Em 2001 a editora Marvel Comics resolveu aproveitar os relançamentos e novos rumos editoriais para impulsionar uma série de mudanças nas histórias e personagens da editora.

Os X-men deixam de usar colantes coloridos seguindo a onda do filme de Bryan Singer ao ponto que  surge a linha Max com o intento de trazer um tom mais adulto e com isso maior liberdade editorial. Ao contrário, porém da distinta concorrente com seu selo Vertigo, a intenção do selo Max não é de trazer efetivamente séries novas, autorais e com propósito adulto. O selo Max traz histórias de super heróis falando palavrões, usando de violência mais gráfica e fazendo sexo, e, sim, essa é a proposta mais idiota que alguém possa imaginar.

É uma muleta bastante ridícula para títulos como Viúva Negra ou Doutor Estranho, que acaba com histórias patéticas e pouco interessantes. No caso do imaginativo e prolixo Brian Michael Bendis (na época nem tanto prolixo, mas hoje já passou por Vingadores, X-men, Demolidor, Homem Aranha e a lista segue…), porém, a coisa pende um pouco melhor.

Começa como os outros ridículos títulos do selo (com muitos palavrões despropositados – inclusive a primeira palavra, da primeira página já é um – e cenas de sexo que nada ou pouco acrescentam para o contexto maior da história), mas são os bons elementos, as boas sementes plantadas aqui e ali que o brilhante argumento de Bendis vai construindo, a começar pela espetacular sacada.

Alias traz a história de Jessica Jones (sim, sim, o mesmo nome da personagem a ganhar série pelo Netflix nesse novembro, não por coincidência), detetive particular que, por um acaso, foi uma super heroína anos atrás, inclusive frequentando os círculos dos maiores heróis da Terra, os Vingadores. Agora aposentada dos uniformes coloridos ela busca uma atuação bem mais cotidiana, ainda que siga os mesmos moldes de um Philip Marlowe (de Raymond Chandler, nascido no livro ‘O Sono Eterno’ que inspirou o filme ‘O Grande Lebowski’) ou qualquer outro detetive noir. Ela flerta pelos mundos perigosos e cantos escuros em busca de informação para seus clientes, e é o charme do texto de Bendis que a torna acessível, humana – e justamente por isso, falha e falível. Jessica é auto-destrutiva, bebe demais e com alguma frequência faz coisas das quais se arrepende… Nas mãos de outro autor, seria um dramalhão, com Bendis é uma ótima leitura.

O primeiro volume não é o melhor que a série tem a oferecer, mas já é um bom começo, apresentando protagonista e coadjuvantes além do universo maior a que pertencem. Como é meu costume não fazer spoilers do material, destaco que ainda que o mistério em si deste volume seja um tanto bobo em sua resolução (mais digno de Scooby Doo que de Sherlock Holmes, se me permite), vale pelo desenvolvimento, pelas brilhantes sacadas dos diálogos e ótima construção de cenas.

Informações bibliográficas:

Alias vol 1 (Marvel Comics, originalmente publicado em Alias 01-09 em 1991. Republicação pela Marvel Comics em 2015 como ‘Jessica Jones: Alias’). 208 páginas.
Roteiros: Brian Michael Bendis.
Arte: Michael Gaydos

Nota: 8,5/10

 

E para quem quiser acompanhar a série que estreou hoje, 20 de novembro, no Netflix, segue o trailer do que promete ser mais uma grande aposta do serviço de streaming.

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