As Mil Noites é da autora E. K. Johnston, e foi trazido ao Brasil em 2016 pela editora Intrínseca.

Sobre o livro

Em um lugar cercado por areia as jovens passam por tempos difíceis. Lo-Melkhiin, governante do povo, tem retirado as garotas mais bonitas e casado-se com elas somente para algumas horas ou dias depois, aparecerem mortas. Para tentar amenizar os efeitos disso e manter o governo em ordem, foi organizada uma “rota de colheita”, onde o governante teria que passar por todas as aldeias e distritos antes de retornar novamente a uma já visitada.

“Quando as anciões da aldeia viram o brilho das armaduras de bronze em meio à nuvem de areia e ouviram o galopar acelerado dos cavalos sob o sol, quando o vento balançou a trança de minha irmã e soltou alguns fios, como se também temesse perdê-la, eu já tinha um plano.”

Quando sua caravana está se aproximando de uma determinada vila, uma jovem tomará uma medida drástica para salvar a irmã. Ela veste o dashsashah mais bonito, se pinta e arruma o cabelo, e ao ver a aproximação de Li-Melkhiin se põe a frente, para ser a escolhida.

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Levada então ao Qasr, sede desse homem, a jovem terá de achar forma de se manter viva e entender a estranha magia que parece correr entre seus dedos toda vez que Lo-Melkhiin a toca. Cercada de pessoas que ela não conhece, uma fina trama começa a ser trançada através do tear e da fá daqueles que passarão a admirar seu sacrifício.


Minha Opinião

As Mil Noites, como o nome já sugere, é uma adaptação do original das Mil e Uma Noites. Quando ele foi anunciado eu me perguntei porque precisávamos de mais um, já que A Fúria e a Aurora, livro com a mesma pegada, havia sido lançado a pouco. Eu protelei a leitura e só me empolguei pra ler depois que me certifiquei que as histórias seguiam rumos diferentes e que o comum entre elas era apenas a inspiração.

As Mil Noites não é um livro sobre romance, como o outro é. Essa é uma trama voltada na magia e no desenvolvimento das lendas que giram ao redor desse homem horrível que assassina suas esposas de forma inexplicável. Lo-Melkhiin é considerado um monstro, mas por fazer seu povo prosperar, suas ações passam sob vista grossa de todos ao seu redor.

A grande curiosidade sobre o livro é que os personagens não possuem nome. É a garota, a irmã, o pai, a mãe, a mãe da irmã, a senhora da cozinha, a mãe do de meu marido e assim por diante. O único que tem um título é Lo-Melkhiin. Mas a trama não fica confusa por isso de forma alguma e só me dei por conta que absolutamente ninguém tinha nome quando li os agradecimentos da autora e ela menciona o fato lá.

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O livro começa do ponto de vista de algum ser misterioso, ele está contando sua história e mirando em sua vítima. Essa criatura é a responsável pela crueldade do Rei, que era um jovem gentil e muito inteligente. Ele saia em caçadas por lugares inusitados para buscar leões, já que sua mãe tem um fascínio enorme pelos animais. E, um dia, ele voltou muito diferente. Alguns dizem que algo no deserto o mudou, outros que ele foi possuído por um demônio e ao longo da trama teremos alguns capítulos sob o ponto de vista dessa criatura.

A protagonista se ofereceu para salvar a irmã, mas não sabia bem onde estava se metendo. A irmã na verdade era só meia, já que o pai mantinha duas esposas e a mãe dela não era a mesma sua. Porém, se a outra fosse escolhida a mãe dela ficaria desamparada, já que o casamento da menina é que garantiria um lar pra ela. Já ela tem outros irmãos e sua mãe não sofreria.

Aqui, não há assassinatos públicos ou enforcamentos. As jovens apenas amanhecem ao lado de seu marido com sua vida completamente sugada. Somente ossos. Ninguém sabe explicar e ninguém ousa perguntar a Lo-Melkhiin o que acontece. Quando a jovem é tocada por ele, coisas estranhas acontecem. Há fios brilhantes em roxo, negro e cobre cruzando suas mãos e ela logo descobre que o tom mais terra é a sua energia, enquanto as outras cores pertencem a ele. Notando isso, ela fica intrigada sobre o que é, qual a importância disso e o que ela pode fazer com tal coisa.

“Se não tinha medo do senhor do qasr, não teria medo de nada.”

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Ela é resignada e corajosa sem perder o foco. Entende que está em perigo o tempo todo, mas fica de ouvidos abertos para absorver as informações e tirar proveito do que sabe, para se manter viva. Não é uma visão apaixonada. Há praticamente zero romance no livro. A protagonista tinha o objetivo de salvar a irmã e, feito isso, mira agora em sobreviver e vencer o monstro custe o que custar, afinal a morte dela é sua única certeza.

