maldade

Semana passada terminou comigo muito irritada com as pessoas em geral (tem até um post revolta aqui em baixo), e eu passei o final de semana meio reclusa, tentando não me irritar ainda mais. Logo na segunda, acordei gripada. Isso normalmente acontece. Se eu fico muito estressada ou passo por algo ruim, uma gripe bate na porta pra mandar eu me aquetar. Acho que o meu sistema nervoso alarmado baixa o meu sistema imunológico ou algo assim.

Fui trabalhar de arrasto na segunda, mas como estão pintando a agência foi um deus me acuda com a minha sinusite/renite, pois o cheiro da tinta estava muito forte.  Na terça eu me acordei as 6h da manhã, pior e,  com altas crises e logo vi que não ia rolar ir trabalhar. Eu odeio isso e me sinto culpada toda vez que tenho que matar o trampo, o problema é que sei que ia ficar muito mal, não ia produzir nada e ainda ia causar constrangimento a outras pessoas que trabalham comigo que iam ter que aturar a minha doença. Então, fiz aquele chá com mel, e depois das 9h e minha crise acalmar consegui dar uma descansada.

Quando consegui, enfim me sentir melhor para levantar e ligar o note foi como um tapa na cara.Eu normalmente não me abalo muito com coisas que acontecem no contexto “mundo”. Aconteceu, ok, vamos aprender a lição e seguirmos em frente. Mas dessa vez foi bem diferente. Tudo de ruim que eu já estava sentindo, se amplificou.

Não sei se alguém fora do RS ouviu falar ou leu sobre o caso de um menino que foi dado com desaparecido em 4 de abril em Três Passos e que foi achado morto na segunda-feira em Frederico Westphalen, aqui no Rio Grande do Sul, mas acredito que se você acessa portais de notícias deve ter pelo menos cruzado os olhos.

O menino tinha apenas 11 anos, a mãe tinha (supostamente, pois o caso vai ser reaberto depois do que aconteceu) se suicidado em 2010, e morava com o pai e a madrasta, e mais uma meio irmã de 1 ano e meio do segundo casamento. Segundo o que foi divulgado pela mídia, a madrasta levou o menino a Frederico Westphalen e, com a ajuda de uma amiga, dopou o menino, aplicou uma injeção letal, pois a mesma é uma enfermeira e enterrou o menino no interior da cidade. Ao voltar para Três Passos, a madrasta e o pai, que é médico, fizeram um boletim de ocorrência, declarando o menino desaparecido. Quem entregou todo o caso e o local que o corpo foi enterrado foi a amiga e cúmplice do crime, na segunda-feira, dia 14.

Os professores e vizinhos falam do descaso do pai pelo filho, que passava o dia na casa de amigos, pois a madrasta não deixava ele entrar em casa se o pai não estivesse. A vó materna revelou que o pai não deixava ela ver o neto desde a morte da mãe. E, o mais alarmante, o menino havia, no fim do ano passado, procurado o juizado da família para relatar a falta de amor do pai e pedir para viver com outra família.  Agora eu pergunto, que menino de 11 anos tomaria uma decisão dessas, se algo não estivesse errado?

Eu não vou discutir sobre de quem é a culpa, ou quem deve pagar pelo que aconteceu, porque isso realmente não cabe a mim. Mas o que não posso deixar de ressaltar é o tamanho da revolta e mal estar que isso me causou e que deveria causar em todo mundo.

Como alguém consegue planejar o assassinato de uma criança de 11 anos? PIOR que isso. Como TRÊS  pessoas conseguem chegar ao consenso de fazer uma coisa dessas? Eu paro e penso nas coisas que eu já vivi, nos meus dois sobrinhos, nas tantas vezes que eles me irritaram ou fizeram algo que não era legal e JAMAIS, em hipótese alguma, nada nem parecido passa pela minha cabeça. Gente, ele era uma criança, uma criança que perdeu a mãe.

Já tivemos outros casos chocantes, como o casal Nardeli, mais recentemente, mas nenhum apresentava a preparação e o planejamento que esse crime teve. Lendo os detalhes, nas matérias mais aprofundadas é possível ver que foi algo arquitetado nos mínimos detalhes. Eu me senti muito mal fisicamente com tudo isso. Foi uma revolta, um desprezo tão grande que não existe palavras pra descrever. É bem difícil de explicar.

Mas a proposta de vir falar isso é levantar uma questão que me preocupou, o descaso com o qual olhamos as coisas no nosso dia-a-dia.

Será que se a polícia tivesse investigado melhor a morte da mãe não teria visto algo a mais, como agora, após essa tragédia está disposta a procurar? Será que os professores não conseguiram notar as dificuldades do menino? Será que esses vizinhos que viam ele todos os dias sentado na calçada esperando o pai chegar não falavam nada? Será que essa avó, que é dona de uma grande concessionária, não poderia ter pego um carro e ido até a cidade ver o neto? Será que o juiz que manteve esse menino com o pai não conseguiu ver que para um menino dessa idade pedir pra sair de casa é porque algo realmente muito errado está acontecendo?

Será que a gente não vê coisas assim acontecendo ao nosso redor todos os dias e ficamos calados? Aquela mãe que chama o filho de gordo no provador da loja, a menina de 18 anos que não levanta para o idoso no ônibus, aqueles que olham com desprezo para os que moram na rua, os que veem aquele cachorro sempre preso no pátio e a família sempre viajando. Pois é.

 

No fim das contas, as coisas mais importantes são aquelas que fazemos de conta não enxergar.

Quando acontece algo assim, parece que todos somos um pouco culpados.

 

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