E o mundo do cinema foi tomado de cor de rosa. Barbie arrebatou todos os fãs de cinema e todos com uma memória mais ou menos afetiva da famosa boneca, além de, claro, a internet inteira. Entre toda essa agitação orgânica e a brilhante estratégia de marketing que invadiu todos os lugares, eu tenho para mim que o filme sempre será mais do que se espera em alguns aspectos, e menos em outros.

Foi com Barbie que Greta Gerwig se consolidou como a diretora solo de maior bilheteria da história, co-assinando o roteiro com o marido Noah Baumbach. A cinematografia é de Rodrigo Prieto, o figurino é de Jacqueline Durran e a edição é de Nick Houy.

Formular uma sinopse para Barbie já é algo bastante complexo. A premissa parte da Barbie Estereotipada (Margot Robbie), o grande símbolo da boneca perfeita, vivendo a vida perfeita na Barbielândia, até que ela começa a viver uma “crise de humanidade” e precisa partir atrás de sua dona no mundo real para entender o que está acontecendo e recuperar sua vida. Mas isso só dá conta de uma parte reduzida da história.

A primeira palavra que me vem à mente para definir Barbie é “genial”. De verdade, é um filme infinitamente inteligente na forma como usa do absurdo e da comédia para passar mensagens profundamente reais. Tudo sobre a consciência das Barbies sobre o mundo real, a ideia que elas têm de que supostamente libertaram as mulheres, é surpreendente e tragicamente cômico; é o “você pode ser tudo que quiser”, até a Barbie perceber que isso talvez não seja verdade para ninguém (nem para ela).

O filme é cheio de pérolas, da comédia e da crítica, com sacadas de cair o queixo. Apesar disso, apesar de ir para todos lugares certos, confesso que senti o roteiro um pouco errático. O longa é melhor visto ou ao todo, ou ao detalhes, com as conexões entre os momentos um tanto quanto caóticas demais para mim. Me senti meio desnorteada tentando pegar os pormenores dentro de um mundo de elementos, e por isso poderia ser uma experiência melhor assistindo pela segunda vez.

Você tem que tentar, mesmo que não dê pra resolver, vai dar pra melhorar.

Talvez beire o irônico, mas o arco do filme que mais se destacou para mim foi o do Ken. Primeiramente que Ryan Goslin ficou perfeito no papel, mostrando linha por linha como a inocência pode flertar perigosamente com a ignorância e as terríveis consequências desta. Ele descobrindo o patriarcado, ele sem saber quem é e buscando a resposta em um relacionamento unilateral (leia-se: basicamente inexistente), ele querendo desesperadamente ser o melhor em algo. E esse tópico, acima de todos os outros, foi um dos mais interessantes para mim: ser o suficiente. Viver com pressões, internas no caso do Ken e externas no caso da Barbie, de ser mais, de ser melhor, sempre.

Já sobre a estimada boneca, Robbie realmente lhe deu vida. A sua expressão transmite o tom da cena o tempo inteiro, provocando os mais diversos sentimentos no público, com um sorriso, uma lágrima, ou uma cara de confusão. Por outro lado, infelizmente, ao invés do que muitas pessoas disseram, não vi desenvolvimento alguns nas outras Barbies. Destacaria apenas a atuação excepcional de America Ferrera como Gloria, que considero a única outra personagem real do longa (e que personagem!).

Fica também a grande questão: o filme é feminista mesmo? Não sou teórica do assunto, nem tenho um grande arcabouço de autoras por trás, então é só minha opinião mesmo. Barbie cumpre o que se propõem ao trazer inúmeras reflexões sobre o papel cheio de infinitas contradições da mulher na sociedade. Vários tipos de corpos são representados na tela, e, no ápice do monólogo mais fenomenal do longa, sim, temas que tocam universalmente as mulheres são levantados. E, ainda assim, há uma falta notável na questão de inteseccionalidade, talvez até por um escopo da experiência de vida da diretora e roteirista.

Com um final um tanto clichê, embora com toques de inovação, não me emocionei tanto com Barbie quanto poderia. É definitivamente surpreendente nos momentos mais inesperados, e um filme sobre o qual trabalhos poderiam ser escritos, considerando todas as complexidades que aborda e deixa de abordar. Com tudo isso dito, acho mesmo que todo mundo tiraria algo de Barbie, muito embora ache que é, no fim das contas, é muito menos comercial do que se fez ser.

BARBIE

Diretor: Greta Gerwig

Elenco: Margot Robbie, Ryan Goslin, America Ferrera, Kate McKinnon, Will Ferrel

Ano de lançamento: 2023

No mundo mágico das Barbies, “Barbieland”, uma das bonecas começa a perceber que não se encaixa como as outras. Depois de ser expulsa, ela parte para uma aventura no “mundo real”, onde descobre que a beleza está no interior de cada um.

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