Lexi

Quem disse essa frase super verdadeira não fui eu, foi  a Roseana Kligerman Murray, escritora altamente reconhecida por suas obras infanto-juvenis. Talvez ela tenha dito isso pensando em agradar as crianças e não para descrever os gatos de forma literal, porém, pra mim são assim que eles são.

Minha vida toda tive gatos, minha irmã também é doida por eles e, sinceramente não consigo entender como há pessoas que não gostam, ou são capazes de os machucar.

Quando eu era criança minha vizinha tinha dois gatos siamês, um macho e uma fêmea. Fazia anos que eles moravam ao lado da minha casa, até que um belo dia resolveram se mudar e, consequentemente, levaram os bixanos junto. Não sei se deu dois dias lá estava a Xaxá, graciosa e carente, de volta.

Xaxá era uma gata de meia idade, que já tinha dado cria a muitas ninhadas e tinha o rabo quebrado. Uma nova tentativa foi feita, levaram ela novamente embora, mais alguns dias lé estava ela novamente. Convencidos de que não fariam ela se adaptar a casa nova resolveram deixar ela sob os meus cuidados. Eu como uma criança marota que era, adorei a ideia, e aos poucos, fui introduzindo a Xaxá, nas graças dos meus pais e da casa.

Ela teve mais umas três ninhadas, enquanto estava comigo. De uma delas eu peguei a Hécuba (consulte a mitologia grega – eu era muito ligada nisso), já pensando que, em breve a minha/não tão minha miau iria falecer, mas ela não durou muito e desapareceu. Acho que a Xaxá ficou comigo uns 5/6 anos e, um dia foi atropelada. Eu fiquei triste, óbvio, porém ela já tinha me abandonado, estava morando com outra vizinha, porque minha sobrinha de 2 anos tinha vindo morar com a gente e ela amolava muito ela, o que a fez levantar acampamento.

Depois disso fiquei um tempão sem gatos, meu pai dizia que não queria, que quando eles morriam a gente sofria muito, e que não valia a pena. Ele estava enganado.

Em janeiro de 2008 o Negrinho apareceu, foi um presente, e como o nome bem diz, era todo pretinho, mimoso e fofo. Em 2011 ele teve Síndrome Urológica Felina e morreu. Dai sim eu sofri, foi como se tivessem arrancado um pedaço de mim, pois tentei de tudo, operei, fiz sonda, dei remédios mil, várias consultas ao veterinário e, mesmo assim, ele não se salvou. Acho que fiquei vários dias sem dizer uma palavra e dai, veio a velha história do “não teremos mais gatos”. O fato curioso sobre a morte do meu Negrinho é que ele morreu no mesmo dia da Amy Winehouse, 23 de julho, eu era fã dela também, o que potencializou a dor, já que a trilha sonora da dor havia sido definida.

Um pouco mais de uma ano depois, saí de casa. Tinha me formado e mudei de cidade atrás de oportunidades melhores. Quando me mudei para o apartamento onde iria morar sozinha a solidão bateu e a primeira coisa que pensei era que precisava de uma companheira.

Dizem que o bicho é que escolhe o dono e não ao contrário, pois bem, eu queria uma frajola, fêmea, fiquei sabendo de uma ninhada, que estava sob os cuidados de uma menina, haviam três machos e duas fêmeas. Dia 03/11/2012 eu fui olhar os miaus e veja só, só tinha restado uma gatinha, assustada, pisando cautelosamente na grama dentro de uma pequena jaula. Era ela, tinha que ser, estava esperando por mim. Não demorou muito para eu entender o porquê. Ela é uma fera. Não sei se há outra forma de descreve-la. Ela não para um segundo e é brava como um tigre. Se bota, morde, aranha, sem nenhuma cautela, ou respeito, animalescamente falando.

LexiÁs vezes ela me irrita, muito. Eu saio para trabalhar e quando volto o apartamento está de pernas pro ar. Já foram muitos rolos de papel higiênico, pratos, comidas violadas, lixos virados, areias espalhadas pela casa, coisas derrubadas, guarda-chuvas furados, roupas arrancadas do varal, sacolas mastigadas. E, é claro, toneladas de pelos.

Mas, para compensar tudo isso há o amor. O amor de olhar aquela bolinha de pelo furiosa e saber que ela vai estar sempre lá me esperando e que eu voltar pra casa é o ponto alto do dia dela. Ver ela deitar nos meus pés e virar de barriga pra cima para ser coçada não tem preço. Quando a solidão ou a tristeza batem na porta é só olhar pra ela que tudo melhora. Ela judia de mim eu judio dela, é a lei da nossa convivência. Não é judiar de bater ou machucar, é um judiar com amor. Pegar, apertar, amassar, enrolar na coberta, pegar no colo (ela odeia), e apertar, apertar mais um pouco e um pouquinho mais. Ver ela sair correndo e voltar pedindo mais. E o ronronar, não há ruído que me traga mais alegria.

É, gatos são como poemas ambulantes, pelo menos na minha vida.

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