O filme é uma adaptação do romance de mesmo nome, escrito por James Baldwin nos anos 1970 e já resenhado por aqui. Dirigido por Barry Jenkins, o mesmo diretor de Moonlight, que levou o Oscar de melhor filme, melhor ator coadjuvante e melhor roteiro adaptado, é um filme que já veio com muitas expectativas, mas acabou levando apenas um Oscar para casa, o de melhor atriz coadjuvante, para Regina King, e nem indicado para melhor filme foi.

A história acompanha a jornada de Tish que, muito jovem e prestes a casar-se com Fonny, vê-se grávida enquanto o pai de seu filho e grande amor é preso, acusado injustamente de um estupro que não cometeu. O encarceramento em massa da população negra e o racismo institucionalizado parecem exercer um papel maior nessa história do que os fatos, e a esperança a qual a personagem tenta se agarrar é pequena, mas resistente.

Desde a cena de abertura, fica claro o estilo de Jenkins, que sempre traz uma beleza e delicadeza estética a seus filmes, ao mesmo tempo em que trata de histórias fortes e que possuem um caráter bastante violento. Da música ao enquadramento, tudo nesta primeira cena é perfeito e construído de forma que conseguimos sentir no ar, no silêncio entre os dois, combinado com uma bela trilha sonora, o amor prestes a desabrochar.

É um filmes extremamente sensível, delicado e belo, que parece pensado em cada detalhe, especialmente em seu uso da fotografia e da música. Em vez do grito, temos o silêncio. Em vez do protesto explícito, temos o uso de imagens que conversam com o espectador nas entrelinhas.

A cena em que a personagem descreve o modo como homens negros, homens brancos e mulheres brancos se aproximam dela, enquanto trabalha em um stand de perfume de uma loja de departamento, é um perfeito exemplo disso. É extremamente simples, mas tão forte e impactante! Jenkins nos mostra com muita sensibilidade as relações de poder social em um simples gesto.

A narrativa segue em uma linha semelhante à do livro, a não ser por seu final, que acaba sendo um pouco mais conclusivo e menos aberto. É um final triste por um lado, feliz por outro e que mostra, afinal, uma saída realista, que segue o que se espera, já que casos como o de Fonny não são raros nem pertencem apenas aos anos 1970.

O filme, porém, passa um pouco do ponto na sua calma e delicadeza. Não só pelas suas praticamente 2 horas de duração, nas quais há certo espaço para cortes, mas porque acaba sendo uma obra para ser digerida aos poucos. Funciona bem para ser assistida com pausas, mas se torna um pouca cansativa em uma sala de cinema.

Aqui as imagens falam mais alto que as palavras, e é preciso estar preparado para o tipo de filme com o qual você vai se deparar. Mas vale a pena. Jenkins proporciona uma experiência linda, onde é na sensibilidade de seu olhar que está sua maior arma política.

 

SE A RUA BEALE FALASSE

Diretor: Barry Jenkins

Elenco: Kiki Layne, Stephan James, Regina King e mais

Ano de lançamento: 2019

Baseado no célebre romance de James Baldwin, o filme acompanha Tish (Kiki Layne), uma grávida do Harlem, que luta para livrar seu marido de uma acusação criminal injusta e de subtextos racistas a tempo de tê-lo em casa para o nascimento de seu bebê.

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