The House, escrita por Enda Walsh, é uma antologia feita em stop-motion disponível na Netflix e anunciada como comédia dark.

Em “The House” acompanhamos a história de um edifício ao longo do tempo. Dividido em três partes e dirigido por cineastas diferentes em cada momento (passado, presente e futuro distópico), a animação aborda as ansiedades que acompanham os habitantes de uma casa, seja o controle que os outros têm sobre ela, as criaturas dentro das paredes ou o apego extremo. 

Primeira história de The House

Na primeira história, dirigida por Emma de Swaef e Mac James Roels, uma família humilde do século XIX (representados por bonecos de pano) recebe uma oferta irrecusável: uma mansão para sua família de graça se eles abandonarem sua modesta casa. A nova moradia é enorme e a filha mais velha, Mabel, começa a perceber algo estranho.

Na segunda história, dirigida por Niki Lindroth von Bahr e ambientada nos dias atuais, um empreiteiro, representado por um rato, acaba de investir todos os seus recursos na reforma da mansão. Ele arruma tudo sozinho e adora o resultado, até que na véspera de receber visitas para a venda da mesma, ele encontra uma infestação de insetos. 

Na terceira história, dirigida por Paloma Baeza e ambientada em um futuro distópico, os personagens são todos gatos e a casa é a única propriedade ainda seca em uma cidade completamente alagada. A mansão é agora um complexo de apartamentos e a proprietária, uma gata chamada Rosa, está determinada a reformar a mansão. Seus dois inquilinos restantes, entretanto, não pagam o aluguel, contribuindo apenas com peixes ou cristais. A água avança cada vez mais em direção à casa,  mas  Rosa se recusa a deixá-la. 


“The House” prova ser uma antologia consistente, apresentando cenas surreais, lúdicas, sádicas e divertidas quase sempre no mesmo nível. Em seus diferentes estilos e espécies, essa história não segura a mão do público quando se trata dos floreios poéticos de seu poderoso ritmo gradual; prefere ser estranha e complexa, como a lógica por trás da mudança de seres humanos (de pano) para ratos e gatos. Os produtores querem que você percorra seus corredores; perceba como as coisas mudaram ao longo do tempo e como não mudaram, mas você precisa se atentar aos sinais. 

Terceira história de The House

O que conecta cada curta, além da casa física e da animação stop-motion, é uma sensação arrepiante de pavor. A Casa parece harmoniosa a princípio, com animais falantes e visuais semelhantes a casas de bonecas, mas em cada história há algo à espreita logo abaixo da superfície; algo errado, perturbador. E quando se  junta tudo, o resultado é uma antologia com um trio de histórias distintas, mas claramente conectadas.

Apesar das várias circunstâncias e cronologias, em cada história a casa representa uma espécie de salvação para os personagens. É uma chance para uma família alcançar status mais elevado, para um rato se livrar da dívida e para uma gata construir o imóvel dos seus sonhos e se sentir realizada. A única constante é a casa, sempre reconhecível, apesar das mudanças superficiais ao longo dos anos. A mesma parece atrair os desesperados e o mais interessante disso tudo é como cada história oferece uma perspectiva diferente sobre o tema.

Os personagens de pano do primeiro capítulo dão uma vibração quase aconchegante, que torna os elementos mais sombrios ainda mais rígidos, enquanto o segundo capítulo é incrivelmente realista e detalhado. Esses dois primeiros capítulos tendem a ser assustadores, mas enquanto o primeiro é mais um horror com construção lenta, o segundo é um pouco mais tangível. A história final, por sua vez, tem cenários nebulosos que sinalizam algo que se aproxima do fim do mundo, mas termina com uma sensação surpreendentemente de esperança.

The House também apresenta uma das animações em stop-motion mais bonitas que eu já vi. As equipes por trás da antologia merecem ser reconhecidas por aproveitar ao máximo seu tempo de narrativa. Com cerca de 30 minutos para cada quadro, foram explorados diversos ambientes, incluindo aquáticos, sendo uma inspiração para a nova geração de animadores a ultrapassar seus próprios limites.

Quanto à trilha sonora, Gustavo Santaolalla ( The Last of Us Part II , Narcos) fornece algumas peças assustadoras que conferem ainda mais terror ao filme. Além disso, a presença do ex-vocalista do Pulp, Jarvis Cocker e de Pharrell Williams foram surpreendentes. A adição de Helena Bonham Carter no elenco (Sweeney Todd, Harry Potter ) também é apropriada, visto que The House ocasionalmente lembra as obras de Tim Burton, ex-parceiro e colaborador de Bonham Carter.

Definindo em uma única frase: The House é uma antologia perturbadora envolta em um aconchegante stop-motion. Com seus diretores em ascensão (cada um empregando um estilo surreal), a animação cria um equilíbrio entre uma narrativa etérea e existencial tão intensa que é difícil não se impactar e ter que refletir por um bom tempo após a rolagem dos créditos.

Se você gosta de animações antológicas como também é o caso de Love, Death and Robots você já tem o que assistir logo mais. 

THE HOUSE

Diretor: Emma De Swaef, Niki Lindroth von Bahr, Paloma Baeza, Marc James Roels

Elenco: Mia Goth, Jarvis Cocker, Susan Wokoma e mais

Ano de lançamento: 2022

Uma casa resiste ao longo das eras e serve como um abrigo sinistro para seus moradores. Uma família gananciosa busca uma vida melhor no lugar, um empreiteiro tenta desesperadamente fazer um bom negócio, e uma gata resiste à ideia de deixar o seu lar.

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