mundosdiferentes

Era mais uma manhã comum. Acordar, se arrumar, tomar café, tirar o lixo e ir trabalhar. O dia estava cinza e provavelmente ia chover, mas ela decidiu não levar a sombrinha. O ônibus passou assim que ela chegou na esquina e, como sempre acontecia, ela o perdeu. Há uma mulher no ponto, meia idade, com cara de poucos amigos, fumando um cigarro. Ela se afasta, já que é alérgica, a mulher da um passo a frente como se notasse o afastamento, outro passo, para provocar. A garota pensa em como as pessoas são inconvenientes e em como o perfume que passou antes de sair está sendo substituído pelo odor do cigarro.

O ônibus vira a esquina, quase dez minutos depois do que ela perdeu. Não está cheio e ela senta sozinha no fundo. A maravilha de perder o da hora certa é que o próximo vem só com os perdidos, como ela. Puxa os fones e escolhe a música. Já fazem três semana que ela sempre começa com a mesma, tem dado sorte para os dias correrem bem e ela é supersticiosa. Até quer ouvir outra música, mas não sabe qual, está enjoada de todas.

Enquanto o ônibus percorre o trajeto a mente da garota está em outros lugares, vivendo outras vidas, na companhia de outras pessoas. Nos 20 minutos de percurso, ela vive em 20 mundos diferentes. Fica feliz, mesmo estando atrasada, que o transito está devagar, pois vai poder viver essas outras vidas por mais tempo, enquanto o tempo da sua vida real diminui.

O ponto onde ela desce está próximo. Programa as próximas três músicas, que dão o tempo exato entre a parada e o prédio comercial, guarda o celular, confere os fones, a bolsa e levanta. Aperta o botão para solicitar a descida e vê que o motorista a olha pelo espelho retrovisor. Ele freia bruscamente e ela precisa se segurar, xinga mentalmente e pula para fora do ônibus.

Ela olha para o céu, o tempo abriu, há sol. Vai ser um dia bonito. Ela acertou em ter deixado a sombrinha em casa.

Acertou em ter ouvido a música da sorte primeiro, outra vez.

 

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