A Criança no Tempo foi escrito pelo autor Ian McEwan e publicado no Brasil pela editora Companhia das Letras em 2018.

SOBRE O LIVRO

Londres, 1970. Stephen Lewis é um conhecido autor de livros infantis e leva uma vida tranquila com sua esposa Julie e a pequena Kate, sua filha de três anos, dedicando parte de seu tempo a participar de um comitê de leitura e escrita ao qual ele não pretendia fazer parte antes de ser influenciado por seu editor, Charles Drake.

A vida não parecia oferecer grandes percalços ao autor até que durante uma ida rotineira ao supermercado, em um sábado de manhã, algo terrível muda a vida da família para sempre quando, em um piscar de olhos, enquanto o pai se vira para colocar as compras na bandeja do caixa, a pequena Kate desaparece sem deixar rastros.

“Mas o tempo – não necessariamente como ele é, mas como o pensamos – proíbe de forma monomaníaca as segundas oportunidades.”

Após o ocorrido, Stephen experimenta uma angústia e culpa que parecem intermináveis, afinal ele era o guardião da criança e jamais deveria ter desviado sua atenção. Por outro lado, vivendo uma dura realidade, seus esforços parecem não resultar em nenhum avanço na busca pela filha enquanto o casamento desmorona abalado pela perda e pela dor que parecem apenas crescer com o passar do tempo, já que aparentemente cabe a eles apenas aceitar a perda da filha, aceitar que ela se foi e se perdeu no tempo.


MINHA OPINIÃO

Partindo de um acontecimento trágico, o autor trata com delicadeza temas que mereciam atenção não somente àquela época, mas que permanecerão para sempre sendo discutidos: a responsabilidade dos pais, a culpa, o tempo, a angústia, os reflexos de um descuido, a depressão, a desconstrução de um relacionamento e, é claro, o sequestro de uma criança. 

Inicialmente, pelos temas que aborda e pela forma com que a história é conduzida, cheia de questionamentos, reflexões e discussões de assuntos sobre os quais a maioria das pessoas procura não querer se intrometer, como por exemplo o governo, a segurança, reflexões pessoais e internas e diversos outros, pode parecer que este seja um livro pesado, e, o é de certa forma. Mas, mais uma vez, assim como em “Enclausurado”, Ian McEwan desenvolve uma narrativa sutil, insere momentos de alívio cômico e faz com que o leitor se envolva de uma forma intensa com a obra, principalmente, por se sensibilizar diante do turbilhão de informações que recebe de uma só vez.

Um dos aspectos mais interessantes da narrativa é, ouso dizer, o que a classifica como um drama. Longe de ser um suspense policial onde o leitor se vê preso à leitura pela resolução do mistério por trás do sumiço da pequena Kate, todas a atenção é direcionada para o tempo e a forma com que o autor o manipula, enquanto nos apresenta aspectos do acontecimento sem se importar com uma ordem cronológica enquanto transita entre causa (mesmo que esta seja inconsciente) e efeito (literalmente como um reflexo temporal).

“[…] e, para aqueles pais orientados erroneamente durante muitos anos pelo anêmico relativismo dos que se autoproclamam peritos em matéria de assistência às crianças […]”

Enquanto isso, as monótonas reuniões do comitê de leitura, organizado pelo governo, para orientar as políticas sobre cuidados com a saúde e educação das crianças inglesas passam a ser para Stephen uma forma de afastar os constante pensamentos sobre o trágico acontecimento e, é claro, que será inserido como forma de crítica ao criar um contraste entre o papel do Estado como orientador e a realidade das famílias, o que da um tom irônico à todas as discussões ali abordadas.

Um personagem importante para a história é o excêntrico Charles Drake, que servirá como uma ponte entre o primeiro-ministro e um amigo por quem está apaixonado. Entre muitas características de sua personalidade, o autor expõe questões interessantes como a loucura, a bipolaridade, a forma contida com que os ingleses tratam suas emoções, o papel das ciências dentro da sociedade e diversos outros, sendo o mais importante: a impossibilidade de reverter decisões.

Em alguns momentos o ritmo de leitura é lento e as transições entre passado e presente através de flashbacks podem fazer com que isso seja mais perceptível, no entanto, se pudesse dar um conselho seria: não desista! Dizer mais do que isto é comprometer a experiência pessoal de cada um com a obra, uma vez que somos provocados a reflexões internas e a cutucar feridas das quais não queremos nos lembrar. Se pudesse escolher apenas um ensinamento para carregar após a leitura seria o de que o tempo pode ser um alento por vezes, mas também pode ser um inimigo cruel caso não reflitamos antes de tomar decisões.

A CRIANÇA NO TEMPO

Autor: Ian McEwan

Editora: Companhia das Letras

Ano de publicação: 2018

Stephen Lewis, escritor bem-sucedido de livros infantis, se depara com a maior agonia de um pai: Kate, sua filha de três anos, desaparece sem deixar rastros. Numa imagem terrível que se repete ao longo dos anos seguintes, ele percebe que a garota não vai voltar.Com ternura e sensibilidade, Ian McEwan nos leva ao território sombrio de um casamento devastado pela perda de um filho. A ausência de Kate coloca a relação de Stephen e de sua esposa Julie em xeque, enquanto cada um deles enfrenta à sua maneira uma dor que só parece se intensificar com o passar do tempo. Em A criança no tempo, o celebrado escritor Ian McEwan esmiúça as consequências irreparáveis de uma tragédia familiar e adentra um universo tomado pelo vazio, pelo luto e pela culpa. Um romance surpreendente de um dos mais aclamados ficcionistas da atualidade.

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