Kim Ji Young, nascida em 1982 é de autoria da escritora Cho Nam Joo, publicado pela Editora Intrínseca em 2022.

Sobre o Livro

Kim Ji Young aos 33 anos vive em Seul, é casada e cuida da sua primeira filha. Entre lavar roupa, cuidar da casa, da criança e fazer comida, algo na rotina dela não está muito certo. Ji Young está ouvindo vozes, e elas são tão específicas que seu marido está começando a se preocupar. E por esse motivo que ele procura um psiquiatra.

A partir de então, é possível acompanhar toda a vida de Ji Young, desde sua infância quando alguns limites são bem marcados, até a faculdade e vida adulta. Um relato sincero sobre a vida de uma mulher com anseios e desejos sendo podada por uma sociedade que aclama e venera os homens.

Minha Opinião

Uma roteirista que conquistou as qualificações necessárias para atuar em um excelente emprego largou tudo para ser dona de casa e criar os filhos, assim como muitas mulheres. Mas essa mesma mulher, há seis anos, escreveu o livro que abalou a Península Coreana e deu o nome mais registrado em 1982 para a sua protagonista: Kim Ji Young.

Ao começar a apresentar sintomas estranhos que é ouvir apenas vozes de mulheres que estão presentes ou passaram pela sua vida, revivendo e mantendo conversas como se fossem as próprias, Ji Young começa a preocupar seu marido, a mãe e os sogros. A vida dessa jovem mulher, mãe e esposa é confrontada com tudo que ela já viu desde a sua infância até a vida adulta.

“Naquela época as pessoas acreditavam que era responsabilidade dos filhos homens levar honra e prosperidade para a família e que a prosperidade e a felicidade da família dependiam do sucesso deles.”

Esse não é o tipo de livro que precisaríamos ter nascido na Coreia do Sul para vivenciar na pele e ser parte de uma estatística, muito menos atravessar o oceano numa longa viagem de vinte e quatro horas. A maioria das mulheres ao redor do mundo já experimentou algo parecido na própria pele. Só o fato de ter nascido mulher já é uma delas.

É fácil reconhecer a realidade exposta pela autora Cha Nam Joo: o julgamento pelo que se veste, o grande fardo da maternidade, a ameaça de violência sexual por estranhos na rua, ver os homens da família sendo tratados como personagens místicos enquanto a responsabilidade recaí nas mulheres da família que travam uma longa e árdua batalha para serem independentes.

O patriarcado já foi muito forte na Coreia do Sul, e é difícil lidar com a realidade que vemos em sua escrita direta e sensata sobre o tema. A discussão poderia ter sido longa e cansativa, mas ela nos conta a história de Kim Ji Young em 134 páginas, fazendo o fiel serviço de retratar todas as mulheres espalhadas pelo mundo.

Kim Ji Young é um livro que suscita bastante revolta interna, mas também muita reflexão. É fácil de encontrarmos nesse primeiro livro da autora quase uma não-ficção por conta do foco em dados e as várias fontes de pesquisa, mas é isso que torna essa leitura tão particular: a abertura de um mundo que é desconhecido. A cultura coreana é machista sim, sempre foi. Por mais que vejamos os dramas coreanos tentando exaltar uma melhora em seu círculo dentro da sociedade, é difícil se desprender de algo tão enrustido. Lá, as mulheres são alvo fácil de bullying, violência e pornografia sexual.

“Ji Young cresceu ouvindo que deveria ser cuidadosa, se vestir de modo conservador, agir como uma “mocinha”. Que era responsabilidade dela evitar lugares, horários e pessoas perigosas. Que a culpa era dela por não perceber isso e não evitar.”

Vale ressaltar que apesar do livro ter sido lançado em 2016, há uma adaptação recente protagonizada pela maravilhosa Jung Yu Mi (Invasão Zumbi e a Enfermeira Exorcista) que dá muito luz ao que lemos, e o ator Gong Yoo (Invasão Zumbi e Goblin) que trouxe muitos holofotes ao filme antes do lançamento.

Gostei muito da leitura e se tornou um favorito desse ano! O livro físico é belíssimo e tem uma textura na capa incrível. É aquele tipo de livro para fazer muitas marcações, apesar de ser uma leitura agridoce. Mas vale muito a pena!

KIM JI YOUNG, NASCIDA EM 1982

Autor: Cha Nam Joo

Tradução: Alessandra Esteche

Editora: Editora Intrínseca

Ano de publicação: 2022

Em um pequeno apartamento nos arredores da frenética Seul vive Kim Jiyoung. Uma millennial comum, Jiyoung largou seu emprego em uma agência de marketing para cuidar da filha recém-nascida em tempo integral — como se espera de tantas mulheres coreanas. Mas, em pouco tempo, ela começa a apresentar sintomas estranhos, que preocupam o marido e os sogros: Jiyoung personifica vozes de outras mulheres conhecidas — vivas e mortas. A estranheza de seu comportamento cresce na mesma proporção que a frustração do marido, que acaba aconselhando a esposa a se consultar com um psiquiatra. Toda a sua trajetória é, então, contada ao médico. Nascida em 1982 e com o nome mais comum entre as meninas coreanas, Kim Jiyoung rapidamente se dá conta de como é desfavorecida frente ao irmão mimado. Seu comportamento sempre é vigiado e cobrado pelos homens ao seu redor: desde os professores do ensino fundamental, que impõem uniformes rígidos às meninas, até os colegas de trabalho, que instalam uma câmera escondida no banheiro feminino para postar fotos íntimas das mulheres em sites pornográficos. Aos olhos do pai, é culpa de Jiyoung que os homens a assediem; aos olhos do marido, é dever dela abandonar a carreira para cuidar da casa e da filha.

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