuguesa. Esta edição em específico está no original do português de portugal e é acompanhada com a caligrafia de Valter Hugo Mãe que deu a formação da capa do livro.

A escolha de manter no original permitiu que a narrativa ficasse mais inclusiva com o leitor. Isso por que as palavras que Saramago usa em sua narrativa são muito bem selecionadas, permitindo assim uma maior originalidade nos seus textos. Somos capazes não só de conhecer a criatividade e genealidade do autor como também a própria gramática do português de portugal.

“A tarde já muito adiantada quando começou a correr o rumor de que, a entrada do novo ano, mais precisamente desde as zero horas deste dia um de janeiro em que estamos, não havia constância de se ter dado em todo o país um só falecimento que fosse.”

Há muitas curiosidades que esta obra carrega. Primeiro detalhe é o fato de que o autor não da nome aos personagens. E isto torna o livro ainda mais especial, já que a história é narrada de uma forma que você não se apega aos personagens, mas sim nas reflexões narrativas e o desenvolvimento da história.

Outro ponto positivo da história é a criação de uma personagem totalmente única: a morte. Acompanhamos então quem é a morte, seu gênero, trabalho e rotina dia a dia. É curioso notar como que o autor consegue misturar um ar de distopia com realismo e até romance, com cada detalhe pincelado em reflexões únicas.

“[…] Sem ressurreição não há igreja, além disso, como lhe é uma ideia absolutamente sacrilégia, talvez a pior das blasfémias.”

Por fim o desfecho da história nos da uma resposta para todas nossas dúvidas. É um desfecho ímpar, onde caminha o leitor para a finalização de um ciclo. Eu já suspeitava como ia terminar o livro, mas Saramago ainda consegue dar uma reviravolta por cima de nossas expectativas para entregar um romance único e memorável. Eu de fato não esquecerei por muito tempo o quão ele conseguiu me fixar nos seus longos parágrafos reflexivos e construtivos. É um autor que passei a considerar como favorito e estou ansioso para conferir outras grandes obras dele.

AS INTERMITÊNCIAS DA MORTE

Autor: José Saramago

Editora: Companhia das Letras

Ano de publicação: 2020

Depois de séculos sendo odiada pela humanidade, a morte resolve pendurar o chapéu e abandonar o ofício. O acontecimento incomum, que a princípio parece uma benção, logo expõe as intrincadas relações entre Igreja, Estado e a vida cotidiana. “Não há nada no mundo mais nu que um esqueleto”, escreve José Saramago diante da representação tradicional da morte. Só mesmo um grande romancista para desnudar ainda mais a terrível figura. Apesar da fatalidade, a morte também tem seus caprichos. E foi nela que o primeiro escritor de língua portuguesa a receber o Prêmio Nobel da Literatura buscou o material para seu novo romance, As intermitências da morte. Cansada de ser detestada pela humanidade, a ossuda resolve suspender suas atividades. De repente, num certo país fabuloso, as pessoas simplesmente param de morrer. E o que no início provoca um verdadeiro clamor patriótico logo se revela um grave problema. Idosos e doentes agonizam em seus leitos sem poder “passar desta para melhor”. Os empresários do serviço funerário se vêem “brutalmente desprovidos da sua matéria-prima”. Hospitais e asilos geriátricos enfrentam uma superlotação crônica, que não para de aumentar. O negócio das companhias de seguros entra em crise. O primeiro-ministro não sabe o que fazer, enquanto o cardeal se desconsola, porque “sem morte não há ressurreição, e sem ressurreição não há igreja”. Um por um, ficam expostos os vínculos que ligam o Estado, as religiões e o cotidiano à mortalidade comum de todos os cidadãos. Mas, na sua intermitência, a morte pode a qualquer momento retomar os afazeres de sempre. Então, o que vai ser da nação já habituada ao caos da vida eterna? Ao fim e ao cabo, a própria morte é o personagem principal desta “ainda que certa, inverídica história sobre as intermitências da morte”. É o que basta para Saramago, misturando o bom humor e a amargura, tratar da vida e da condição humana. A caligrafia da capa é de autoria do escritor Valter Hugo Mãe.

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