O longa de Ruben Östlund arrebatou a crítica da forma que a comédia costuma arrebatar a crítica: sem motivo nenhum aos olhos do expectador geral. A produção de Erik Hemmendorff e Philippe Bober, de roteiro assinado pelo diretor sueco, recebeu premiações em Cannes e diversas outras. O filme é uma coprodução entre Suécia, França, Grécia e Dinamarca.

A sinopse de O Triângulo da Tristeza já é bastante duvidosa. Se a premissa básica conta apenas sobre a subversão da ordem social após o naufrágio de um cruzeiro de luxo, ela deixa de fora os dois primeiros atos inteiros do filme (abertamente delimitados em partes 1, 2 e 3), que exploram a dinâmica de um casal de modelos de alto poder aquisitivo, e da dinâmica social no cruzeiro em si.

O objetivo dessa sátira era, ao meu ver, tentar uma crítica na linha de Parasita (2019) – sem dar muitos nomes aos bois na construção da crítica social e com um toque do absurdo, mas incorporando elementos de uma comédia mais escrachada. E a minha opinião é bem direta: deixemos o brilhantismo para Bong Joon-ho.

O ponto inicial do filme que me incomodou foi a (falta) de direção da trama. E não porque a história demora muito para chegar no ponto da sinopse, mas porque a construção inicial simplesmente não combina com a sinopse, e nem precisava dela.

Até a metade, temos um longa silencioso, com um humor bastante francês – daquele que as risadas surgem do puro desconforto do expectador frente às interações frias entre os personagens. Toda a primeira parte traz isso de uma forma bastante interessante com Carl (Harris Dickinson) e Yaya (Charlbi Dean), ao mesmo tempo em que discute a cultura de aparências. Isso se mantém em grande parte também do segundo ato, sendo um pouco menos sutil, mas sabendo trazer situação icônicas absurdas para representar a opressão social. Dessa forma, o terceiro ato se perde totalmente.

Consegue relaxar essas rugas do triângulo da tristeza?

A comédia do roteiro foi evaporando aos poucos para mim depois disso, pois se envereda para algo completamente diferente. O Triângulo da Tristeza ficou conhecido pelo humor escatológico, em uma cena que, para mim, simplesmente se estendeu demais para ter graça. É indescritível (eu pessoalmente nem recomendo), mas tentando ser objetiva, após os 10 minutos iniciais já não tinha mais sentido algum na cena. E, mais tarde, no terceiro ato, mais uma vez tudo se descaracteriza e por mais que eu sentisse que ainda havia algum esforço de comédia ali, eu estava bem distante dele.

Um filme assim poderia ter sido um estudo de personagem, e até ensaiou ser um sobre Carl no primeiro ato. A escolha entretanto, foi oposta: todos os personagens acabaram bastante rasos e iguais, no que eu interpreto como uma crítica aos “ricos” e sua superficialidade. Interpretar dessa maneira, não obstante, não me fez gostar da decisão de roteiro. Por isso não destaco a atuação de nenhum membro do elenco; não senti que estavam interpretando personagens, no máximo personas. O figurino não me chamou a atenção, mas o uso do silêncio para desconforto em contraponto com cenas extensas de músicas conhecidas foi feito de forma inteligente.


Como já disse, a segunda metade do filme desandou completamente para mim, mas o final particularmente me fez sentir que não tinha valido a pena. As cenas na ilha perdem qualquer sutileza na crítica (o que faz sentido, afinal, fora da sociedade, não há motivo para ser falsamente cordial) e a dinâmica de poder é até que interessante de acompanhar. Porém, a essa altura eu já não estava gostando de nenhum aspecto da execução do filme, e eu imagino que muito do que me incomodou fosse uma tentativa de comédia.

Além disso, o plot twist é muito previsível e clichê, e, o final… Esse tipo de arremate simplesmente não funciona para mim. Tenho certeza de que deve haver um significado por trás, mas eu não apreciei e fiquei apenas decepcionada após de 2 horas e meia.

“Decepção” realmente define bem minha experiência com O Triângulo da Tristeza. Esperava algo engraçado e me diverti muito pouco. Esperava uma crítica interessante, e saí com apenas uma cena realmente boa sobre isso. A verdade é que não sei nem para quem eu recomendaria, porque tive vontade de parar de assistir várias vezes. Acabei ficando apenas com a curiosidade de assistir ao restante do filme do início, pois me recuso a acreditar no rumo que a coisa toda tomou.

O TRIÂNGULO DA TRISTEZA

Diretor: Ruben Östlund

Elenco: Charlbi Dean, Harris Dickinson, Dolly De Leon, Zlatko Burić, Vicki Berlin

Ano de lançamento: 2022

Um cruzeiro para os super-ricos afunda, deixando os sobreviventes, incluindo um casal de celebridades, presos em uma ilha.

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