Buracos Negros é um livro organizado por David Shuckman, transcrito a partir de palestras dadas por Stephen Hawking. Foi lançado em 2017 pela editora Intrínseca.
SOBRE O LIVRO
David Shuckman é editor de ciências da BBC e transcreveu para este livro duas palestras dadas por Stephen Hawking em 2016 à TV britânica. Nas suas duas palestras, Hawking dialoga com os espectadores a respeitos do fascínio que os buracos negros representam para a ciência atual. Isso porque até hoje o que se sabe sobre esses objetos são poucas coisas, e quanto mais se intensificam as pesquisas, mais estranho e confuso se torna a sua compreensão.
A primeira palestra, intitulada Buracos Negros não tem cabelo? Hawking busca explicar, de forma simplificada, o que se sabe que acontece no horizonte de eventos, a borda do buraco negro onde nada consegue sair. De forma prática, Hawking expõe como funciona a borda e como ela interfere na harmonia do espaço. Na segunda palestra, Buracos Negros não são tão negros quanto se diz, Hawking explora um pouco sobre uma de suas teorias que defende a hipótese de que a informação não se perde dentro do buraco negro, e que uma parte dela pode sair de lá em forma de energia. Sua teoria deu luz à radiação Hawking.
Para Hawking, buracos negros são a chave para a compreensão de todo o universo, e é por isso que nos últimos anos sua pesquisa tem sido quase que exclusiva em cima destes objetos. Para o físico, descobrir como funciona e o que há dentro do buraco negro mudará tudo na ciência atual, e até mesmo poderá unir a teoria da Relatividade Geral criada por Einstein e as leis da Mecânica Quântica, que atualmente, não funcionam juntas.
MINHA OPINIÃO
Hawking é sem dúvida um cientista brilhante, não só pelos seus feitos acadêmicos, mas também pela sutileza e clareza com que consegue trazer ao público leigo conceitos e ideias tão complexas quanto a ciência dos buracos negros. Apesar de sua limitação física condicionada por uma rara doença degenerativa, Hawking encanta multidões e é referência para muitos cientistas novatos. O cientista é a prova de como o ser humano, por mais limitado que esteja, pode superar obstáculos e tornar o mundo um lugar melhor. O filme (e livro) A Teoria de Tudo é uma ótima forma de conhecer melhor sobre a vida deste extraordinário homem.
Eu decidi ler este livro por dois motivos: 1º é pequeno, com 64 páginas, uma ótima ideia para intercalar as leituras ‘grandes’ que tenho feito. 2º porque eu sou fascinado por cosmologia e tudo o que ela envolve, desde galáxias, buracos negros, planetas, estrelas, etc. O universo é imenso e desde muito jovem eu gosto de olhar para o céu e me perguntar o que pode ter lá em cima, além do que conseguimos ver.
“Dizem que às vezes a realidade é mais estranha que a ficção. Em nenhum lugar isso é mais verdadeiro do que no caso dos buracos negros. Os buracos negros são mais estranhos que qualquer coisa já sonhada pelos escritores de ficção científica.”
À primeira vista pode parecer um livro complexo e cheio de termos científicos, mas não é nada disso. É uma leitura fácil, rápida e super agradável. A forma como Hawking fala sobre ciência é envolvente e totalmente compreensível. Você não precisa saber de matemática, física ou qualquer outra ciência. Nem mesmo precisa entender algo sobre os conceitos apresentados. Em poucos minutos lendo as palestras, você entende a linha de raciocínio do palestrante e fica encantando com a magia que envolve toda a nossa existência no Cosmos.
Na primeira palestra, Hawking explora os conceitos e ideias sobre o “horizonte de eventos”. Conforme Hawking explica, essa nomenclatura define uma borda que separa a singularidade do universo exterior. A singularidade é ponto central e obscuro do buraco negro. Ninguém sabe o que acontece lá dentro, pois a sua gravidade é infinita e sua pressão, extremamente grande. Nem mesmo a luz consegue escapar de tanta atração gravitacional. O horizonte de eventos é, neste caso, o ponto onde alguma coisa pode ou não “desaparecer do mapa”. Para se ter uma ideia da monstruosidade que é entender um buraco negro, ele é tão densamente grande e altamente gravitacional, que o tempo dentro de um buraco negro passa muito devagar. Um dia dentro dele poderiam ser anos aqui na Terra, quem sabe séculos.
