Guillermo del Toro é o grande nome quando se fala de efeitos visuais únicos e roteiros fantásticos e O Labirinto do Fauno (2006) é uma de suas obras mais icônicas. Com direção, roteiro e coprodução de Del Toro, os efeitos visuais são assinados por Robert Stromberg e a fotografia por Guillermo Navarro. O longa coleciona premiações da crítica, com 3 Oscars, 2 BAFTAs e 3 Prêmios Goya.

Na história, a pequena Ofélia (Ivana Baquero) se muda com a mãe para um quartel no interior da Espanha, para morar com o novo padrasto, o capitão Vidal (Sergí Lopez). Enquanto Vidal tenta acabar com um grupo de guerrilheiros resistentes ao governo Franco, Ofélia descobre na propriedade um labirinto, cujo habitante, o Fauno, a reconhece como a princesa de uma terra distante, mágica. A garota então recebe tarefas para reconquistar seu lugar nesse mundo paralelo, mas precisa realizá-las ao mesmo tempo em que cuida da mãe grávida doente e escapa à crueldade de Vidal.

Sei que há um livro dessa história, de autoria do próprio del Toro e Cornelia Funke (Sangue de Tinta), e devo confessar que a estrutura narrativa do filme se assemelha muito à de um livro. É possível perceber nitidamente os três atos da história de Ofélia conforme cresce o assombro de quem assiste. O lado fantástico da trama é de fato digno do reconhecimento que tem. Apesar de conto de fadas não ser meu estilo preferido de fantasia, até quem não gosta tem que admitir que foi extremamente bem-feito, bem no limiar do assustador e o encantador.

Fica claro ao longo do filme que nossa segunda protagonista será Mercedes (Maribel Verdú), a governanta da casa. É difícil falar sobre a personagem sem dar spoilers, mas basta dizer que, na minha opinião é a mais bem trabalhada da história, com sua coragem e bondade. Sua relação com Ofélia é de uma delicadeza de preencher o coração: a menina que está aprendendo a desconfiar do mundo, e a mulher que não tem mais motivo nenhum para confiar nele, encontrando uma na outra uma fonte de carinho.

Os outros dois personagens dignos de nota são Vidal, que personifica a maldade, e o Fauno (Doug Jones), esse sim absolutamente fascinante. Sombrio, explosivo, rígido e carinhoso, passei o tempo inteiro me questionando sobre suas verdadeiras intenções. Por outro lado, à mãe de Ofélia (Adriana Gil) e ao doutor (Alex Angulo) senti que faltou muita profundidade quando comparado à sua importância na trama.

Trilha sonora e fotografia constroem toda uma atmosfera sombria de tirar o fôlego para a trama, enquanto a atuação as completam. Deixo meus elogios à Baquero e Verdú, que imprimiram emoção à narrativa tão pesada. É preciso reconhecer também a qualidade da performance de Lopez, apesar de não ser um tipo de personagem que me agrada: completamente cruel, sem justificativa ou contradições.

Infelizmente, o arco narrativo fora das fantasias de Ofélia deixou muito a desejar. Nenhum dos personagens têm um passado para respaldar suas posições e o aspecto histórico foi uma grande decepção. Eu esperava que o longa se debruçaria minimamente sobre o contexto da ditadura de Franco, porém não passou nem perto disso. Jamais aprendemos as motivações dos guerrilheiros ou do próprio Vidal na disputa, e tudo que ocorre é absolutamente genérico. Poderia muito bem ser qualquer outro filme que se passasse, por exemplo, na Alemanha nazista.

A inocência tem um poder que o mal não imagina

O final recuperou as falhas em geral do filme, com uma força narrativa e uma simbologia extremamente complexa e interessante. É a quebra da infância de Ofélia, de seu mundo de sonhos que foi tão criticado ao longo da narrativa; eu diria até, o momento em que Ofélia precisa se tornar Mercedes, com sua determinação e seu senso de juistiça. Mas também é uma ruptura no que até então parecia ser a mensagem do filme. Parecia muito óbvio que tudo caminhava para ser sobre a importância da esperança em tempos difíceis, até uma conclusão igualmente milagrosa e trágica, esperançosa e que ao mesmo tempo já não tem fé nenhuma de que a humanidade pare de praticar o mal.

Esse é um filme que te absorve no momento, mas não necessariamente fica na memória em grande parte. Tinha muito potencial, mas, para mim, simplesmente faltou profundidade para que fosse uma história que me movesse de verdade. Ainda assim, fica o crédito a del Toro pela execução belíssima. Deixo como recomendação especial àqueles que gostaram de Matilda (1996) e As Crônicas de Nárnia: o Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa (2005), bem como aqueles que, como eu, assistiram Pinochio (2022) e ficaram curiosos com o estilo do diretor.

O LABIRINTO DO FAUNO

Diretor: Guillermo del Toro

Elenco: Ivana Baquero, Maribel Verdú, Sergí Lopez, Doug Jones, Alex Angulo

Ano de lançamento: 2006

Em 1944, na Espanha, a jovem Ofélia e sua mãe doente chegam ao posto do novo marido de sua mãe, um sádico oficial do exército que está tentando reprimir uma guerrilheira. Enquanto explorava um labirinto antigo, Ofélia encontra o Pan fauno, que diz que a menina é uma lendária princesa perdida e que ela precisa completar três tarefas perigosas a fim de se tornar imortal.

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