Publicado originalmente em 1951, Origens do Totalitarismo é um livro de ciência política publicado pela alemã Hannah Arendt com edição no Brasil pela Companhia das Letras em 2012.

Sobre o Livro

Tentando compreender as origens de um movimento totalitário que assolou boa parte do século XX, Hannah Arendt apresenta, em uma análise cientificista em âmbito político, partindo da história humana, os elementos que originaram o que conhecemos hoje como totalitarismo.

“Por que os judeus e não outros?’ De maneira simplória: eterna hostilidade.”

Nos conduzindo pelo crescimento do antissemitismo, das ambições da Revolução Industrial que permitiu o surgimento do imperialismo e as construções autoritárias das nações, junto a elas o nacionalismo extremista e as políticas externas cada vez mais conturbadas e fragmentadas em diferentes polos como a Alemanha Nazista, A Itália Fascista, os EUA capitalista e a URSS socialista, Hannah Arendt não deixa de nos emergir para a realidade de sua época: um século remexido pelo ódio, pela perseguição e pela desumanidade.

Minha Opinião

Sendo de autoria de uma mulher, judia e alemã, este livro nos chama atenção ainda mais. Arendt, uma importantíssima cientista política, escreveu este livro como um verdadeiro dicionário histórico para podermos entender o por quê que o século de nossos antepassados foi tão conturbado a ponto de provocar as duas maiores guerras conhecidas pela humanidade, sucessivos conflitos regionais posteriores a estas guerras, perseguição em massa a grupos específicos como judeus, homossexuais, negros, etnias minoritárias e por aí vai. Arendt especificamente desenvolveu, neste livro, a compreensão sobre o surgimento do antissemitismo e como ele foi importante como política de Estado dos nazistas.

Pontuando detalhadamente a construção do antissemitismo, ela pôde fechar seu argumento com a construção do terror. O que é o terror? E por que ele se torna importante para a política de um Estado totalitário? Além destes pontos que ela vai correlacionando ao longo do livro, Arendt nos apresenta também as contraposições entre o totalitarismo fascista e nazista com o totalitarismo soviético.

Em lugar de serem definidos por nacionalidade e religião, os judeus se transformavam num grupo social cujos membros compartilhavam certas qualidades e reações psicológicas, das quais a soma seria, supostamente, a ‘condição de judeu’. Em outras palavras, o judaísmo passou a ser uma condição psicológica, e a questão judaica se tornou um complicado problema pessoal para cada judeu individualmente.”

Dividido em três partes de análise, onde contempla a primeira sobre o antissemitismo, a segunda sobre o imperialismo advindo da política racial e por fim os elementos compositores do totalitarismo em sua última e conclusiva parte.

O que podemos por a questionar sobre as análises de Arendt é justamente o que corresponde como ”atual” para ela. Sabendo que o livro foi escrito em 1951, o atual contido no livro não é o atual dos tempos de hoje.

Arendt escreveu o livro momentos depois da Segunda Guerra Mundial. Imagina-se: países arrasados, judeus dizimados, muitas mortes, muitas dores, um conflito latente e crescente entre os EUA e a URSS, o surgimento das primeiras massas de refugiados na história da humanidade oriundos das perseguições soviéticas e por fim o imperialismo ainda presente principalmente no continente africano, alimentando o racismo que está presente nos dias de hoje. Sendo assim, para ela, os dias de ”hoje” são conturbados. São incertos. E ainda caminham para o totalitarismo. Porém, e os nossos dias de hoje? O século XXI?

Dois novos mecanismos de organização política e de domínio dos povos estrangeiros foram descobertos durante as primeiras décadas do imperialismo. Um foi a raça como princípio da estrutura política; o outro, a burocracia como princípio do domínio exterior.”

Seria interessante se ela ainda estivesse viva. Podemos perceber que o mundo de hoje no qual vivemos, especificamente a partir de 2010, não vemos as mesmas perseguições aos judeus. Ao contrário, vemos judeus perseguindo islâmicos no conflito Israel-Palestina e muitos cristãos, principalmente líderes como atual presidente dos EUA, Donald Trump, se alinharem com os judeus, construindo uma pacífica amizade por cooperação. E ao mesmo tempo, vemos uma perseguição cada vez maior entre cristãos (outrora perseguidores dos judeus) e islâmicos. Os dias atuais são outros e cabe uma nova análise para entendermos como o mundo mudou e por que. Mesmo com o passado histórico perturbado, ainda perseguimos uns aos outros.

É, de fato, um livro essencial para entender a construção de uma perseguição. Apesar de ser maçante e detalhista, a forma que Arendt nos apresenta os fatos são como ambiciosas narrações literárias. Que fique a dica aqui para aqueles que desejam se aventurar na complexidade histórica de nossas ações.

ORIGENS DO TOTALITARISMO

Autor: Hannah Arendt

Tradução: Roberto Raposo

Editora: Companhia das Letras

Ano de publicação: 2012

Origens do totalitarismo tornou-se um clássico logo depois de sua publicação, e até hoje a obra é considerada a história definitiva dos movimentos políticos totalitários. Hannah Arendt primeiro elucida o crescimento do antissemitismo na Europa Central e Ocidental nos anos 1800 e prossegue com a análise do imperialismo colonial europeu desde 1884 até a deflagração da Primeira Guerra Mundial. A última seção discute as instituições e operações desses movimentos, centrando-se nos dois principais regimes totalitários da nossa era: a Alemanha nazista e a Rússia stalinista. Arendt considera a transformação de classes em massas, o papel da propaganda para lidar com o mundo não totalitário e o uso do terror como fatores essenciais para o funcionamento desse tipo de regime. E no brilhante capítulo de conclusão, ela avalia a natureza de isolamento e solidão como precondições da dominação total. “Um formidável instrumento de análise, aqui e agora, para desvendar os elementos de autoritarismo, de opressão, que sobrevivem no liberalismo dos regimes democráticos ou no socialismo que se liberaliza.” – Paulo Sérgio Pinheiro “A incisiva e inesgotável sugestividade do abrangente pensamento de Hannah Arendt torna este livro […] ponto de referência indispensável para a reflexão político-filosófica no mundo contemporâneo.” – Celso Lafer

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