Confesso que sempre foi confuso para mim entender como pode o tempo passar diferente. Eu sempre achei que era imutável, mas segundo a teoria da Relatividade de Einstein, o tempo é deformável por objetos de alta densidade gravitacional. Isso porque Einstein provou que o tempo e o espaço não são entidades separadas, mas que compõem uma única chamada de espaço-tempo, algo como uma fina e sensível película que há no vácuo. Objetos pesados como a Terra deformam o espaço-tempo ao seu redor, porém essa deformação é milhares de vezes menor do que a causada por um buraco negro, que é extremamente pesado. Sendo assim, o espaço-tempo perto de um buraco negro é esticado, alongado, o que torna a passagem temporal mais lenta.
“Todas as nossas teorias sobre o espaço foram formuladas com o pressuposto de que o espaço-tempo é liso e quase achatado, portanto não se aplicariam na singularidade, onde a curvatura do espaço-tempo é infinita. Na verdade, a singularidade assinala o fim do próprio tempo. Era isso que Einstein achava tão inadmissível.”
Na segunda palestra, Hawking vai um pouco mais afundo sobre os buracos negros e fala a respeito do que acontece com a matéria e a informação que cai dentro dele. Como comentei antes, até onde se sabe, nada do que cai dentro do buraco negro consegue sair de lá. Mas isso sempre levantou a questão: então o buraco negro é o fim? Tudo se perde dentro dele? Para Hawking não, a informação não se perde. Ele aborda um conceito simples da termodinâmica, que é a lei da conservação da energia. Segundo essa lei, a energia não pode ser criada e nem destruída, apenas transformada. E o que são informações, se não energia pura? Eu lembro que esse princípio foi um dos conceitos mais interessantes que aprendi nas aulas de física do colégio e nunca mais esqueci. Faz bastante sentido, na verdade, mesmo que isso envolva cálculos complexos.
Baseado nisso, Hawking teoriza que dentro de um buraco negro, a matéria se transforma em energia pura e, dessa forma, se mantém conservada. Claro que isso torna também o processo inverso impossível, já que segundo o conceito de entropia, o nível de desordem dos objetos não pode ser desfeito. Em outras palavras, o caos criado pelo buraco negro não pode criar ordem, apenas mais caos. Mas conforme explica Hawking, a energia originada dentro do buraco negro sempre surge em partículas pares, positivo e negativo.
Sendo assim, uma dessas particular será fortemente atraída para dentro, enquanto a outra, será fortemente repelida para fora. Assim Hawking criou a teoria da radiação Hawking, uma fonte de energia espirrada de dentro do buraco negro em função da repulsão das cargas e resolvendo o paradoxo de que nada poderia sair de dentro dele. Claro que essa teoria ainda não foi provada, mas Hawking está confiante que o LHC do CERN consiga em breve criar miniburacos negros e demonstrar que a radiação Hawking exista. Se existir, isso significa que de certa forma é possível escapar de dentro do buraco negro, o que ajudará a compreender o que acontece dentro da singularidade.
“Os cientistas têm procurado miniburacos negros com essa massa, mas até o momento não encontraram nenhum. O que é uma pena, porque se alguém tivesse conseguido eu ganharia um Prêmio Nobel!”
Buracos Negros não é nenhum livro altamente científico onde você vai aprender tudo sobre estes objetos celestes, mas é sem dúvida um ótimo ponto de partida para iniciantes no mundo da ciência astronômica e cosmológica, ou até mesmo curiosos, como eu. Acho muito válida a leitura dele e em breve quero ler outras obras do cientista, onde ele explora de forma mais aprofundada as noções de tempo e espaço, origem do universo e todo tipo de teoria científica relacionada. Ler sobre esses assuntos nos mostra o quanto somos pequenos diante da imensidão do universo e o quanto ainda temos a aprender sobre nossas origens.


BURACOS NEGROS
Autor: Stephen Hawking
Editora: Intrínseca
Ano de publicação: 2017
Em 2016 Stephen Hawking participou da série de palestras BBC Reith Lectures, promovida pela rede de televisão britânica BBC e transmitida pela rádio BBC 4. A cada ano uma figura proeminente em sua área é convidada a discorrer sobre temas relevantes. Naqueles meses de janeiro e fevereiro, Hawking falou sobre um assunto que há décadas ocupa lugar de destaque em suas pesquisas: os buracos negros.
Em duas exposições memoráveis, um dos maiores gênios da atualidade argumenta que, se pudéssemos compreender como os buracos negros funcionam e como eles desafiam a natureza do espaço e do tempo, seríamos capazes de desvendar os segredos do universo. Insights de toda uma vida são apresentados com a lucidez e a já conhecida verve cômica de Hawking, acrescidos de notas explicativas que situam o leitor nos trechos mais cruciais.
Enquanto a maioria dos especialistas se conforma com o fato de trabalhar com temas praticamente ininteligíveis para o público geral, Stephen Hawking tomou para si o papel de grande paladino da divulgação científica – e nesse pequeno livro, mais uma vez, extrapola todas as expectativas.