Loki se encerra com a segunda temporada e deixa um gosto meio agridoce (talvez pendendo para o amargo). A série original da Disney+, criada por Michael Waldron, dirigida por Kate Herron e com um time significativo de roteiristas que inclui até mesmo Jack Kirby, estreou em 2021 na primeira leva de séries do MCU. O programa contou com a produção executiva de Kevin R. Wright e do próprio Tom Hiddleston (Loki), além da trilha sonora original de Natalie Holt.

A série nos tira do espaço-tempo quando uma variante de Loki, o Deus da Mentira que todos conhecemos e amamos, é sugado pela AVT – Autoridade de Variação Temporal. O órgão, responsável pela manutenção da grande Linha Temporal Sagrada, “poda” linhas temporais com desvios chamados de variantes e (atenção ao teste de memória) captura Loki na linha temporal alterada pelo Homem de Ferro e pelo Capitão América em Vingadores: Ultimato, quando o irmão de Thor consegue pegar o Tesseract.

Uma vez dentro da AVT, Loki é posto sob a guarda do agente Mobius (Owen Wilson), que acredita que talvez o asgardiano possa ter algo a contribuir para a organização. Isso porque há uma variante circulando entre linhas temporais que escapa aos agentes há tempos, e que parece estar determinada a destruir toda a ordem imposta pela Autoridade.

O que dizer sobre essa série caótica, às vezes divertida, mas que tenta demais entregar uma grandiosidade que simplesmente não parece natural? É difícil escapar das confusões e conveniências que vêm com a viagem no tempo, e infelizmente não se pode dizer que Loki escapa desses problemas.

Começando do início, a primeira temporada entrega uma trama que tem seus altos e baixos, mas em geral acumula pontos positivos. O grande charme com certeza é a ambientação da AVT, trabalhada no vintage e com a aparência de uma repartição dos anos 1970; o contraste com o nível de sci-fi envolvido é genial. A construção de mundo é interessante, e o roteiro vai progredindo com o mistério da variante e depois, com a tensão de entender o quê ou quem está por trás de tudo. Por mais que eu tenha tido bastante dificuldade de me envolver com a história majoritariamente pela grandeza do escopo a que se propõem em um período tão curto, foi uma experiência razoável.

Confira a crítica da 1º Temporada de Loki

Como eu prefiro histórias um pouco mais pessoais, me peguei adorando os momentos de formação de amizade entre Mobius e Loki. Com a constante desconfiança que o deus da trapaça inspira, e a solidão de ambos, é impossível não torcer para que eles encontrem um no outro um ponto de apoio e companheirismo. E quem me dera os roteiristas tivessem focado nessa amizade (um famoso bromance), do que no projeto de romance que foi construído. Aquilo ali é duvidoso é para dizer o mínimo, e perturbador para ser mais sincera, além de bastante fraco.

E, no entanto, tudo isso é arremessado pela janela na segunda temporada, que patina, escorrega, fala e fala e não diz nada. A cada episódio parece que ainda estamos na introdução de algo que vai se consolidar, mas ao final você olha para trás e percebe que era só uma trama fraquinha mesmo. Os cortes entre episódios são brutos a ponto de ser difícil de acompanhar, arcos narrativos vem e vão e parecem que não acrescentam nada, e nada despertava interesse o suficiente. As coisas se acumulam e reviravoltas grandiosas acontecem, mas a essa altura nada parece real e o sentimento é de que sempre vai haver algum recurso final.

Nem ao menos há personagens a que se apegar para tentar alguma âncora com a história. Os personagens secundários são esquecíveis, sem personalidade, e não há clareza nenhuma sobre suas motivações (alguns personagens eu não saberia citar o nome por nada). Mobius é o mais divertido e mais desenvolvido, e, por mim, sinceramente, a série poderia ter sido sobre ele. Isso porque, apesar do charme inegável de Tom Hiddleston no papel, não há o que mude o fato de que ter Loki como protagonista dessa série parece uma decisão puramente comercial. Foi para buscar audiência, não porque fosse parte do personagem, e só bem no começo e bem no final da série é que ele parece se encaixar de verdade na trama.

A atuação foi boa, mas não dá para deixar de reparar que os atores não tinham com o que trabalhar. Hiddleston e Wilson tiram leite de pedra e são o destaque da série como um todo. Minha grande crítica vai para Sophia Di Martino, que não traz emoção nenhuma para Sylvie – uma personagem que por si só já tinha prometido tudo, e não entregado nada.

Kang, ou Aquele que Permanace, simplesmente falha como vilão. Ele é daqueles que é simplesmente poderoso demais para ser combatido, então os roteiristas só o afastam da trama e contam que a ameaça abstrata será o suficiente. Tentam humanizá-lo, mas não explicam de verdade como ele se tornou o que se tornou. E o grande dilema da série, a dinâmica livre arbítrio X ordem, controle X humanidade, já é um tanto repetitiva depois de Thanos (e não chega nem de longe na dramaticidade do Titã Louco), mas se torna exaustiva demais com o passar da segunda temporada, especialmente na forma da teimosia de Sylvie.

Eu sei que tipo de deus eu quero ser.

O final é realmente tão incrível quanto disseram, finalmente encaixando humor, Loki enquanto personagem, e surpeendendo de verdade. Mas, na minha opinião, podia ter sido feita uma única temporada, com menos episódios, que ligasse mais brevemente o final da primeira com o da segunda. A história mesma não se ajuda, e eu sinceramente não acho que valha a pena assistir, mesmo (e talvez principalmente) se você adorar o personagem principal.

LOKI

Diretor: Kate Herron

Elenco: Tom Hiddleston, Owen Wilson, Sophia di Martino, Jonathan Majors, Ke Huy Quan, Gugu Mbatha-Raw

Ano de lançamento: 2021

Loki, Deus da Trapaça, sai da sombra de seu irmão para embarcar em uma aventura que ocorre após os eventos de “Vingadores: Ultimato”.

Relacionados

Destaques

Insta
gram

[jr_instagram id='3']

Parceiros