descartaveis

 

Quando eu saí da faculdade e fui em busca de um trabalho em Porto Alegre eu sabia que iria ser difícil, e foi. A procura demorou alguns meses e o número de “nãos” foi incontável e bastante frustante, mas eu nunca desanimei ou desisti. Um belo dia as coisas se encaixaram e eu consegui o emprego que eu tanto queria.

Diferente do trabalho no interior onde muitas vezes criamos laços com as pessoas com quem trabalhamos, em grandes centros a coisa é bastante diferente. Muitas vezes sequer conhecemos o “chefe”  ou temos o prazer de trocar uma palavra com ele. Os colegas não são amigos e não estão preocupados com o seu bem estar ou andamento de trabalho. Na cidade grande o ditado que prevalece é: faça o seu trabalho que eu faço o meu.

Quando há alguém mais amigável e aberto a sensação é de estranheza e por vezes até desconforto. Por aqui ninguém quer se apegar e demorou um tempo até eu entender o por que. Eu já mudei de emprego algumas vezes depois de ter vindo pra cá e deixei muitas pessoas pra trás, alguns amigos e outros nem tanto. A verdade é que na selva que é o mercado não há tempo para fazer amizades, não há tempo para conhecer e entender o outro.

Em uma empresa os funcionários não são pessoas importantes que ajudam no crescimento do negócio. Pessoas são peças que fazem a máquina funcionar, e peças são substituíveis, descartáveis. Isso não é uma verdade singular ou inquestionável, é apenas o que  eu vejo, o que eu sinto. Há exceções claro, há empresas mais familiares, menores, mas no fim das contas o que importa mesmo é o desempenho e o lucro no fim do mês.

Acho que essa postura deixa as pessoas mais tristes e desmotivadas a trabalhar. Acho que isso constrói ambientes de trabalho desconfortáveis e sufocantes. Acho que nem amar profundamente o que se faz é suficiente. Aquela história de “eu só quero fazer o meu trabalho sem me envolver” é falha e solitária. Deixamos de ser uma equipe e passamos a ser apenas um indivíduo sozinho, isolado. E isolados somos fracos, vulneráveis, substituíveis e descartáveis.

O mercado é uma selva, e na selva há leões e onças, mas também há cervos e zebras, coelhos e esquilos. É preciso compreender o jogo para tentar escolher quem você quer ser, enquanto ainda há tempo.

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