Enquanto isso está acontecendo no Qasr, há uma história de background acontecendo. Além dos Deuses habituais, as famílias podem adorar pessoas “normais” após a sua morte. Alguém especial ou que fez algo significativo dentro de uma comunidade ou lar. Pra essas pessoas criam-se santuários e seus devotos passam a adorá-los. Há um questionamento sobre o peso que esse tipo de religião tem sobre as pessoas.

A irmã salva da protagonista toma pra si uma missão: ela vai transformar a irmã em algo a ser adorado. Com seu sacrifício como ponto inicial, algo começa a nascer no vilarejo e em todos que passam a ouvir a história. Nunca alguém vivo foi adorado da forma como a irmã deseja que ela seja e isso incitará um outro ponto da história que é até mais interessante que o central.

“Ela não morreu, e me perguntei se eu poderia finalmente ter encontrado uma rainha por quem eu atearia fogo no deserto.”

Lo-Melkhiin é uma incógnita. Sabemos que há algo errado. Sabemos que há alguém no controle e ouvimos as histórias. Um bom jovem, amoroso com a mãe. Um pai que não governava bem, mas um reino que na mão do filho prosperou. Uma mudança drástica de comportamento e o medo. É como se houvesses duas faces e nós enquanto leitores precisamos formular duas opiniões para acompanhar o desenvolvimento desse personagem que é muito difícil de conhecer. Em todos os sentidos.

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Há três coisas importantes aqui pra se prestar atenção: essa manifestação religiosa de culto, o ser que é Lo-Melkhiin e os fios de magia que se manifestam. São pontos diferentes que se conectam e dão um aspecto único a história, mesmo ela não sendo totalmente original. E, considerando todos esses aspectos, caso você tenha lido A Fúria e a Autora ou tenha visto as resenhas, é possível notar claramente o quanto elas são diferentes.

Eu gostei bastante da leitura, ela é rápida e o livro é curto, porém isso também gerou algo negativo. O final acontece rápido e apressado demais. Faltam 50 páginas pro livro acabar e não há sinal do que o final vai realmente ser, e, de repente, tudo é posicionado, a ação acontece e o livro chega ao fim. Por um momento me perguntei se haveria continuação, pois não parecia possuir páginas suficientes para desenvolver o que precisava. A resolução veio, mas a pressa com que ela chegou deixou suas marcas na história. Pra mim, um pouco mais de cadência no final teria favorecido a trama e poupado o leitor de terminá-lo com tamanha pressa.

A autora, Emily Kate Johnston é uma arqueóloga forense e foi seu período na Jordânia que a fez se apaixonar pelo deserto. O ambiente era bastante desconhecido pra mim até meados do ano passado, quando encarei alguns livros que tinham esse mesmo background e acabei por me apaixonar pelo cenário. Esse foi meu primeiro contato com E. K. e espero que ela escreva outros livros para que possamos seguir acompanhado suas histórias.

Eu me apaixonei com a história das Mil e Uma Noites com outro livro e me reencantei com esse aqui. Já até adquiri a obra original pois quero conhecer a história em sua totalidade. Se você gosta de histórias nesse contexto ou cenário, dê uma chance para As Mil Noites. É um livro curto, único e que tem uma boa história pra contar.

 

AS MIL NOITES

Autor: E. K. Johnston

Editora: Intrínseca

Ano de publicação: 2016

Clássico da literatura universal, as histórias de As mil e uma noites estão no imaginário de todos — do Oriente ao Ocidente. É impossível que alguém nunca tenha ouvido falar sobre Ali Babá e seus quarenta ladrões, ou sobre Aladim e o gênio da lâmpada. Ou sobre Sherazade, a mulher sagaz e inteligente que se casou com um homem cruel, e, por mil e uma noites, driblou a morte narrando contos de amor e ódio, medo e paixão, capazes de dobrar até mesmo um rei. Em As mil noites, a história se repete, mas com algumas diferenças…
Quando Lo-Melkhiin chega àquela aldeia — após ter matado trezentas noivas —, a garota sabe que o rei desejará desposar a menina mais bela: sua irmã. Desesperada para salvar a irmã da morte certa, ela faz de tudo para ser levada para o palácio em seu lugar. A corte de Lo-Melkhiin é um local perigoso e cheio de beleza: intricadas estátuas com olhos assombrados habitam os jardins e fios da mais fina seda são usados para tecer vestidos elegantes. Mas a morte está à espreita, e ela olha para tudo como se fosse a última vez. Porém, uma estranha magia parece fluir entre a garota e o rei, e noite após noite Lo-Melkhiin vai até seu quarto para ouvir suas histórias; e dia após dia, ela continua viva.
Encontrando poder nas histórias que conta todas as noites, suas palavras parecem ganhar vida própria. Coisas pequenas, a princípio: um vestido de seu lar, uma visão de sua irmã. Logo, ela sonha com uma magia muito mais terrível, poderosa o suficiente para salvar um rei.

<!– FIM DO CÓDIGO DO BOX SINOPSE —>

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