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Nós, os Gaúchos, somos um povo orgulhoso da nossa terra, defendemos o Rio Grande do Sul, como se fosse a nossa nação, gostamos de exaltar nossas qualidades, enumerar nossas belezas e divulgar nossas conquistas. Quem vê de fora, pensa que somos arrogantes, para a gente, é algo natural, já nascemos assim, gostamos de onde vivemos. Além de toda a tradição, dos Grenais, aqui é um lugar que tem muita coisa legal para oferecer.

Eu sempre adorei Porto Alegre, sempre pensei com carinho sobre a cidade, e era um lugar onde eu queria morar. Quando a gente é do interior, acho que um sonho que vive dentro da maioria de nós, é de ir para uma cidade maior, “virar gente”. Comigo não foi diferente, muito antes de eu ter certeza do que queria fazer da vida, eu sabia que queria sair de São Sepé. Porto Alegre era a opção mais perto, então foi pra cá que eu decidi vir.

Como toda a cidade grande, a coisa pode ser um pouco difícil, quando você não tem um carro, ou não conhece os lugares, mas com o tempo você se adapta. Arrumei um apartamento, aprendi a me virar e, como era a expectativa, não me arrependi da escolha que fiz. Porto Alegre era uma cidade boa pra se viver, eu conseguia encontrar tudo que queria, me movia com destreza, e apesar de conhecer poucas pessoas, tinha tempo para fazer novos amigos.

Até que a coisa começou a mudar.

Ano passado, a capital gaúcha foi percursora dos atos de luta contra o aumento da passagem, que sacudiu o país. Aqui foi o ponto de início do que muitos chamaram de o “Acordar do Brasil”. Depois de nós, os protestos se espalharam e se fizeram presentes em quase todos os estados; agora, reivindicando mais do que redução de tarifas, mas melhorias na educação,  repudio a corrupção, investimento na saúde, nem a copa do mundo não se escapou, todo mundo caiu em cima. Todo mundo foi pra rua, pintou a cara, levou seu cartaz, e o seu grito na garganta.

Eu não sou contra os protestos, não me entenda mal, estive presente em alguns deles, inclusive. Sei que não resolveu todos os problemas, mas foi um passo importante, sentar e esperar quase nunca é a solução.  O problema é que de lá pra cá, parece que as engrenagens da cidade começaram a mudar e a coisa começou a desandar.

Se você acompanha o jornal, talvez saiba que estamos a 12 dias sem transporte público, o calor está batendo recordes assustadores no nosso estado, que é conhecido pelo inverno severo e não pelo verão. Em consequência disso, as pessoas perderam um pouco da alegria e da educação, estamos todos exaustos. Sei que o problema climático não está ao meu alcance, ou ao dos governantes, para ser solucionado. É uma vingança da natureza, aos maus tratos que vem sofrendo a séculos. Mas aqui, o calor não é um problema, é um agravante.

Os órgãos públicos estimam que cerca de 1 milhão de pessoas estão sendo prejudicadas pela Greve dos Rodoviários. Não são vagabundos e ladrões, são trabalhadores. Trabalhadores que, assim como eu, não tem como chegar no seu trabalho. Trabalhadores, que estão enfrentando um calor infernal de sensação térmica superior a 40º todos os dias, que tem que caminhar quilômetros, levantar de madrugada, chegar em casa tarde da noite, para não ter de seus salários, o dia descontado.

Eu não vivo na extrema pobreza, recebo o suficiente pra me virar, estou aguentando a pressão, pagando lotação, ao preço absurdo e R$ 4,00, para ir de pé, amontoada, as vezes pisoteada, por gente que só quer ir trabalhar. Mas eu penso em quem realmente não tem dinheiro, em quem não pode pagar esse valor, e que assim como não pode pagar esse valor não tem um ar condicionado (eu também não tenho). Essas pessoas levantam 4h, 5h da manhã, caminham muitos quilômetros no sol escaldante, trabalham, e voltam pra casa, para o seu forninho particular.

Eu acho que toda a classe tem o direito de reivindicar seus direitos, mas o momento não podia ser pior. Aqui, o sistema de passagens é eletrônico, você recarrega um cartão, ou se for empregado, a sua empresa deposita seu vale transporte e fica tudo certo. As lotações tem o mesmo sistema de pagamento, mas o vale transporte não pode ser usado nelas. Porque isso? Não sei. Meu cartão está com meu vale transporte lá, o mês virou, foi recarregado, mas eu não posso usar. Todo o dia eu tenho que desembolsar do meu bolso, não vejo lógica, não acho justo.

O prefeito não cede, a Associação dos Transportes Públicos não cede, os rodoviários não cedem, e o caos se espalha. A gente já entendeu a quebra de braço, mas está na hora de alguém ceder. O que era um direito no início, agora virou falta de respeito.

A paciência acabou. Porto Alegre mudou.

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