Recentemente chegou ao catálogo da Netflix um filme que apostou em uma abordagem diferente para tratar de críticas sociais e passar sua mensagem sociopolítica adiante. Estou falando de A Gente se Vê Ontem, uma produção de Stefon Bristol e Fredrica Bailey.

Os dois jovens estudantes, Claudete “CJ” Walter (Eden Duncan-Smith) e Sebastian J. Thomas (Dante Crichlow), são fascinados pelo mundo da ciência e suas “bizarrices”. Para o projeto de final de ano da escola, eles estão mais que convencidos a criar uma verdadeira e funcional máquina do tempo. Duas mochilas protótipos foram feitas, mas no primeiro teste acabam falhando. Mesmo assim eles não desistem e continuam pesquisando uma forma de fazer dar certo. Até que a morte do irmão de CJ, Calvin Walker (Brian Bradley), “acidentalmente” baleado por um policial, abala de vez a vida desses dois personagens e define então o tom da narrativa.

O que mais se destaca no longa é como ela usa da Viagem no Tempo, este artifício já bem conhecido no cinema, para discutir racismo, misoginia e ética social. Além disso, o elenco formado quase que totalmente por atrizes e atores negros já deixa evidente o peso que estas questões terão.

Muitos filmes já exploraram a viagem no tempo para debater a ética e consequências de se alterar o passado. Mesmo que os responsáveis tenham boas intenções, quase sempre acabam por fazer mais estragos do que correções (Efeito Borboleta é a prova disso). Entretanto, quando se envolve uma motivação pessoal, é difícil deixar ética falar mais alto. Se você pudesse alterar um evento do passado e salvar um familiar seu, o que você faria? Este é o grande dilema da protagonista.

A perda do irmão implica em uma cadeia de eventos ruins em sua família. Sua mãe não come a dias, familiares e amigos se fecham em seus pesares, enquanto que na sociedade o caso volta à tona, evidenciando como os negros ainda são discriminados por pessoas brancas, sobretudo se estes são policiais. Uma pesquisa rápida na internet mostra que casos parecidos ao demonstrado pelo filme são bem frequentes nos EUA.

Infelizmente, na vida real muitos jovens negros morrem todos os dias vítimas de perseguição, de tortura ou até mesmo de “enganos”. Pior ainda é saber que para eles, não tem como voltar no tempo e desfazer o estrago. O que foi feito fica permanente, imutável. Para os familiares, fica a dor, a tristeza e a esperança de que um dia possam viver sem risco atrelado à sua cor de pele.

A viagem no tempo do filme só deixa mais evidente a luta constante que a comunidade negra vem enfrentando. Cada vez que CJ tenta mudar o passado e falha, ela sente uma dor enorme por ver que suas tentativas nunca mudam as coisas de forma significativa. Algo sempre sai dos trilhos, e ela volta uma vez, volta duas, volta cem, mas há sempre uma barreira entre sua jornada e o sucesso.

O final é um tanto em aberto, o que sugere que o expectador precisa usar a imaginação para concluir sobre tudo o que viu e se algo que foi feito realmente surtirá efeito. É um filme que trabalha de temas pesados, mas essenciais de serem discutidos atualmente, dando voz àqueles que por tanto tempo foram calados e subjugados pela sociedade.

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A Gente se Vê Ontem

Diretor: Stefon Bristol

Elenco: Eden Duncan-Smith, Danté Crichlow, Brian Bradley, outros.

Ano de publicação: 2019

C.J. e Sebastian são dois melhores amigos adolescentes muito talentosos no mundo das ciências. Quando o irmão mais velho de C.J. é assassinado injustamente pela polícia, os dois constroem uma máquina do tempo para voltar ao passado e tentar evitar a tragédia que aconteceu.

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